sábado, 5 de maio de 2007

O HERÓI QUE NÃO VENCIA




Em que tipo de herói você se apoia?

Para começar: o que é um herói em seu modo e pensar? É aquele sujeito truculento, que fala pouco, bate muito e derrete o coração das beldades de Hollywood? Seu herói tem ossos de adamantium, visão de raio X, ou vive na bat-caverna, tendo em torno de sua figura um roteiro eletrizante, um show de efeitos especiais e um orçamento de centenas de milhares de dólares?
Você acredita que para boa parte dos japoneses o herói seja o Yokozuna, alguém como Asashoryu? Se o sujeito não impressiona com seus 1,84 m de altura, certamente chama a atenção pelo peso: 146 kg! Com o título de Yokozuna (ou “campeão supremo”), o lutador de sumo de apenas 25 anos foi condecorado com uma tsuna (faixa que simboliza o seu status) e um tope de fita, que leva 20 minutos para ser amarrado na cabeça. Ele detém o título. É o campeão supremo. [1]
Curiosamente, nós também admitimos heróis bizarros. Ana Paula Sousa, em recente artigo, fez algumas considerações muito válidas sobre fama e heroísmo:

A origem da fama, no Ocidente, é a Guerra de Tróia. Aqueles heróis exemplares, na definição de Olgária Matos, eram homens que, por um gesto heróico, se tornavam eternos e, assim, driblavam o esquecimento que a morte acarreta.
O conceito de fama hoje em voga remonta às décadas de 50 e 60 do século XX. Até a aparição da chamada cultura pop, havia, para além do heroísmo, as figuras ilustres, sempre ligadas a alguma atividade. “Era o grande político, o grande intelectual, o grande artista. Você ainda tinha a idéia do grande. E grandes são aqueles sem os quais o mundo seria incompleto”, esclarece Olgária. Imagine, portanto, o que seria do mundo sem Luciana Gimenez, Adriane Galisteu e Kleber Bamban, ex-Big Brother, digno de menções pelos feitos do último carnaval.[2]

Recentemente Recebi um e-mail intitulado “Quem são nossos heróis?”

“E agora vamos falar com os nossos heróis...”
Saudação (infeliz) usada por Pedro Bial ao se dirigir aos participantes do programa Big Brother Brasil:
Se alguém se encontrar com ele, pergunte-lhe, por favor, qual a definição de “herói” no dicionário dele...
No meu, Herói é uma coisa muito diferente…

A mensagem segue listando o nome de médicos e educadores e demais voluntários, como Vanessa Remy-Piccolo, Martial Ledecq, entre outros, que atuam no programa “Médico sem fronteiras”, em lugares carentes do mundo. Que contraste entre esses heróis e o heroísmo ánartro de um participante da “casa”.

Um herói agrega valores à sua imagem. E os heróis da mídia, que tipo de valores transmitem? Veja esta interessante análise:

Para Miriam, o sucesso de Alemão, o vencedor do BBB7, se explica pelo fato de ele ter se destacado para o público em situações como a que defendeu Íris dos comentários agressivos do grupo ou quando se arrependeu por ter dado um beijo em Fani confessando que gostava mesmo era da ‘caipira’. Sem falar que infidelidade é um assunto com o qual o espectador se identifica. De acordo com Miriam (que em sua pesquisa – no mundo real – concluiu que 60% dos homens e 40% das mulheres são infiéis), a identificação acontece não só com o traído, mas também com o que comete a traição. “Dhomini está aí para comprovar”, lembra. [3]

Alguém passa a ser herói porque as pessoas se identificam com a sua promiscuidade difundida na mídia!
Gosto deste comentário:

Quando a imaginação desvanece e os sonhos passam a ser construídos pelas imagens que a mídia fornece, o homem se esvazia, sem se dar conta disso. A tevê, com modelos acabados de famílias e vidas, é pródiga nisso. ‘Quando pensamos no papel que vem sendo exercido pela televisão, vemos que há um genocídio cultural no Brasil. Quando você se identifica com Adriane Galisteu... é complicado. E, em geral, quanto menos educação tem uma pessoa, mais sujeita a essas influências ela está. [4]

Heróis sem heroísmo algum. Com feições reluzindo por causa de holofotes, mas sem que nenhuma sombra de glória seja projetada pela luz instantânea de sua fama. Heróis que lutaram para aparecer, apenas pela emoção de aparecerem, nem precisam de um milésimo de suor para desaparecer.
Hoje os valores do heroísmo têm outro fim: comércio!

Os jogadores de futebol hoje são os novos líderes do estilo. Ao contrário das estrelas de cinema e da música, a quem eles se juntam como ícones da moda, os jogadores têm que mostrar uma combinação de disciplina mental e física que os faz genuinamente heroicos. [5]

Certo! Novos heróis, que servem para quê? Ícones da moda! Desde quando heroísmo tem que ver com marcas e passarelas?
Permita-me agora falar de outros heróis.

Algum herói já foi seu professor ou sentou-se ao seu lado na faculdade? Alguma vez uma heroína dividiu a sala de escritório com você? Existem heróis em sua família, na igreja ou no bairro?
Não estou me referindo aos heróis dos blockbusters. Nem penso nos que jogam no Barcelona, na Internacionale de Milao, no Internacional de Porto Alegre, no São Paulo ou em outros times de futebol. Eu estou pensando em heróis mais próximos.
Estes heróis diários não usam máscaras, todavia não são reconhecidos. Não têm superpoderes, e, ainda assim, salvam vidas. Não possuem treinamento suficiente para cumprir missões-impossíveis, mas possuem unção espiritual. Não podem dominar exércitos, mas conseguem algo maior: dominam a si mesmos.
Aqui temos um homem que teria tudo para ser um herói: seu abdômen foi cinzelado por um artífice milagroso. Seu cabelo ao vento, dividido em intermináveis tranças, flutua aerodinamicamente. Seus olhos são astutos, sua língua capaz de proferir trocadilhos que fariam um acadêmico ter matéria para uma tese em linguística. Ele é o líder capaz de fazer uma feminista se esquecer por um momento de que os homens não prestam – ou que, ao menos, existem exceções louváveis! Sansão era isso tudo; no entanto…
Tem algo de errado com este herói! Tem de haver! Porque todo herói que se preze, por mais que sofra zombarias, caia em emboscadas, seja capturado, suporte torturas, ainda assim vence, não é? Você já assiste ao filme sabendo que, de alguma forma (que o enredo se encarregará de explicar) o herói será vitorioso. Todo herói vence.
Ninguém gasta seu tempo colando nas paredes do quarto o pôster do vice-campeão da Fórmula 1. Não se acham em nenhum site wall-papers dos boxeadores que apenas sofreram nocautes em sua carreira. Aos vencedores, as batatas. Aos perdedores, coitados!, nem lhes restam os quiabos!
Porque Sansão é um perdedor, se têm tantos atributos? Arthur E. Cundall responde essa difícil questão quando sintetizou a vida de nosso herói:

[…] Todos os juízes foram individualistas; a maior parte deles tinha falhas de caráter. […] num grupo de indivíduos com características próprias, Sansão coloca-se numa categoria à parte. Embora dotado pelo Espírito do Senhor, e dedicado a um voto vitalício de nazireu, sua vida parece girar ao redor de relacionamentos ilícitos com prostitutas e mulheres de vida livre. […]Sua história é triste, pela falta de disciplina e de verdadeira dedicação, enquanto o leitor fica imaginando o que poderia Sansão ter feito se seu enorme potencial tivesse sido marcado e temperado por estas qualidades mentais e espirituais. [6]

Bingo! Você percebe? Seu potencial é promissor, o momento é bom, Deus lhe deu condições, mas… Sansão não vence. Um herói que não vence.
Ok, pare um pouco neste exato momento: quero refletir sobre os motivos que atrapalharam Sansão de vencer. E, aonde quer que você estiver lendo isso, numa cadeira reclinável em seu escritório ou mal acomodado nos assentos do metrô, pense se as causas do fracasso de Sansão também não coincidem com as de seus fracassos.

Trecho do livro Paixão Cega (que pode ser adquirido aqui)

[1] National Geografic Brasil, Julho 2006, p. 19.
2 Ana Paula de Souza, “Fama para todos”, Carta Capital, Março de 2007. Extraído de . Acesso: Mar. 14 de 2007.
[3] Disponível em:
[4] Souza.
[5] Calvin Klein, citado por Isto É Gente, 8 de Maio de 2006, Ano VII, n° 350.
[6] Arthur E. Cundall e Leon Morris. Juízes e Rute – Introdução e comentário.  Sociedade Religiosa Vida Nova, São Paulo. 1ª edição: 1986, Reimpressões: 1992, 2006.


Um comentário:

70 anos de para o alto e avente disse...

ser um heroi nao é nada facil ,
poriso nos devemos ser fiel a DEUS
ser forte a ti mesma .
ser um heroi sera que é ser um homem corajoso?
sera que todos os homem tem que ser heroi do mundo?
poriso eu confio em DEUS,eu posso nao ser um heroi do mundo mais sim uma menina que confio na busca de DEUS...