quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A ESPADA DAS ÁGUAS


O desgosto amargando o cenário acompanhado, cenário transtornado pela presença de elementos malévolos, o desgosto sendo, portanto justificável, e cada vez mais, a medida em que o homem desdenhava da instituição do matrimônio,e fundamentava a existência em prazeres e disputas, luxúria e altivez, em toda parte o pecado atingindo tais e tais proporções, pelo que o desgosto de um Ser Puro encheu até a borda o cálix da Ira, Sua reação natural às manifestações humanas, Deus nada, porém, fez sem Se comunicar, tendo achado para isso alguém que O ouvisse, alguém que pudesse contatar mão-de-obra e gastar a mão em marteladas centenárias, sob risadas desmerecedoras, alguém assim de fibra e fé, honesto para consigo em meio ao chamado do Eterno, e Deus, fazendo desse alguém Seu instrumento, preparou as circunstâncias para o juízo de um mundo desenfreadamente fadado à enormidade de seus crimes, preparo de cento e vinte anos, culminando no dia em que o Seu alguém entrou na estrutura naval que construíra, os animais levados pelos anjos também entraram e a porta fechou-Se, pena do mundo do lado de fora, trespassado por temores e expectativas arrepiantes, ouvindo, em princípio, os gêiseres, e as primeiras gotas de chuva da História, e isto simultaneamente na face de toda a Terra, Deus sofrendo pelos filhos que amava, embora a rebeldia deles os levasse para longe de Seus braços paternais, e houve relâmpagos, e coriscos, e raios, e trovões, e luzes, e toda criatura vivente ouvia os alaridos em alarde de fúria e julgamento, tudo passando o mais rápido, numa Atividade catastrófica rápida e extensa, gloriosa em seu feitio, pelo que os homens reconheciam, temerosos da glória do Senhor, que tinham de prestar contas ao Criador que viam Se manifestar na chuva, chuva que cobria planícies e cordilheiras e tudo, tudo, tudo debaixo do céu, menos a barca do patriarca, a seco ele, sua família e os animais, salvos pelo Senhor, mas igualmente impressionados pelos ruídos das águas que tragavam o mundo, e os animais?, encaixotados pelo âmbar, sepultos em cálcio, os organismos sendo alterados, que tragédia!, Deus acompanhou quando o mar transportava sedimentos e organismos de áreas com menor altitude para bacias sedimentares, tudo sendo destruído, a vida, as cidades, os prédios, as esperanças, o salão que aguardava a noiva, a cova que aguardava o morto, pois que todos morriam durante o zoneamento ecológico, pobres dos animais, tal a angustiosa posição em que eram fossilizados, e o que dizer das espécimes em nado, com a cabeça puxada para trás, agonizando?, o juízo de Deus é terrível contra o pecado, avassaladora a mão do Regente contra os que infligiam Suas leis...Antigas montanhas desaparecem, surgem outras, numa somatória de ambientes erodidos pelas ondas, mas acabou, as águas baixaram, e, algumas viagens depois, a pomba trouxe o ramo verde que aguardava o seu bico faminto de novidade, vislumbrando em seu vôo dourado pelo sol do pós-mundo carcaças, principalmente de Mamíferos e pássaros, que flutuaram por mais tempo, e a arca aportou, a vida emergiu novamente e do altar subiu a fumaça de um espírito grato, certeza de que o juízo também redundou em confirmação de integridade do caráter.


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