terça-feira, 14 de outubro de 2008

ENTENDA A CRISE FINANCEIRA


Na segunda-feira passada (6/10) fiquei bastante surpreso com a entrevista de um filósofo/economista no Jornal Nacional. Ele afirmou que as pessoas não devem colocar suas esperanças e realizações em ganhos financeiros, após uma série de notícias a respeito da tragédia nas bolsas. Fiquei pensando: a Bíblia dá estes mesmos conselhos há dois mil anos, e a inspiração há pelo menos 100.

Mas você sabe como e por que as bolsas estão em colapso?

Bem, todos já vimos as matérias dos jornais que ligam a crise atual com o mercado imobiliário americano. Vamos a algumas ilustrações bastante didáticas (me perdoe se você conhece, possivelmente melhor do que eu, o mercado financeiro):

Imagine que você tem uma casa que vale R$ 100 mil. Com o passar de alguns anos, os investimentos feitos em seu bairro e a crescente procura por imóveis na sua cidade, a sua casa tem seu valor de mercado aumentado para R$ 300 mil. Não só a sua, mas a maior parte das casas do país começam a seguir um aumento de preços semelhante.

Imagine também que os bancos, em uma época de vacas gordas, possuem muito dinheiro para emprestar. Ora, dinheiro parado no banco é prejuízo para ele. Ele tem que emprestar, para gerar lucro maior do que o juro que ele paga aos depositantes (o que chama-se de spread). Como os bancos já emprestaram para quase todas as pessoas que têm emprego, com bons salários e com patrimônio (os bancos chamam estes clientes de baixo risco, risco A, etc), eles precisam procurar novos nichos de mercado.

Como não conseguem expandir seus negócios entre o risco A, por saturação, por concorrência, por falta de poder de barganha, eles começam a oferecer empréstimos para os clientes que não têm empregos tão bons, que não têm tanta renda e que não têm tantos bens em garantia. É claro, os juros para estes clientes são mais altos! Como garantia, eles hipotecam (alienam, penhoram) os bens que são objeto do financiamento, e contratam seguros sobre os financiamentos (obviamente pagos pelo devedor). Este é o famoso mercado subprime: empréstimos imobiliários de risco maior (menor qualidade do crédito).

Imagine que o Banco X resolve emprestar dinheiro para o Sr. Malazarte, profissional autônomo, sem bens imóveis (entrando no segmento subprime). Malazarte resolve comprar a casa de seu vizinho, no valor de R$ 200 mil, financiada pelo Banco X, com pagamentos ao longo de 30 anos. A casa fica hipotecada ao Banco X, ou seja, se Malazarte não pagar sua dívida, o Banco X tomará a casa dele. Mais: como você é um bom cliente, o Banco X também oferece R$ 200 mil (sua casa vale R$ 300 mil) para você, e como garantia, você hipoteca sua casa. Você aceita. Muitas pessoas no país estão fazendo negócios como este.

Os bancos têm um artifício muito comum, em todo o mundo, de vender suas dívidas. Como assim? - Eles emitem títulos no valor das dívidas e atrelados à elas (como a sua e do seu vizinho Malazarte) e criam fundos de investimento para pôr no mercado. Desta forma, eles conseguem mais dinheiro para continuar operando. Muitas pessoas e empresas compram estes títulos, em todo o país, pois o mercado está muito otimista, e a inadimplência (calote) é baixa.

Tudo corre muito bem por algum tempo, mas logo a euforia do setor imobiliário começa a arrefecer e os imóveis, de maneira geral, começam a perder seu valor. Com o passar do tempo, sua casa, que valia R$ 300 mil, agora está valendo apenas R$ 80 mil. A casa do seu vizinho Malazarte, agora vale R$ 50 mil. Mas a dívida dele, com o Banco X, é de R$ 200 mil, mais os juros, que não são poucos. Sua dívida também é parecida com a dele.

Como a situação da economia em geral está piorando, as prestações dos financiamentos começam a ficar muito altas. Malazarte deixa de pagar suas dívidas, pois raciocina: "por que eu vou pagar mais de R$ 200 mil em meu imóvel, se ele agora vale apenas R$ 50 mil? Se o Banco X quiser tomar, ok, vou poder comprar outro imóvel muito melhor, com menos dinheiro". O problema é que uma parte muito expressiva das pessoas começa a pensar assim.

O Banco X começa a executar algumas hipotecas, mas o valor dos imóveis não cobre, nem de longe, a dívida que eles geraram. O tempo e as custas judiciais consomem quase todo o valor dos imóveis. Os bancos perdem liquidez (capacidade de ter dinheiro à disposição, para honrar os compromissos e os saques). Eles começam a pedir as indenizações das seguradoras, em relação aos contratos de seguro feitos nos empréstimos. Mas as seguradoras, que contavam com um índice de inadimplência muito menor, não têm dinheiro para pagar as indenizações, e começam a falir.

Todos os títulos que os bancos puseram no mercado, baseados nas dívidas dos clientes subprime, têm seu valor extremamente reduzido, pois todos estão vendo que ninguém vai pagar por eles. Estes são os títulos podres, que você deve ter ouvido falar. Ou seja, empresas e pessoas físicas que os compraram perderam seu dinheiro. Umas pouco, outras muito. E mais: como os bancos estão à beira da falência, todos os seus papéis, inclusive as ações, começam a valer muito menos.

Se os bancos estão ruins, muito de perto segue o setor financeiro. Os valores mobiliários (ações) sofrem quedas sucessivas nas bolsas porque, assim como sua casa e a do Sr. Malazarte, não tinham valor real semelhante ao valor de mercado. O preço das ações também é dado de acordo com a oferta/procura, com o otimismo e com a confiança do mercado.

O mercado financeiro está alicerçado na confiança. Se esta está em baixa, a recessão se avizinha. Pode-se dizer que a economia mundial é um elefante se equilibrando na corda bamba.

Todas as pessoas que têm colocado sua esperança no dinheiro, nos bens, têm estado bastante preocupadas nestes últimos tempos. Mesmo investimentos "seguros" não podem ser considerados invulneráveis. Lembram o que o governo Collor fez há 15 anos atrás, congelando os depósitos dos clientes nos bancos?

Terras podem ser perdidas, desvalorizadas, tomadas, invadidas. Ações podem desvalorizar. Empresas podem falir. Onde as pessoas têm depositado suas riquezas?

Mt 6:19 "Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam;
"20 mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam."

Tg 5:2 "As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão roídas pela traça."

Texto de Alexsander Silva, postado no blog Em Defesa da Verdade

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