terça-feira, 18 de novembro de 2008

QUEREMOS QUE CONTINUE VALENDO A PENA

Depois de um período de pouca inspiração, os Arautos do Rei, o mais antigo quarteto vocal cristão em atividade no Brasil, volta com um trabalho novo. Com o sugestivo título "Vale a pena esperar", os Arautos investem na retomada de seu público.

Por enquanto, há muito pouco disponível sobre o mais novo CD do quarteto. Talvez a grande novidade seja o retorno do 2º tenor Társis Iraíldes, que compôs a última geração de referência do grupo, da qual faziam parte Dênio Abreu (1º tenor), Jeferson Tavares (barítono) e Ronaldo Fagundes (baixo). Desfeita a formação, Társis continuou cantando nos Arautos, até ser substituído por Jonatas Ferreira (em 2006).

A faixa-título do novo CD, "Vale a pena esperar", pode ser conferida abaixo, em uma gravação de razoável qualidade disponível no site Youtube. Percebe-se que a música mantém um diálogo com a conhecida canção "Chegou a hora" (2000): em ambas, ocorre uma dramatização da segunda vinda de Cristo dentro de uma concepção musical que caminha num crescente até a apoteose.

Os solistas Társis e Ozéias Reis (1º tenor, que, a título de esclarecimento, não tem nenhum parentesco com este articulista) mostram que a nova formação dos Arautos segue o padrão de quartetos contemporâneos (no qual o maior expoente talvez seja o quarteto americano Gaither Vocal Band): ênfase nos solos sincopados, com forte tom emocional e demonstração de grande alcance vocal. Ozéias, apesar de não possuir uma voz educada como a do segundo tenor, ainda assim dá conta do recado quando tem de atingir notas mais altas.

A responsabilidade por direcionar o Arautos do Rei na sonoridade contemporânea foi do maestro Jader Santos, que por 18 anos anos, assinou a produção dos arranjos e versões gravadas pelo quarteto. Ao mesmo tempo, Jader jamais se afastou completamente das origens do quarteto, que remontam ao grupo norte-americano The King's Heralds. De certo modo, à medida em que a visão de Jader tornou-se musicalmente mais progressiva, abriu as portas para que seus predecessores musicais ousassem mais, tornando os Arautos uma espécie de oficina experimental, desagradando os fãs do quarteto pelo excesso de inovação, incapaz de gerar identificação entre o grupo e seus apreciadores.

Talvez por isso o novo diretor musical do grupo, o produtor Ricardo Martins, tenha procurado seguir a trilha de Jader, aproveitando as importantes lições deixadas pelo músico. Apesar de não haver informações sobre o autor de "Vale a pena esperar", ouví-la é relembrar da fase Jader.

A preocupação em soar contemporânea pode ser positiva no sentido de procurar atingir a geração presente com a mensagem da segunda vinda de Jesus, a razão de ser dos Arautos. Ao mesmo tempo, nesta busca/resgate pela identidade, os Arautos do Rei devem, como quaisquer músicos adventista , pautar-se pela Revelação (sobretudo pelo fato do quarteto ser o único grupo oficial da Igreja no Brasil).

Isto implica não apenas na apresentação de mensagens com enfoques criativos, no que tange às letras das composições. Como a Igreja Adventista brasileira é majoritariamente jovem, a tentação é remodelar o quarteto para agradar o que esta faixa etária espera. Mas a forma de lidar com a expectativa do público não pode ser tomada como um paradigma para nenhum músico cristão. Muito menos o peso da tradição (que no caso dos Arautos, remonta aos idos de 1963). É necessário produzir focando naquilo que a nossa filosofia de adoração nos orienta a fazer. Somente desta forma, continuará a valer a pena que nossos músicos invistam seus talentos para o louvor.

Um comentário:

joêzer disse...

sou daqueles que aprecia bastante o cd "aqui é seu lugar". o silmar correia parecia ser um substituto à altura do melhor jader. pena não ter prosseguido.
após o período de instabilidade, que se dê continuidade a uma das páginas mais belas da música cristã brasileira.
admiro a voz do társis e já vi o potencial do novo 1º tenor