terça-feira, 31 de março de 2009

TRABALHO CAPRICHADO

Por José O. Filho

A profissão de professor de vez em quando brinda aqueles que a exercem com acontecimentos pitorescos. Num dia desses me ocorreu um episódio assim quando me deparei com um trabalho escolar no mínimo intrigante. O papel utilizado trazia uma decoração bem bonitinha, dessas que vêm nesses cadernos caros, que fazem a alegria dos comerciantes e o desespero e reclamação dos pais que, afinal de contas, são os que têm de pagar a conta. Era escrito com caneta de tinta de gel colorido. O cabeçalho de uma cor, o título de outra e ainda o texto propriamente dito, de outra. A letra era redondinha e caprichada. Uma beleza à primeira vista, porém além de estar repleto de erros ortográficos e de concordância, fugiu totalmente do tema proposto.

Ao receber o trabalho corrigido e com a nota correspondente, ou seja, muito baixa, o aluno reclamou de forma veemente e até acintosa, reivindicando uma boa nota com o argumento de ter caprichado na estética. Disse que o professor “teria que levar em conta o capricho”.

Tal fato me levou a refletir no valor da aparência para a nossa sociedade. Nossos jovens estão sendo levados a, desde cedo, priorizar a aparência. O que vale é como me apresento, o que estou vestindo, usando, consumindo, enfim, ostentando e não o que realmente sou. E esta ostentação de que falo não é somente de coisas luxuosas. Existem vários níveis de ostentação. Desde mostrar aos amiguinhos uma caneta diferente, um celular, um brinquedo... Na verdade, todos nós gostamos de ser notados e sobressair em meio aos que nos cercam. Estão aí os programas de reality show, que não me deixam mentir. Mas quando esse exibicionismo passa dos limites, torna-se um problema muito sério. Não li nenhum estudo a respeito, mas posso arriscar especular que parte considerável dos problemas relacionados à criminalidade têm, em sua raiz, indivíduos que querem “ter” e consumir sem possuírem os requisitos necessários para exercer um emprego que remunere o equivalente aos hábitos de consumo não só desejados, mas muitas vezes, praticados.

Diante disto, fica-nos o alerta: não estaria na hora de mudarmos alguns paradigmas e pensar em uma maneira de educar nossos filhos com mais responsabilidade e até simplicidade? Mostrar que a prioridade de qualquer indivíduo deve ser o ”ser”. Que o “ter” será uma conseqüência, pois a sociedade precisa de bons profissionais que não somente aparentem ser competentes, mas que realmente o sejam?

O caminho mais correto sempre é o mais árduo de trilhar, mas é também aquele que, no seu término, trará mais prazer e realização.
E o aluno?
Continua fazendo trabalhos esteticamente perfeitos, mas, após muita conversa, correções e reescrita de trabalhos escolares, está melhorando no conteúdo. O que convenhamos, em se tratando de educação nestes tempos difíceis, já é uma vitória.

Professor de Língua Portuguesa e Literatura no Colégio Adventista de Itajaí – SC, além de um grande amigo pessoal, José Oleriano escreve com exclusividade para o Questão de Confiança

segunda-feira, 30 de março de 2009

O ESQUECIMENTO DE HATSHEPSUT: EVIDÊNCIAS DE UMA CONVERSÃO?


Por mais de 20 anos, o governante da maior potência da Terra construiu obras faraônicas (literalmente falando) e manipulou a cúpula astuciosamente, com o fito de manter-se no poder. E esse governante era … uma mulher!

Hatshepsut governou o Egito de 1479 a 1458 a.C. Apesar disso, foi alvo de uma incrível campanha anti-iconoclástica – a rainha não possuía caixão, nem estatuetas, nada de roupas, toucas reais, joias, sandálias e anéis. Suas estátuas e inscrições foram demolidas, além dos monumentos sagrados que foram alvo de vandalismo. Parte dessa história é passada em revista em uma matéria da National Geographic Brasil.[1]

O perfil da poderosa monarca das terras do Nilo é traçado da seguinte forma: “[…] Hatshepsut ergueu e renovou templos e santuários desde o Sinai até a Núbia. Os quatro obeliscos de granito que mandou erigir no vasto templo do grande deus Amon, em Karnak, contavam-se entre os mais majestosos de seu tempo. Hatshepsut encomendou centenas de estátuas de si mesma e deixou testemunhos inscritos na pedra sobre sua ascendência, seus títulos, sua história – tanto a verdadeira quanto a forjada –, e até mesmo sobre seus pensamentos e anseios, os quais ela por vezes confidenciava com candor inaudito. As manifestações das inquietudes da governante inscritas em seu obelisco ainda ressoam com uma quase charmosa insegurança: ‘Meu coração palpita de preocupação só de pensar no que dirão as futuras gerações. Aqueles que hão de ver meus monumentos nos anos vindouros e tecer comentários sobre meus feitos’.”[2] No transcurso do tempo, a rainha se apresentava de forma masculinizada, difundindo fábulas sobre ser a escolhida dos deuses.[3]

Descoberta há dois anos, A múmia não estava no sarcófago na 20ª tumba no vale dos reis, como seria de se esperar. Tudo começou em 2005, quando Zahi Zawass, chefe do Projeto da Múmia Egípcia e secretário-geral do Supremo Conselho de Antiguidades, analisou o corpo encontrado na tumba. O corpo já havia sido descoberto em 1989, pelo egiptólogo americano Donald Ryan duas décadas depois; só foi possível identificá-lo como pertencente à Hatshepsut devido a um dente (molar secundário) localizado em uma caixa de madeira, na qual se lia o nome da monarca em hieróglifo. O dente combinava com a múmia que estava na tumba KV60a[4].

Entretanto, por qual razão a rainha teria sido perseguida? Basicamente, os arqueólogos seculares seguem dois caminhos: Hatshepsut sofrera vingança do enteado, Tutmós III, que atuou como seu co-regente por muitos anos, mesmo quando teria idade para assumir o trono. Tal hipótese se encontra descartada por estudos que apontam que a depredação dos objetos ligados à Hatshepsut ocorrera vinte anos após o fim de seu reinado. Outros aventam que fatores políticos levariam à destruição da memória da rainha, que poderiam levar seus sucessores mais diretos a reivindicar o trono no lugar de Amenófis II, filho de Tutmós III.

Walter Veith[5] apresenta uma terceira hipótese. Hatshepsut seria identificada com a filha de Faraó (Ex. 2). Seu pai, Tutmós I(1532 a 1508 a.C), terceiro rei da 18ª dinastia, que teria ordenado a matança das crianças em 1530 a.C. (Arão, que teria nascido em 1533 a.C., não se viu afetado pelo decreto).

Com a morte de Tutmós I, Moisés, que estava na linha de sucessão real, poderia ter assumido como o 4º faraó da 18ª dinastia, uma vez que o faraó não tinha filhos homens. A recusa se deveu, sem dúvida, a uma questão de fé (Hb. 11:24). Com isso, assumiu Tutmés II, irmão bastardo e marido de Hatshepsut. Ele reinou por pouco tempo: de 1508 a 1504 a.C. Abriu-se nova oportunidade para Moisés assentar-se no trono daquela que era a maior nação da Terra. Devido a uma nova recusa do futuro libertador dos israelitas, a própria Hatshepsut tomou as rédeas, governado o Egito por 21 anos.

A falta de apoio que a rainha colheu nos últimos anos e o fato de ser banida das crônicas reais pode ser explicada, ainda de acordo com Veith, por uma razão: tais coisas aconteciam somente no caso do faraó ser desleal aos deuses. De alguma forma, admitindo-se essa alternativa, Hatshepsut teria demonstrado influência de seu filho adotivo, revelando traços do monoteísmo dos escravos hebreus. Nada mais escandaloso para a alta sociedade egípcia, a qual era composta também pela classe de sacerdotes. Ainda assim, trata-se de uma hipótese. A cultura material apenas permite dizer que houve perseguição à Hatshepsut, a qual poderia ser meramente política.

A reportagem da National Geographic comenta sobre o enteado e sucessor de Hatshepsut: “Depois de sua morte, por volta de 1458 a.C., seu enteado a substituiu, cumprindo o destino de ser um dos grandes faraós da história egípcia. Tutmós III foi um realizador, como sua madrasta, mas também um guerreiro, o chamado Napoleão do Egito. Em 19 anos, liderou 17 campanhas militares no Levante, inclusive uma vitória contra os cananeus em Megiddo, atual Israel, feito ainda hoje estudado nas academias militares. Ele teve um rebanho de esposas, uma das quais deu à luz seu sucessor, Amenófis II.”[6]

Weith traz à luz o exame meticuloso da múmia do imponente Tutmós III (o qual o autor considera que fosse o faraó do Êxodo), realizado pelos egiptólogos Weeks e Harris, em 1973. [7] O resultado foi algo surpreendente: o corpo do faraó, que reinara por 54 anos revelou ter pertencido a um garoto de 18 anos – ou seja, o corpo era falso! Jamais os egípcios mumificariam um corpo falso, porque a conservação do corpo garantia que Ka (lit.: duplo, i.e., a alma)o reconheceria, ao voltar periodicamente do mundo dos mortos, trazendo equilíbrio (maat) ao país. O único motivo para a troca do corpo seria a destruição do legítimo Tutmós III, o que combina com o final trágico que o faraó teve no final do Êxodo (Ex. 14).

Some-se a esses fatores o fato de que o sucessor de Tutmós III não ser seu primogênito e a data de seu reinado estar de acordo com a primeira Páscoa judaica e teremos algumas boas evidências da veracidade das Escrituras. Claro que estamos lidando com informações que ainda carecem de novas confirmações. Entretanto, muitas pesquisas corroboram a tendência de que a parceria entre Bíblia e Arqueologia perdure por muito tempo…
[1] Chip Brown, “O rei está nu (a)”, National Geographic Brasil, Abril 2009, ano 9, nº 109, pp.38-59.[2] Idem, pp. 44-45.[3] Idem, p. 50.[4] Idem pp. p. 42, 44, 53-55.[5] Walter Veith, “Egypt and Bible”, disponível em http://www.amazingdiscoveries.org/egypt-and-the-bible.html.[6] Idem, p. 52.
[7] O trabalho citado por Veith é J.E. Harris, and K.R. Weeks, X-Raying the Pharaohs (NY, New York: Scribners, 1973).

O VATICANO NA ESCURIDÃO

O Vaticano participou no último sábado, dia 28, da Hora da Terra, confirmando a vocação ecumênica (ou ECOmênica, diriam alguns) do evento. A participação da Santa Sé em iniciativas de preservação ambiental como esta vem dando ao Catolicismo a posição de "Conselheira Espiritual" de um movimento sem fronteiras. Que partido o Vaticano tirará disto, resta ao futuro responder.


Leia também: A HORA DA TERRA: A HORA DA PROFECIA?

sexta-feira, 27 de março de 2009

VALE CRER EM QUALQUER COISA PARA SER CURADO?


A divulgação de pesquisas indicando alguma relação entre oração e cura de pacientes terminais abriu o debate sobre o papel da fé cristã na área médica. Evidentemente, nem todas as pesquisas são conclusivas ou mesmo confiáveis. Muitos dos recentes estudos se ocupam de arranjar explicações naturalistas para a crença, dentro do processo de evolução da espécie humana. Livros e artigos sobre fé e saúde crescem exponencialmente, inclusive no Brasil, onde as principais revistas acompanham a tendência de publicações internacionais, destacando os estudos sobre o assunto. Depois da Isto É, chegou a vez da Galileu dedicar uma reportagem de capa ao tema.[1]

Há sempre o risco de se nivelar as religiões, quando se compara, por exemplo, os efeitos da oração e da meditação sobre o lóbulo frontal. Outra confusão acontece quando se passa a ideia de que crer é indispensável à saúde, apenas por motivar ou oferecer conforto aos pacientes; a fé aí seria vislumbrada como mero paliativo, um emplastro sem valor intrínseco[2]. Aliás, conceber a crença religiosa como tábua de salvação é o argumento dos estudiosos evolucionistas, para os quais a crença surgiu pela necessidade humana de transcendência, uma ilusão auto-programada por nosso cérebro, a fim de nos fazer supostamente melhores. Curiosamente, pretende-se que esse tipo de fé forneça uma esperança sabidamente ilusória, que, de fato, reduz-se à esperança nenhuma.

Talvez a melhor avaliação das pesquisas esteja na formação de um quadro geral, que apontem para um estilo de vida, envolvendo crença, alimentação saudável (como a Bíblia orienta) e equilíbrio nos relacionamentos. Indiscutivelmente, uma fé (mesmo bíblica) que se isole dos demais componentes, não pode fazer muito pelos crentes… O papel holístico da fé tem que ver com a sua objetividade filosófica, não com uma subjetividade mística. A verdadeira fé se baseia em proposições que sejam adequadas ao mundo real. Isso sim é uma crença saudável!


[1] Edmundo Clairefont, “Questão de Fé”, Galileu, Abril 2009, nº 213, pp. 38-47.
[2] “[…]Católicos, judeus, hindus, espíritas, budistas, evangélicos, agnósticos… Não importa a religião – ou a falta de. Basta crer.” Idem, p. 40

SOBRE COINCIDÊNCIA E CONSCIÊNCIA


Quando a garotinha Lara vê um estranho apontar uma arma contra seu pai, um pensamento lhe vem à mente: ele está sem a capa mágica! Imediatamente, a menina (interpretada por Ashlyn Sanchez) corre para protegê-lo, crendo vestir a tal capa que ele lhe dera. Na hora em que o simplório logista Farhad (Shaun Toub) aperta o gatilho contra o chaveiro Daniel (Michael Peña), a menina já se colocou entre os dois. A imagem é impactante! Ao final, Daniel descobre, atônito, que sua filha não sofreu o menor arranhão. A própria Lara exclama: “Esta capa é boa mesma!” Só depois o expectador entenderá que as balas do revólver do velho Farhad foram substituídas por festim.
A cena, uma das mais emocionantes do premiado filme Crash – no limite [1], nos leva a refletir sobre fé e realidade. No caso, não foi o uso da capa mágica que salvou Lara, embora ela cresse nisto. Sua visão inocente a faz interpretar o mundo de forma mágica, supersticiosa. E, no enredo, sua crença é apoiada por uma coincidência – uma arma sem munição.
Para muitas pessoas, o mesmo tipo de coincidência acontecia quando Jesus relacionava cura ou perdão à fé ativa de seus ouvintes, ao lhes afirmar: “Sua fé o salvou” (Mt 9:22; Lc 7:50; 17:19; 18:42). Ou seja: a fé dessas pessoas as levava a atribuir ao sobrenatural uma cura alcançada por outros fatores. O bem-estar não tinha sua causa na fé; tratava-se de uma coincidência.
No entanto, a Bíblia confere o papel ativo de curar a Jesus (veja Mt 4:23; 9:35; 12:15; Lc 7:21; 22:51). A fé era apenas a confiança necessária para se apropriar do benefício oferecido. Não havia nas curas feitas por Cristo um choque entre a superstição ingênua e um fato concreto, unidos por uma coincidência. Havia, sim, o choque do poder divino com o elemento humano, unidos por um tipo de fé praticável num mundo real.
Apenas uma fé desta natureza possibilita ao cristão uma abordagem segura do mundo. Não aquela fé fantasiosa; porém, uma crença crítica, que interprete corretamente a realidade ao redor da pessoa.
Observe as palavras do apóstolo Pedro: “Tenham no coração de vocês respeito por Cristo e o tratem como Senhor. Estejam prontos para responder a qualquer pessoa que pedir que expliquem a esperança que vocês têm.” (1 Pe 3:15, NTLH). Pedro nos avisa sobre o dever de estarmos preparados para justificar nossa fé – quer nas boas, como nas desfavoráveis circunstâncias (como é o caso do contexto em que ele escreve).
Responder é a tradução do termo grego apologian, de onde surgiu o conceito de apologia. Na sociedade secular, apologia está relacionada à defesa de uma ideia ou de alguma coisa. Assim, pode-se falar em fazer apologia à maconha, à união civil entre homossexuais ou até ao desempenho da Seleção Brasileira de Futebol (bem, acho que ninguém chega a tanto!). Contudo, ao longo da História Cristã, a Apologia se constituiu na prática de argumentar em favor da própria fé, reivindicando-a em face aos constantes ataques de seus adversários.
Pedro tem em mente uma apresentação da fé em qualquer situação, sempre que o cristão se deparar com questionamento de um não-cristão [2]. Em termos mais simples, o cristão necessitará estar a postos a fim de dar um esclarecimento sobre o que acredita. [3] Deste modo, fica claro que o genuíno filho de Deus possui uma fé que se apoia em evidências, a qual ultrapassa a noção de superstição. A fé pode, deve e precisa ser explicada de forma racional, de maneira que as demais pessoas sejam capazes de assimilar suas pressuposições.
Você pode se perguntar: “como me preparar para responder a razão da minha fé?” Só é possível justificar a fé quando se vive conscientemente a fé. “Antes santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações”, são as palavras iniciais do verso de Pedro que você leu a princípio (com a diferença que a citação agora segue a Almeida Contemporânea). Está claro que esta experiência em viver para honrar a Deus não é construída no vácuo. Pedro relaciona a purificação da consciência à regeneração que aconteceu no momento em que a Palavra de Deus foi plantada em nós (I Pe 1:22 e 23). Eu reconheço Jesus e decido-me a honrá-Lo quando me submeto a Sua Palavra, que passa a ser a lente pela qual interpreto o mundo.
Neste processo, minha postura acaba chamando a atenção e, inevitavelmente, vou ser questionado a respeito daquilo em que acredito; daí, será a hora de fazer apologia com “mansidão e respeito, conservando boa consciência” (1 Pe 3:16, NVI). Defender a Verdade não é tornar-se um pitbull, rosnando contra os que não concordarem com suas opiniões.
Você e eu corremos também o perigo de viver segundo textos-fantasmas, quer dizer, inventar ou interpretar textos da Bíblia para nos favorecer ou apoiar nossa vontade. Como disse Brennan Manning: “[…] Não existe limite para as defesas que inventamos contra as transgressões da verdade em nossa vida.” [4] Temos de ser honestos. Uma leitura seletiva da Bíblia equivale a tornar a fé uma superstição ignorante; seguir esta fé flácida e acertar será uma questão de coincidência. Lembre-se de que somente a fé bíblica fundamenta uma visão coerente da realidade, capaz de nos guiar seguramente em meio à “maneira vazia de viver” e às “doutrinas destruidoras” que existem no mercado (1Pe 1:18, NVI; 2 Pe 2:1, NTLH).


[1] Crash – no limite (USA, 2004, Bull's Eye Entertainment / DEJ Productions / Bob Yari), dirigido por Paul Haggis.
[2] Russell P. Shedd, Nos passos de Jesus: uma exposição de I Pedro (São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2005), 4ª reimpressão, p. 67.
[3] Ênio R. Mueller, I Pedro: Introdução e comentários (São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2006), 3ª reimpressão, p. 196.
[4] Brennan Manning, Convite à loucura (São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2007), p. 16.

quarta-feira, 25 de março de 2009

MAIS CARNE, MAIOR O RISCO


Pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer dos EUA revelaram que o consumo exagerado de carnes vermelhas e processadas aumenta o risco de morte não apenas decorrente de problemas cardíacos e câncer, mas também de Alzheimer, úlceras estomacais e outras doenças.

A pesquisa monitorou mais de 500 mil pessoas com idades entre 50 e 71 anos e durou uma década. Durante esse período, mais de 71 mil pessoas morreram. De acordo com os pesquisadores, os homens e mulheres que comeram mais carne vermelha apresentaram um risco mais elevado de morte: 31% e 36%, respectivamente.

Os pesquisadores concluíram que 11% das mortes entre os homens e 16% entre as mulheres poderiam ter sido evitados se as pessoas reduzissem o consumo de carne vermelha e processadas.

"Quando se deixa o uso da carne, há muitas vezes uma sensação de fraqueza, uma falta de vigor. Muitos alegam isso como prova de que a carne é essencial; mas é devido a ser o alimento desta espécie estimulante, a deixar o sangue febril e os nervos estimulados, que assim se lhes sente a falta. Alguns acham tão difícil deixar de comer carne como é ao bêbado o abandonar a bebida; mas se sentirão muito melhor com a mudança." Ellen White, A Ciência do Bom Viver, p. 316.

PANCADARIA POR UMA BOA CAUSA


Pelo celular, um pai ex-espião instrui a filha em viagem a Paris sobre o que fazer em face de um iminente e inevitável sequestro. Basicamente, este é o enredo de “Busca Implacável” (Taken, “tomada”, “levada”). Tudo indica que o filme será uma desesperada empreitada do pai, usando suas habilidades para resgatar a filha. Filmes de ação envolvendo espiões estão em alta (todos querendo ser Bourne, evidentemente). Pierre Morel, o diretor do longa, afirmou no makin-of que gravou as cenas de ação em tempo real, sem acelerar as câmeras, para garantir realidade (para dar aquele ar de documentário do já citado Bourne).

Mas o que me leva a comentar sobre o filme se deve mais às opções morais do pai-espião Brian (papel do eterno mentor Liam Neeson). A certa altura, ele recorre à tortura, levado pelo choque de encontrar a amiga de sua filha morta. O desenrolar do enredo leva o espectador a revoltar-se com os criminosos albaneses que atuam em Paris, seqüestrando moças estrangeiras, que são dopadas e depois coladas em prostíbulos, sem a menor condição de saber onde estão ou o que fazem. Por tudo isso, a reação de Brian até soa natural…

O filme incentiva uma espécie de revanchismo contra os direitos humanos; curiosamente, a vingança contra os criminosos é usar contra eles menos humanidade ainda. Seguindo uma linha bem próxima, um filme mais antigo, “O preço de um resgate”, colocava o espectador diante da seguinte situação: “O que eu faria se estivesse face a face com quem sequestrou meu filho?” Semelhantemente, Busca Implacável justifica suas ações violentas com a premissa de que qualquer pai faria o mesmo para encontrar sua filha e fazer seus sequestradores pagarem pelo que fizerem.

Eticamente, é questionável quando os fins validam os meios. Em certo sentido, esse embate é próprio de nosso tempo, quando se assiste a maior potência da Terra agir de forma desesperada em sua “Guerra contra o Terror”. Seria a tortura, tratamento desumano, a melhor forma de punir criminosos desumanos ou isso apenas revela que os americanos foram tão cruéis quanto aqueles que estiveram sob sua custódia? Deixo a resposta para os prisioneiros que viveram em Guantánamo.

Outra preocupação que tenho é quando saímos aplaudindo e torcendo para que personagens concretizem sua vingança; de alguma forma, o efeito desses sentimentos perpetua a distorção do senso de justiça que impera na sociedade contemporânea. Seria esse sentimento o reflexo de uma moral mais rigorosa contra a marginalidade, a ponto de negar eles direitos básicos? Será que a solução para a criminalidade é derramar mais sangue, num ciclo intérmino? Claro que estamos refletindo a partir de uma ficção, que lida com a saciedade – não que um pai saia por aí querendo fazer justiça; mas, certamente, há uma realização osmótica por ver alguém fazer isso, como se a impotência da vítima encontrasse vazão na obra ficcional. Porém, até que ponto esta catarse é produtiva? Infelizmente, filmes sobre perdão e elevação moral são raros e não alcançam tanta bilheteria! Por isso, que continue a pancadaria (com o atenuante de que é por boa causa).

terça-feira, 24 de março de 2009

O [ACESSO AO] CÉU É O LIMITE


A revista Veja desta semana notificou a reinvindicação do Bispo Edir Macedo, possuidor de passaporte diplomático (!?), de não ser obrigado a passar pela alfândega durante uma baldeação aérea no Aeroporto Internacional de Guarulhos. A nota põe em relevo a força política do Ministro do Evangelho ("Sou um enviado de Deus. Vocês estão atrapalhando meu trabalho", vociferava o bispo para a Polícia Federal); isso porque, deputados que são bispos da denominação fundada por Macedo pressionaram a liberação do líder religioso, sob a alegação de que o passaporte diplomática lhe daria essa liberdade. Sem dúvida, já passa da hora de se discutir a participação de grupos religiosos em cargos eletivos no Brasil.

A HORA DA TERRA: A HORA DA PROFECIA?


O jornal A Notícia, do grupo RBS, apóia a campanha "A hora da Terra" (Earth Hour) da ong WWF. A iniciativa começou em 2007 e mobilizou a população de Sidney, Austrália. No ano passado, participaram 371 cidades em 80 países, num total de 24 fusos horários. Agora, para 2009 a meta é contar com a participação de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. Florianópis é uma das capitais brasileiras que promete apagar suas luzes no próximo 28 de Março, das 20:30 às 21:30 h.

O objetivo duplo de A hora da Terra é economizar energia e sensibilizar os governos para uma tomada de conciência quanto à redução de gazes poluentes e a promoção de medidas visando a preservação ambiental. No site da ong, fala-se em um novo acordo global, que substituiria o protocolo de Quioto. Resta saber quais seriam os termos desse suposto acordo.

A massificação da campanha é impressionante, e conta com o apoio de meios de comunicação, políticos e artistas (já se divulga o engajamento da cantora canadense Alanis Morissette, entre outros participantes em 2009). Até mesmo o Vaticano tem se pronunciado constantemente em favor de uma ética ecológica.

As implicações para a política governamental em âmbito mundial são potencialmente revolucionárias. Estamos diante de uma empreitada capaz de fomentar uma união de sociedades, governos, religiões e outras entidades em torno de uma causa. Sem dúvida, de uma perspectiva adventista, a união final das nações em termos religiosos, pode partir de uma dessas campanhas globais. Por enquanto, temos que manter os olhos abertos e averiguar o desenvolvimento do ECOmenismo.

O RESGATE DA ALEGRIA

Raios nos pés, fogo nos rins, embalados por uma ânsia acumulada que se transmudara em alegria, prester a ter vazão por meio do grito, e eles, que há poucas horas viviam de luto.

Antes viam e não sentiam. Agora, não O veem, embora experimentem Sua proximidade. A nova tem que atravessar a cidade. Onze criaturas derrotadas serão adocicadas com a seiva da notícia do que a dupla viveu. Por isso, eles correm num fôlego sem pausa.

A cidade encrustada com resquícios de feriado. Poucas portas abertas. Mulheres caminham com olhares distantes e baixos. Os sorrisos secam-se nas bocas das crianças. Os párias perambulam sem afeto alheio. Apenas os sacerdotes mantêm seus rituais com alguma imponência cínica, ensaiando comemorar a vitória, mas cientes do mal-estar predominante.

Os dois homens não têm tempo para os detalhes. Ainda são velozes e entusiastas. Lembram-se de usar de cautela quando estão às portas. Batem, e sussurros interiores antecedem ao destravar das trancas. A luz do dia chega pela primeira vez a um ambiente inerme. Entram.

Seu relato desperta desconfiança. Não pelo ineditismo – outros, ou melhor, outras já disseram de uma pedra rolada e um túmulo vazio. Dois pescadores haviam pesquisado o ambiente. Hoje, o recinto no qual se reúnem congela de ansiedade.

Mas dois corações esbraseados se dilataram subitamente, num frêmito de reverência. Não estavam enovelados por dilemas humanos insolúveis. O divino invadia Sua esfera.

Olharam-se. Notaram, então. A figura majestosa, surgida de que lugar?, não de um sonho, o que não ocorre a céticos acordados. Era a mesma figura de antes, de quando suas mãos grossas lançavam redes ao mar ou quando, poluídos pelo contato mundano da coletoria, ouviram o chamado. Num só instante, seus olhos recuperaram a imagem de paralíticos saltando, mudos cantarolando e leprosos recebendo abraços e afagos. Viam em retrospecto as praias invadidas por gente humilde, de artesãos a curtidores, de mulheres a crianças.

Era o resgate de uma alegria testemunhada com lágrimas. E, no calor da aparição, o silêncio da lembrança, a evocação dos três últimos anos, emudeceu para captar a frase poderosa, dita com entonação passional. Eram poucas as sílabas, ainda que o significado não pudesse ficar restrito à sentença que o punha em relevo. Atônitos e perplexos, maravilhados e incontidos, aqueles homens pararam para ouvir Aquele que vive para sempre dizer: “Paz seja convosco!”

sexta-feira, 13 de março de 2009

OS CAMINHOS PARA A UNIÃO PROFETIZADA


Parlamentares norte-americanos começaram na quinta-feira a focar formas de atenuar o ônus financeiro que a legislação sobre a mudança climática pode ter sobre os pobres, especialmente num momento de recessão.

O líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, anunciou que tentará aprovar até meados do ano um projeto que limita as emissões de gases do efeito estufa em carros, usinas elétricas e outras indústrias. O presidente Barack Obama apoia tais controles, mas só quer a implementação depois de 2012, quando termina seu primeiro mandato.

A polêmica medida, à qual muitos republicanos se opõem, seria combinada com iniciativas de energia renovável em um megaprojeto, de acordo com os planos divulgados por Reid e pela presidente da Câmara, Nancy Pelosi.

"A Câmara decidiu juntá-los todos. É provavelmente para aí que nos encaminhamos", disse Reid a jornalistas. "Não conseguiremos (aprovar o pacote do Senado) até algum momento no verão (do hemisfério norte), no mínimo."

Reid disse que já conversou com Pelosi também sobre juntar o pacote climático na legislação orçamentária, o que exigiria a aprovação de 51 dos 100 senadores, e não de 60, como ocorre normalmente para superar possíveis obstruções regimentais dos republicanos.

"Ah, adoro 51 (votos) em comparação com 60. Sabemos que é uma alternativa", disse ele.

Se o Congresso, com sua maioria democrata, aprovar a legislação, seria o fim de oito anos da política do governo de George W. Bush contra medidas destinadas a conter as emissões de carbono, já que o ex-presidente considerava que isso seria nocivo à economia norte-americana.

Enquanto Reid esboçava seu plano para o controle climático, alguns deputados, inclusive alguns representando distritos pobres e rurais, pressionavam especialistas por formas de mitigar o impacto sobre os pobres, que gastam uma maior proporção da sua renda com aquecimento e combustível do que as pessoas de classe média e alta.

"O impacto é real, e vamos ter de resolvê-lo", disse o deputado Chris Van Hollen, membro da liderança democrata na Câmara.


Colaboração: Fernando Machado

Essa preocupação ecológica de estadistas, ONGs, celebridades e da mídia em geral vem atrelada com valores mísiticos e tem sido suficiente para agregar grupos políticos, religiosos e ideológicos que antes pareciam irreconciliáveis. O fenômeno recebeu a alcunha sugestiva de ECOmenismo. Leia mais sobre isso aqui.

segunda-feira, 9 de março de 2009

A SECULARIZAÇÃO DA FÉ


Quando ativistas cristãos alertam sobre a secularização de setores da sociedade, a tendência dos cristãos é se mobilizarem, imaginando ter que fazer alguma coisa externa, em diferentes níveis: séries evangelísticas visando a alcançar os "perdidos", seminários para melhor compreensão dos desafios à mensagem evangélica, eventos de entretenimento "gospel", engajamento político, etc. Poucos se preocupam em notar os efeitos do fenômeno da secularização em suas respectivas congregações; entretanto, dificilmente os crentes poderão causar impacto na sociedade com sua mensagem característica, caso se encontrem debilitados em razão dos efeitos do que vem acontecendo com a religião no século 21. Apresentamos três resultantes da secularização e uma possível resolução para reverter esse processo:

1) A compartimentalização da experiência religiosa: Ao ser disseminada a filosofia naturalista e com o advento dos valores da modernidade, a espiritualidade ficou desvinculada da rotina das pessoas; assuntos ligados à religião foram relegados a uma esfera à parte.
Com isso, muitos cristãos vivem semelhantemente às demais pessoas em seu trabalho, no ambiente acadêmico, na esfera social e até mesmo no seio familiar. O momento de reflexão religiosa se restringe, muitas vezes, ao ato de assistir ao culto (um novo paradigma em relação à antiga postura, que exigia a participação no culto, e não somente como mera reflexão).
A devoção pessoal, quando tem lugar na vivência, é vista como reflexão desconexa das decisões diárias no mundo prático, ou seja, trata-se de uma obrigação religiosa. Simplesmente, a mensagem da fé não possui relevância no mundo real.

2) A espetacularização da experiência religiosa: Na tentativa de proporcionar uma renovação da dinâmica do culto, novas alternativas têm despontado no cenário religioso, entre as quais cultos em que a música religiosa recebe maior ênfase; vale dizer que essa música possui caráter próximo das canções populares, além de letras simples, facilmente memorizáveis, ainda mais se levando em conta o caráter repetitivo das melodias.
Todavia, para além do aspecto formal das músicas, a própria liturgia dá espaço para a interação, que ocorre quando o membro realiza coreografias, ou manifestações corporais espontâneas, como gesticulação, levantar de mãos, bater de palmas, pulos, gritos intercalados, síncopes, glossolalia (falar sons desconexos), êxtase místico, etc. Alguns pontos são mais enfatizados do que outros, de acordo com a orientação denominacional.
A figura principal nesses cultos costuma ser a do líder religioso, que atinge o auditório através de uma atuação performática, usando recursos teatrais, carisma pessoal e se impondo como autoridade religiosa possuidora da unção divina.
Tudo isso, fora o caráter numioso frequente em grande parte dos movimentos místicos, recebe uma "injeção" de modernidade, com inserção de psicologia popular e promessas de "vitória" no campo material.

3) A automatização da experiência religiosa: O uso extensivo de recursos tecnológicos, como audiovisual, play-backs nos momentos musicais e projeção de vídeos durante as preleções, têm um aspecto dúbio. Por um lado, o emprego de novas tecnologias torna atraente a apresentação do Evangelho, empregando uma abordagem mais didática e atualizada. No entanto, não há dúvida de que a participação de indivíduos acaba suprimida por testemunhos gravados, hinos projetados, videoconferências, entre outros. Assim, surge uma realidade em que o membro mais assiste do que atua propriamente no culto (conforme já havíamos mencionado).
A transmissão de cultos (ao vivo ou editados) por algum tipo de mídia contribui para que a pessoa se torne um espectador descompromissado, atraído pelo alto nível da programação, qualidade que se torna um substituto para a frequência aos cultos, considerados menos atrativos.

Em grande parte, a secularização consiste em fazer uma releitura crítica do cristianismo ocidental, banindo elementos religiosos anteriores, embora tencione conservar os benefícios gerais trazidos pela religião cristã. O antídoto para isso é caminhar na direção inversa: endossar os aspectos geradores das estruturas religiosas (e até sociais) através da base bíblica.
Um efeito colateral inevitável será a reformulação de doutrinas das diversas tradições cristãs que não coadunam com preceitos bíblicos. Nenhum cristão deveria se intimidar diante dessa perspectiva, uma vez que determinada denominação ou tradição teológica não pode suplantar a importância dos documentos bíblicos quanto à formação de uma visão de mundo.
Outrossim, as Escrituras forneceram a base para expandir a experiência religiosa, tornando-a fonte de direcionamento para todas as áreas da vida; também nas Escrituras a simplicidade do culto, não preocupado com cerimônias ou sensacionalismo, fornece referência para eventos cúlticos atuais; finalmente, a teologia bíblica dos dons favorece a participação comunitária, em lugar do mecanicismo impessoal (o que não significa total descarte do aparato tecnológico).

Quando o Cristianismo redescobrir seu livro-texto, a Bíblia, aplicando-a às áreas em que se mostra deficiente, terá condições de superá-las, vencendo a própria secularização em seu campo. Expandindo a metáfora (baseada nos campeonatos de futebol), faltará aos cristãos conquistar outra vitória "fora de casa" contra o secularismo: a batalha na sociedade pós-moderna.


quinta-feira, 5 de março de 2009

COM TEUS OLHOS

Sometimes I feel discouraged
And think my work’s in vain,
But then the Holy Spirit
Revives my soul again.


“There is a Balm in Gilead” (Nigro-Spiritual)




Estive pensando em como eu me avalio:
Quando faço algo, então eu me sinto alguém;
Quando erro, o espelho me lança um desafio
–Tantos pensamentos solitários vem. 

Não sei em cada situação como agir,
Como achar a chave certa entre esses molhos.
Ó Senhor, ajuda-me a ver com Teus olhos
Que o Teu Espírito quer me conduzir.
Ajuda-me em minhas decisões,
Que eu, Pai, veja além das ilusões
Que o Teu Espírito quer me conduzir.

A Tua mão para o caminho apontar,
Se tão somente me for possível ter;
Falhando, Teu amor venha me apoiar,
E estarei seguro de que irei vencer.

Não sei em cada situação como agir,
Como achar a chave certa entre esses molhos.
Ó Senhor, ajuda-me a ver com Teus olhos
Que o Teu Espírito quer me conduzir.
Ajuda-me em minhas decisões,
Que eu, Pai, veja além das ilusões
Que o Teu Espírito quer me conduzir.

Pai, grato Te sou por Jesus Cristo;
NEle sei que eu hoje sou aceito.
Se vejo erros em mim, não desisto,
Pois embora eu não seja perfeito,
Eu ainda posso Lhe pedir:

Ó Senhor, ajuda-me a ver com Teus olhos
Ajuda-me em minhas decisões,
Que eu, Pai, veja além das ilusões
Que o Teu Espírito quer me conduzir.

DAVI: UM CASO DE DARWINISMO LITERÁRIO?




Tomar a Bíblia como base para justificar qualquer premissa concebida a priori é agir deslealmente com a Palavra de Deus. E exemplos dessa prática desonesta são abundantes. O mais recente partiu do etnógrafo Eric Eliason, da Universidade Brigham Young (EUA). Ele conseguiu enxergar na história de Davi uma narrativa de darwinismo literário [1].
Para começar, o estudioso aponta que, pelo fato de Bate-seba estar em período fértil (nós a vemos se purificando com um banho, como mandava a lei; cf: 2 Sm. 11:2), ela agiu como as mulheres nesta fase, ou seja, “de forma mais provocante”. Eliason justifica que por uma luxúria biologicamente justificável, a mulher apareceu nua aos olhos de Davi. Nesse caso, Bete-Seba seria a sedutora irresistível. Seria correto pensar assim?
Davidson, estudioso do texto bíblico, argumenta que o terraço do palácio real garantia uma vista panorâmica das “moradias no Vale do Cedron imediatamente abaixo”. Para ele, isso é enfatizado pelo texto quando é dito que Urias, marido de Bete-Seba, em visita ao palácio, teria de “descer” para ir a sua casa (vv. 8-13). Além disso, as residências da época consistiam de quatro quartos em torno de um pátio central aberto, no qual as pessoas tomavam banho. Provavelmente, do terraço de Davi podia se ver quem quer que estivesse se banhando nos pátios descobertos. Por isso, transitar pelo terraço se tornou “o primeiro passo deliberado [dado por Davi] em sua queda moral.” Logo, não seria “irrazoável assumir que o código de decência geralmente aceito nos dias de Davi incluía o entendimento de que era inapropriado olhar” a partir do terraço para as casas abaixo. Essa exposição destrói a pressuposição de que Bete-Seba se ofereceu a Davi. O único culpado no relato é o próprio rei, não a mulher de quem ele se aproveitou [2].
Aparentemente, as demais premissas que Eliason explora são baseadas em fatos mais concretos. Ainda assim, temos que procurar sondar suas motivações. O darwinismo conclui que as características humanas foram preservadas (inclusive, através de registro literário) como as encontramos porque, de certa forma, contribuíram para a evolução da espécie. Acontece que esse pressuposto afeta diretamente à moral, porque se todas as características humanas que existem são naturais e justificadas pela Biologia, segue que estupro, assassinato, adultério e roubo não são crimes, mas fruto da seleção natural!

Em contrapartida, o relato de Davi está na Bíblia para ressaltar a humanidade dos homens do passado, como forma de nos instruir a confiar em Deus, a fim de não cometermos os mesmos erros que aqueles santos (Rm. 15:4). A perspectiva com que a história de Davi é contada faz, portanto, toda a diferença.


[1] “A Bíblia dá razão a Darwin?”, Galileu, Março de 2009, nº 212, p. 28.
[2] Richard M. Davidson, “Did King David Rape Bathsheba? A case study in narrative theology”, disponível em http://www.atsjats.org/publication_file.php?pub_id=318&journal=1&type=pdf&PHPSESSID=55486d38cbe86269aaf4c8d2ff5, 3-5. Davindson enumera 18 razões para entendermos que Davi é responsabilizado pelas circunstâncias deste caso. Seu trabalho merece ser conferido.

quarta-feira, 4 de março de 2009

REENCARNA AGORA OU DEPOIS?

O 14º Dalai Lama, perto de completar 74 anos, se preocupa com a escolha de seu sucessor, em um momento delicado para uma sucessão política.

O Dalai Lama falou que pode reinventar a prática histórica e cultural e escolher sua reencarnação antes de sua morte, o melhor para salvaguardar seu povo exilado. A escolha deste, que é o 14º Dalai Lama foi feita após a morte de seu antecessor, em um ritual místico.

Tanto para seus seguidores quanto para os leigos no assunto, as dúvidas sobre o método proposto por Dalai Lama aumentaram. Poderia uma pessoa, mesmo um budista tão evoluído como o Dalai Lama, escolher sua reencarnação? Além disso, alterar a antiga forma de procura pela encarnação do Dalai Lama, na qual sacerdotes buscam presságios, poderia minar a legitimidade de seu sucessor.


O atual Dalai lama possui carisma, habilidade literária e influência no meio artístico. A discussão sobre sua sucessão gavita em torno do conceito de reencarnação, processo pelo qual a alma de alguém que morreu tem a oportuindade de voltar ao mundo dos vivos em uma nova pessoa, com o objetivo de se aperfeiçoar. Biblicamente falando, a reencarnação é impossibilidade; isso porque a morte acontece apenas uma vez, seguida pelo juízo (Hb. 9:27). Tampouco é possível a comunicação entre vivos e mortos (Ec. 9:5,6 e 10). Resta àqueles que morreram aguardarem a ressurreição (I Ts. 4:15-18). Logo, o Dalai não reencarna nem agora, nem depois...

segunda-feira, 2 de março de 2009

A BATALHA CÓSMICA PELA FORMA E A "DUPLA RESTAURAÇÃO"


Quando era criança (há mais de vinte anos), eu passeava com minha mãe em uma praça e lhe perguntei: "Mãe, o que Deus acha de o nome dEle ser usado em músicas?" Na ocasião, minha mente infantil pensava nas músicas populares que se referem a Deus (de fato, letristas da MPB citam "Deus", "Jesus" e demais elementos cristãos efusivamente).

A indagação que fiz na época lida, de certa forma, com uma questão cara ao Cristianismo contemporâneo: Como adoraremos a Deus? Todas as expressões musicais podem ser empregadas ou apenas determinadas formas estão autorizadas? Se a última pressuposição for correta, então que elementos abalizam um determinado gênero musical cristão?

Abordaremos esses questionamentos nos restringindo à percepção adventista de que se processa uma batalha entre o bem e o mal. Esse conceito fundamental não é de todo exclusivo dos adventistas, mas se encontra de tal modo desenvolvido, dentro de certas peculiaridades, que constitui a doutrina distintiva do Grande Conflito. A intenção deste artigo é oferecer alguns lampejos que se somem às discussões a respeito da adoração no cenário adventista do século 21.