sexta-feira, 27 de março de 2009

VALE CRER EM QUALQUER COISA PARA SER CURADO?


A divulgação de pesquisas indicando alguma relação entre oração e cura de pacientes terminais abriu o debate sobre o papel da fé cristã na área médica. Evidentemente, nem todas as pesquisas são conclusivas ou mesmo confiáveis. Muitos dos recentes estudos se ocupam de arranjar explicações naturalistas para a crença, dentro do processo de evolução da espécie humana. Livros e artigos sobre fé e saúde crescem exponencialmente, inclusive no Brasil, onde as principais revistas acompanham a tendência de publicações internacionais, destacando os estudos sobre o assunto. Depois da Isto É, chegou a vez da Galileu dedicar uma reportagem de capa ao tema.[1]

Há sempre o risco de se nivelar as religiões, quando se compara, por exemplo, os efeitos da oração e da meditação sobre o lóbulo frontal. Outra confusão acontece quando se passa a ideia de que crer é indispensável à saúde, apenas por motivar ou oferecer conforto aos pacientes; a fé aí seria vislumbrada como mero paliativo, um emplastro sem valor intrínseco[2]. Aliás, conceber a crença religiosa como tábua de salvação é o argumento dos estudiosos evolucionistas, para os quais a crença surgiu pela necessidade humana de transcendência, uma ilusão auto-programada por nosso cérebro, a fim de nos fazer supostamente melhores. Curiosamente, pretende-se que esse tipo de fé forneça uma esperança sabidamente ilusória, que, de fato, reduz-se à esperança nenhuma.

Talvez a melhor avaliação das pesquisas esteja na formação de um quadro geral, que apontem para um estilo de vida, envolvendo crença, alimentação saudável (como a Bíblia orienta) e equilíbrio nos relacionamentos. Indiscutivelmente, uma fé (mesmo bíblica) que se isole dos demais componentes, não pode fazer muito pelos crentes… O papel holístico da fé tem que ver com a sua objetividade filosófica, não com uma subjetividade mística. A verdadeira fé se baseia em proposições que sejam adequadas ao mundo real. Isso sim é uma crença saudável!


[1] Edmundo Clairefont, “Questão de Fé”, Galileu, Abril 2009, nº 213, pp. 38-47.
[2] “[…]Católicos, judeus, hindus, espíritas, budistas, evangélicos, agnósticos… Não importa a religião – ou a falta de. Basta crer.” Idem, p. 40

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