domingo, 31 de maio de 2009

ORA, É TUDO NORMAL!


Cristóvão Tezza, escritor catarinense, fez um infeliz comentário, publicado no Estadão. O autor de "Aventuras Provisórias" não gostou de ter seu livro censurado por conta da linguagem obscena e cenas de sexo. "Eu soube da interdição e fiquei horrorizado com isso", declarou. O escritor ainda acrescentou não ver "nenhum inconveniente nas cenas reclamadas, pois não apresentam nada que o adolescente não descubra em outras mídias."

Talvez o que escapou a Tezza é a tal censura não ser motivada por ineditismo, como se fosse novidade retratar o sexo. Não estamos mais nos tempos em que Flaubert foi processado por "Madame Bovary". O problema é justamente o excesso, não a surpresa: nós nos encontramos saturados de escritores que fazem do sexo um lugar-comum, da mesma forma que a vulgarização do sexo nas novelas, filmes, comerciais, e músicas tem preocupado educadores, sociólogos e os cidadãos conscientes.

Seria interessante que romancistas, roteiristas e diretores expusessem ideias sem ter de recorrer a cenas apelativas, que mormente deixam a entrever a pobreza de sua mensagem, a qual acaba se escorando no erótico e sensual (porque isto vende). Pena que a cultura brasileira esteja tão atrelada a uma sem-vergonhice histórica, fazendo com que se encare a distorção da sexualidade trivialidade. Dentro desta linha de raciocínio obtusa, oferecer valores aos jovens parece, infelizmente, perda de tempo!...

ELEIÇÃO


Caminha Abrão, que a espera por teus pés adoça o sumo das vides da terra. Tu não vês o que meus olhos te consagram. Apenas Eu, o Eterno-Guia-Acima consigo sentir o afago de tua vida entregue aos Meus cuidados.

Os zigurates de Ur e os altares de Harã são a náusea que sinto toda manhã; mas teus sacrifícios são para mim como as passas e o leite de cabra na tenda do beduíno.
No itinerário do Eufrates não encontro outro amigo; em homem algum, Abrão, tem minha alma prazer como em ti.

És filho e amigo, servo e companheiro, o alvo certo das lanças da Bênção! O óleo que escorre por tua barba escorrerá por milhares de rosto, todos filhos de teus lombos.

As bolhas que estouram em cada pé serão curadas à sombra dos carvalhos, onde armarás o acampamento para milhares; caminha agora, Canaã prepara o mel de boa-vinda, Canaã dos enaquins e zazumins. Não os tema, pois eis que eu peso minha destra sobre o pescoço daqueles reis que riem de minhas ordens. Serás minha testemunha entre os famigerados e andarás em meio aos gigantes que me ignoram. Não os tema, porque te darei a Terra, a ti e à tua descendência depois de teus dias.

Contempla a multidão da areia, Abrão! Os grãos desafiam sua geometria. Observa às estrelas: elas estão acima de tua astronomia. E eu te digo que superior ao número de estrelas e de grãos de areia será o número de tua descendência.

Em ti, toda a Terra será favorecida!

Aqueles que reclinarem o rosto à tua passagem contarão com Meu favor. Aqueles que erguerem a vista e menearem a cabeça após tua partida, Eu os punirei.

Apenas aprenda a Me conhecer e se prostrar diante de Minha Majestade; Caminha seguro ao Meu lado, que te farei íntegro sob a concha de minha mão.

terça-feira, 26 de maio de 2009

O EXISTENCIALISMO DE HENRY


Alguns podem achar que o atacante Henry, da seleção francesa e do Barcelona, se transformou no réu da inquisição jornalística. Sua "filosofia" continua repercutindo cada vez que o assunto educação conquista espaço na mídia brasileira. Recentemente, livros didáticos adquiridos pelo ensino público paulista foram retirados das escolas porque apresentavam erros de informação e material de natureza imoral. Desse modo, fica difícil não lembrar de Henry, ainda mais quando seu clube disputa a final da Liga dos Campeões da Europa.

Três dias antes daquele jogo fatídico contra a França, na Copa de 2006, o atacante Henry tocou na ferida brasileira. Mesmo sem desejar ofender a honra verde e amarela, ele parece ter atingido o âmago dos atletas da seleção canarinho. Tentando identificar os motivos de os craques do Brasil serem superiores aos franceses, Henry apontou a falta de escolarização como uma vantagem tupiniquim.

Apaixonado por uma bola, Henry era obrigado pela mãe a não gazetear as aulas. Futebol, só se sobrasse tempo. Enquanto isso, em outras latitudes, meninos pobres, sem chuteiras, magros de fome, desestimulados pela violência a frequentar uma escola, participavam de peladas das 8 da manhã às 6 da tarde.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

DANDO ASAS PARA A COCAÍNA


Depois de encontrar vestígios de cocaína no novo refrigerante da Red Bull, cincos estados na Alemanha proibiram a venda do produto. O Instituto Estadual para Saúde e Trabalho do Estado de Renânia do Norte-Palatinado constatou 0,4 microgramas da droga por litro.

Segundo as autoridades alemães, a dose de cocaína na bebida é considerada mínima e não apresenta risco à saúde. Porém, os vestígios da droga fazem com que o refrigerante deixa de ser um produto alimentício para, legalmente, se tornar um entorpecente.

“O instituto examinou Red Bull Cola em um processo químico minucioso e realmente encontrou traços de cocaína”, confirmou o diretor do departamento de segurança alimentar do ministério alemão para Defesa do Consumidor, Bernhard Kühnle.

domingo, 24 de maio de 2009

A DEVOÇÃO


Horas conversando com quem não se vê ou ouve, numa intimidade sublime e reparadora. Horas refletindo em Seu amor nos fatos da vida, nas bênçãos camufladas de cotidiano. Momentos em que a criatura se abastece. A culpa é depositada, a fé alargada, a razão embasada. Comunhão inspiradora, canal aberto para o Infinito.

O Céu se curva para atender o homem que se abre para as possibilidades da vontade divina.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

EXEMPLO DE ORAÇÃO


(O santuário das montanhas)

Eclode a luz que O encontra às árvores somado
Desde que a madrugada erguera os lábios roxos
Sobre a cútis do céu. De espírito albardado
Sai, pondo em liberdade os cegos, mudos, coxos.

Do silêncio íntimo de uma alma sem pecado,
Flui para o Azul não som conturbado de mochos
Ou prece inócua, mas sim, do olho alobadado
A fé capaz de unir com Deus os laços frouxos.

A voz que impelia ao anjo, em súplica é ouvida,
Comovendo à Amplidão. No algar da treva e drama,
Ora e entrega à Vontade Eterna a própria vida.

E o homem, que O fez vir do Céu a este escuro algar,
Cuja carência de entrega é maior, vai, busca e ama
Todo interesse egoísta alheio à dor de amar.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

ACHAMOS UM SALVADOR?


PLANO DE PODER OU DEDICAÇÃO AO SERVIÇO?


Flanava eu por uma livraria evangélica quando... Antes, a confissão: raramente me dou a este luxo, mas, sempre que posso, gosto de entrar em livrarias. Entro por entrar, vejo os títulos aqui e ali, descompromissadamente. Se acho alguma coisa que me "fisgue", nem penso duas vezes: compro mesmo.

Bem, no minha sutil incurssão de hoje, achei algo insólito: o livro "Plano de Poder:Deus, os cristãos e a política", do senhor Edir Macedo, com participação de Carlos Oliveira (diretor do programa "Hoje em dia", em BH, MG). Lançado em fins de 2008, pela Thomaz Nelson Brasil, o volume, de certa forma, é um chamado dirigido ao povo cristão à participação na política (não livre de interesses pessoais, enteda-se: Macedo já usou da influência política de seus aliados para fins discutíveis, além de promover às claras o sobrinho, deputado Marcelo Crivella.)

Deveriam os evangélicos discutir este assunto? Deveríamos nós, adventistas, pensar nisto, tanto dentro de um contexto profético, quanto em consonância com a verdade sobre a vocação individual de cada crente? Minha resposta é sim, para ambos os casos. Ofereço alguns textos que ponderam algo sobre a filosofia cristã da política, já publicados on line. Espero que fomentem alguma reflexão sobre este assunto ainda espinhoso.

GUARDA DO SÁBADO SERÁ PRESERVADA NO ENEM 2009

Brasília, DF... [ASN] Na manhã desta quarta-feira, 20 de maio, o líder de Comunicação e Liberdade Religiosa da Igreja Adventista para a América do Sul, pastor Edson Rosa, e o advogado da Igreja para a mesma região, doutor Luigi Braga, estiveram em reunião com o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, doutor Reynaldo Fernandes. Este é o órgão responsável pela aplicação do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). O motivo do encontro foi encontrar uma alternativa para os adventistas que irão participar do ENEM, nos dias 03 e 04 de outubro deste ano, já que a data envolve um sábado. Também participaram do encontro o chefe de gabinete João Marcos Martins, e o deputado Charles Lucena.


Durante a audiência foi feita uma solicitação no sentido de que na normativa para aplicação do ENEM conste a necessidade de existência de uma sala onde os guardadores do sábado possam ficar reservados até o horário do por do sol do sábado, dia 03, quando então, farão a prova.

O presidente do INEP aprovou o pedido que será incluído na normatização do ENEM. Para o pastor Edson Rosa, “trata-se de uma conquista junto ao Ministério da Educação que permite a liberdade de consciência. Nossos alunos terão o direito de guarda do sábado preservado e poderão participar tranquilamente desta seleção”. O pastor ainda acrescenta que “assim que tivermos a normativa em mãos vamos divulgá-la”.

Já está agendada uma segunda audiência com o doutor Reynaldo Fernandes, quando, em entrevista, ele dará maiores esclarecimentos sobre o a importância do ENEM e o direito de consciência que deve ser preservado.
O ENEM é um exame individual, de caráter voluntário que, a partir deste ano, deixará de ser apenas um instrumento para avaliação, e passará a ser adotado como válido para ingresso na universidade. [Equipe ASN – Márcia Ebinger e Edson Rosa]

Nota: Apesar de não ser definitiva, a situação aponta um resultado favorável para aqueles que entendem ser o sábado um dos mandamentos de Deus (Ex. 20:8-10). Contudo, é necessário que continuemos orando. O processo de ingresso no Ensino Superior passa por uma transição, prevendo a substituição do Vestibular tradicional pelo exame do ENEM. É de capital importância que sejam dadas oportunidades aos guardadores do sábado de se submeterem ao exame, a fim de que possam chegar à faculdade. Tenho muitos alunos adventistas no "terceirão" e venho orando por eles. Deus ilumine os líderes de nossa nação para não prejudicar aqueles que, por amor a Deus, decidiram obedecer Seus mandamentos.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

NA CACHOEIRA DA MACUMBA



O ônibus tremia pelas curvas acentuadas enquanto voltávamos. Fazia um frio cru. A reunião espiritual terminara. A última noite subindo o morro. Mas era agradável falar àquelas pessoas, vê-las dispostas a ouvir do Salvador. A localização insensata da igreja – no alto do morro da biquinha – era, sem dúvida, um desafio para aquela comunidade simples, que tinha de ir a pé prestar culto ao Senhor.

O ônibus seguia vazio, o que adensava a sensação de frio. Eu, que nem chegara aos dezoito, ia acompanhado do diretor do grupo onde falara. Ele, um homem de riso fácil, calvície insinuada e baixa estatura. Havia colportado por muitos anos, tinha experiência. O sossego era o cotidiano da viagem.

Em determinado ponto, subira um rapaz magro, de fisionomia pouco marcante. Ele passou pela catraca, pagou a passagem e se conduziu à parte traseira do veículo. A partir daí, de forma a princípio banal, iniciou-se uma intrincada discussão entre este último passageiro e o cobrador.

Sentado próximo ao funcionário, pude ouvi-lo afirmar que o troco fora dado corretamente. O passageiro, aumentando o volume de voz, apontava um suposto erro na quantia. A exasperação mútua assomava pelo recinto. Finalmente, revoltado com a discordância, o passageiro cometeu seu mais sério erro: girou a catraca. Ao fazê-lo, era como se diversas pessoas tivessem passado por ali.

Diante do ocorrido, o cobrador não teve dúvidas: eu vi quando ele praticamente saltou de seu assento e partiu para cima do homem com quem discutira há pouco. O rapaz foi encurralado na janela do lado esquerdo (o do motorista). O cobrador batia em seu estômago. Eram socos sonoros, retinindo nos ouvidos dos demais passageiros, estupefatos àquelas alturas.

Estávamos em frente à cachoeira da macumba, local que deve seu nome às práticas da religião afro. Não demorou muito: o motorista parou o carro Saiu afoito de seu lugar e pulou a catraca (com agilidade surpreendente para alguém tão corpulento!). Senti um alívio momentâneo – aquela loucura terminaria, pensei. Pelo contrário! O motorista uniu-se ao seu colega e agora ambos batiam no passageiro.

Por um momento, o dilema se me afigurou: deveria dizer alguma coisa, eu que pregara sobre Jesus a semana inteira? Deveria incentivar os demais passageiros a impedir o pior? Deveria evacuar o veículo? No tumulto do meu interior, acabei não fazendo coisa alguma.

Mas alguém fez. Um homem se apresentou e deu algum dinheiro ao cobrador. Não sei precisar se ele pagou toda a dívida do passageiro agredido; mas ele e o rapaz saíram juntos, sob o rugido do motorista, que advertia o homem que girara a catraca a não mais fazer uso daquela linha de ônibus. A viagem seguiu.

O lado cômico da história ocorreu quando uma senhora à minha frente perguntou a mim e ao senhor que me acompanhara se não poderíamos lhe emprestar alguns centavos. Ela precisava completar o valor da passagem. O medo em sua fala deixou patente que ela temia que lhe acontecesse algo semelhante ao que todos acabáramos de testemunhar.

Ainda me lembro visualmente dos fatos, passados tantos anos. Sinto ainda aquela impotência, o medo a sensação de injustiça e abuso. De uma banalidade, tanta violência. Será que algo mudou no mundo ?

terça-feira, 19 de maio de 2009

LEIA E DIVULGUE "OUTRA LEITURA"

O site Outra Leitura (OL) é uma ferramenta útil para evangelismo, devocional e reflexão em grupos. Leia também a seção Questão de Confiança disponível no OL.

Sugestão de artigos:

segunda-feira, 18 de maio de 2009

PRECONCEITO INCONSCIENTE



O Pr. Diogo enviou o texto abaixo por e-mail a alguns amigos. Quando li, não me restaram dúvidas: pedi-lhe licença para publicá-lo, o que ele prontamente aceitou.
Tive meu primeiro professor negro apenas no 2° Colegial, e nunca tinha me dado conta disso. Era Geraldo. Foi meu melhor professor de História. Sua esposa, também negra, era uma ótima professora de Sociologia. Eles eram de outra denominação, mas tementes a Deus. Tenho saudades deles.
Estudando o assunto, descobrimos que não existem raças, mas etnias; não há gente “de cor”, mas gente negra ou mulata. As palavras “negro” ou “negra” são tão bonitas e honrosas quanto “morena”, ou “branco”. Na verdade, não há negros, brancos, índios e “olhinhos puxados”, mas pessoas. Todos somos simplesmente pessoas. Portanto, por exemplo, ao apontar uma pessoa em meio a um grupo, não fale: “Aquele preto ali” ou “Aquele senhor de cor”, mas “Aquele senhor negro” ou “Aquele senhor de camisa listrada”, assim como você faria normalmente para identificar outros. Trate as pessoas como tais, sem desmerecê-las, pois às vezes fazemos isso sem percebermos. Sei que muitos de nós já temos consciência disso.
Em relação à chamada superioridade branca, chego a pensar que não passa de receio quanto a uma possível superioridade negra, manifesta com muita superação e lágrimas em diversas áreas. Que o diga Jesse Owens , um atleta negro que ganhou quatro ouros olímpicos diante de Hitler e seu surpreso estádio nazista em 1936. Posso imaginar você acrescentando em sua mente nomes como Martin Luther King Jr., Lewis Hamilton (atual campeão de F1), Nelson Mandela, Barack Hussein Obama, Ben Carson, Joaquim Barbosa (STF), Rodrigo Pereira da Silva (primeiro adventista negro a ser professor de Teologia no Brasil) e tantos outros.

Deus nos criou iguais biológica e moralmente. A cor da pele responde apenas por zero vírgula zero zero... alguma coisa do DNA – isso é fato. Nossos cérebros todos têm um quilo e meio. Há espaço para todos debaixo do Sol; todos só precisam de uma oportunidade. Desculpem-me pelo desabafo, mas fico profundamente indignado com essa hipocrisia, às vezes silenciosa, que será extirpada apenas no Céu. Vivemos num campo de concentração há seis mil anos, mas podemos nos livrar do fermento racista individualmente, em Cristo Jesus.


Diogo Cavalcanti,
Editor associado da Casa Publicadora Brasileira

quinta-feira, 14 de maio de 2009

2 ANOS DE QUESTÃO DE CONFIANÇA: COMEMORE CONOSCO


Exatamente hoje, o Questão de Confiança completa dois anos. A correria é grande, mas me propuz a escrever esta postagem como uma forma de agradecer a todos os que leem, apoiam e deixam seus comentários neste espaço. Os planos? Continuar apressando a volta de Jesus através de texto que mostrem a necessidade de viver um relacionamento profundo com o Salvador. Abaixo relacionamos alguns dos textos que marcaram, ou pela polêmica que causaram ou pelo retorno dos leitores, ou ambas as coisas. A partir de agora você está convidado a relembrar esta história conosco. Boa leitura!

Nosso primeiro post: "O herói que não vencia"


Buscando com a teologia responder dilemas e questionamentos modernos: A DESTRUIÇÃO DOS CANANEUS


Buscamos embasar nossas posições através de séries de artigos: A música sacra dentro da cosmovisão adventista (parte 1, 2, 3 e 4)
Crossan na Superinteressante (parte 1 e 2)
Esperança, propósito e vida (parte 1 e 2)
Ser útil X exercer domínio (parte 1, 2 e 3)
Chamado para ter um identidade (parte 1,2 e 3)

Textos mais comentados:

NATURALISMO EM TELAS

Apresentamos esta palestra, entendo que o tema é imprescindível para compreendermos a cotrovérsia envolvendo ciência naturalista e criacionismo. Para baixar a palestra, basta clicar nas telas e copiá-las.










quarta-feira, 13 de maio de 2009

JESUS: MUITO ALÉM DO MITO

“Sem dúvida! Quem pode ler os Evangelhos sem sentir a presença real de Jesus? Sua personalidade pulsa em cada palavra. Não há nenhum mito que seja imbuído de tanta vida.”

Albert Einstein, em entrevista a George Sylvester Viereck, citado em Walter Isaacson, “Einstein: sua vida, seu universo” (São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2007), p. 396. Curiosamente, o cientista não concebia Deus como um Ser Pessoal, mas como uma espécie de energia impessoal.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

ENTREVISTA


O homem engravatado do outro lado da mesa coçou o cavanhaque e levantou a sobrancelha no que me pareceu um bom sinal.

- Seu currículo é ótimo, para alguém da sua idade - disse o Sr. Assunção - Fale-me um pouco da sua experiência em nossa área.

- Fiz estágio desde meu segundo ano de faculdade - respondi - e meu gerente disse que só não fui contratado em razão de que o quadro da empresa estava completo.

Sem falsa modéstia, posso dizer que eu tinha um bom perfil par$a o contrato desta empresa, mas as palavras que seguiram me causaram certo abalo.

- Sempre falamos isso quando não queremos contratar estagiários - disse o entrevistador e devolveu meu currículo a uma pilha em cima da mesa e recostou-se na poltrona. Havia um ar de desdém em suas palavras e, ao mesmo tempo, um tom de desafio.

- Eu consideraria essa hipótese - respondi, mantendo a compostura, - caso o gerente não tivesse me apresentado formalmente ao presidente da empresa e feito um pedido de contratação para a equipe.

- Então você conheceu o presidente da outra companhia? - perguntou-me e pegou novamente o currículo. - E se, por acaso, eu o contratasse e esse presidente o convidasse para assumir o cargo que anteriormente você buscava naquela empresa? O que você faria?

Essa era uma das grandes oportunidades da entrevista. Era o momento certo de dar uma boa resposta. Arrumei-me na poltrona e falei:

- Sr. Assunção, quando apresentei meu currículo para esta conversa eu tinha duas certezas. A primeira: não estou aqui à procura de um emprego. Busco uma carreira e sei que esta empresa fornece todas as oportunidades para que eu cresça em minha profissão. Quando for admitido em seus quadros, não vou querer sair daqui. A segunda certeza: quando vocês testarem e constatarem minha capacidade, também não quererão que eu abandone a empresa. Podem apostar em mim.

O entrevistador manteve o semblante impassível, mas, desta vez, depositou meu currículo no centro da mesa, onde havia outros poucos papéis.

- Você conhece as condições do contrato e do trabalho? Tem alguma pergunta a respeito ou alguma observação relevante?

Sim, eu tinha uma "observação relevante", algo que, para muitos, era fatal. Embora fosse algo normal para mim, muitos não entendiam o que eu iria falar:

- Eu não posso atender às necessidades da empresa após o pôr-do-sol da sexta-feira até a mesma hora do sábado. Fora esse período, estou à inteira disposição de vocês.

- E qual o motivo?

- Por questão de consciência religiosa - respondi sem rodeios e, a partir daquele momento, o Sr. Assunção parecia estar olhando para um jovem que, no lugar de terno e gravata, trajava uma túnica de dois mil anos.

- Isso pode ser um problema, se não for negociável.

- Então é um problema - eu disse, mantendo o tom formal de toda a conversa e tentando relembrar ao entrevistador que eu não era um terrorista armado com bombas ao redor do corpo, - pois isso é inegociável.

O Sr. Assunção me avaliou por um breve momento. Até posso imaginar o que pensava: "Como um jovem com futuro tão promissor pode colocar em cheque uma chance dessas por motivo religioso?" Seria difícil ele entender, mas eu já estava começando a me acostumar com a falta de compreensão de alguns.

- Tudo bem! - disse ele - Em cinco dias, se a comissão aprovar seu currículo, faremos contato.

Levantamo-nos e nos despedimos com um aperto de mãos.

Saí do grande prédio sem olhar para trás. Cinco dias se passariam e não me ligariam. Aquilo não me abalou muito, pois, assim como na entrevista, eu tinha duas certezas. A primeira: fui fiel ao meu Deus. E a segunda: nessa relação, não sou o único leal. Deus é ainda mais fiel. Outras e melhores oportunidades viriam... e vieram.

Denis Cruz

quarta-feira, 6 de maio de 2009

PLACEBOS, GENÉRICOS E O REMÉDIO


No momento em que escrevo, o presidente paraguaio Fernando Lugo vive uma crise, pressionado pela oposição a deixar seu cargo. Tudo porque até o ano passado Lugo era bispo católico e deixou a batina para concorrer à presidência. Já empossado, ele reconheceu a paternidade de um menino de quase dois anos, fruto de seu relacionamento com Viviana Carillo. Daí por diante a polêmica aumentou com a alegação de outras mulheres de que teriam igualmente gerado filhos do presidente.

Essa história ao mesmo tempo em que gerou chacotas sobre o presidente paraguaio, reacendeu debates em torno do celibato católico. Fez-me lembrar também de outro relato escandaloso envolvendo líderes cristãos.

Há quase quinze anos, uma blitz realizada em um motel de Maceió (Al) trouxe repercussões surpreendentes. Durante uma operação de fiscalização do Juizado de menores, bateram à entrada do quarto 103, solicitando aos ocupantes que passassem as identidades por debaixo da porta; lá dentro, um senhor mulato argumentava, evitando atender à solicitação.

Uma vez que as autoridades ameaçassem entrar à força, o homem pediu à sua acompanhante que mentisse sobre sua idade: a menina de 14 anos, escolhida entre outras adolescentes que se prostituem nas calçadas de um bairro carente, contou às autoridades ter 17 anos - mas não soube dizer a data do próprio nascimento!

Autuado, o casal improvável chegou à delegacia apenas para que o pior fosse constatado: o homem encontrado com uma menor no motel era, na verdade, o monsenhor Edivar de Morais, reitor do seminário da cidade e respeitável religioso. Naquela mesma noite, o monsenhor completava 30 anos de sacerdócio.

Não poucos saíram em defesa do religioso. O padre Henrique Soares da Costa, orientador espiritual do mesmo seminário, protegeu o colega ao afirmar que todos são passíveis de cair; para ele, "infelizmente ainda não inventaram uma vacina capaz de nos deixar imunes ao pecado".[1] Essa afirmação soa como um contrassenso, uma vez proferida por um religioso. Afinal, de que maneira esperar que a igreja instituída dê uma solução ao mal, se ela se vê vulnerável ao pecado tanto quanto as pessoas não-religiosas?

Por mais que a última afirmação pareça soar demasiadamente generalizada, temos que nos lembrar dos polêmicos casos de pedofilia entre padres ao redor do mundo e rememorar também os escândalos de corrupção entre líderes evangélicos. Isso nos faz questionar até que ponto os cristãos estão vencendo ou sendo vencidos pelo mal. É oportuno que, antes mesmo desse questionamento, nos preocupemos com a questão fundamental: O que é o mal?

Os caçadores do mal perdido

A definição mais lógica é a de que o mal é algo contrário ao bem. No entanto, mesmo a lógica tradicional se vê insuficiente em face da forma de se encarar a verdade no mundo pós-moderno. Conforme já vimos em outro lugar,[2] a ética do século 21 admite várias verdades, elegidas pelo indivíduo e legitimadas pela comunidade. Assim, não existiria uma verdade absoluta, universal; apenas o que é útil ao indivíduo, que pode remodelar ou descartar seus próprios conceitos ao bel-prazer.

Some-se a isso o fato de que o avanço tecnológico acarretou um clima de otimismo, capaz de invalidar ou reduzir a presença do mal no mundo, acreditando que o progresso material chegará ao ponto de banir a desordem, a criminalidade e aumentar simultaneamente o nível de satisfação com os propósitos pessoais.

Com esse otimismo, surge a ilusão de que se pode ser feliz nesta vida (para muitos, encarada como a única existência possível). Como constatou certo sociólogo: "O valor mais característico da sociedade de consumidores, na verdade seu valor supremo, em relação ao qual todos os outros são instados a justificar seu mérito, é uma vida feliz. A sociedade de consumidores talvez seja a única na história humana a prometer felicidade na vida terrena, aqui e agora e a cada ‘agora' sucessivo. Em suma, uma felicidade instantânea e perpétua."[3] O otimismo consumista deságua em cegueira crônica, enfatizando comportamentos positivos e fechando os olhos para o lado perturbadoramente caótico do homem.


Leia também a 2ª parte aqui
e a 3ª parte aqui

[1] Reencontrei esta história em http://www.terra.com.br/istoe/capa/141933a.htm
[2]Conferir "Pós-modernidade à luz de 2 Pedro 3", aqui.
[3]Zygmunt Bauman, "Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias" (Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Editor, 2007), p. 60.