quarta-feira, 31 de março de 2010

RECOMEÇANDO O GUARDA-ROUPA

O colorido esverdiado do bolor subindo pelas paredes brilhava à luz que vinha da cortina recém-aberta – suspirou. Quanto tempo não frequentara ali? Oscar contou as horas no celular. Decidiu agir rapidamente. Abriu a porta do guarda-roupa. Tirou o primeiro cabide.

Pendurado nele, um vestido verde. Servia como recordação, ela não usara há décadas. O tecido luminoso, como a manhã em que se conheceram na empresa. Coçava o bigode ralo e se lembrava do sorriso da menina, que passaria o almoço reclamando da falta de molho no macarrão.

Logo mais, estava um blaser e uma saia, de tonalidade azul-escuro. Ah, quantas saudades evocavam! De mãos dadas, entrando juntos no cartório. As palavras do juiz-de-paz soavam distantes, num tom monocórdio e formal, que pouco condizia com alegria e os temores da decisão que pensaram.

Oscar senta-se na cama, de lençois gastos e embolorados. Aonde estaria o quadro?… bem, veria isso depois. Tinha de terminar com o serviço.

Removeu mais um cabide, com roupas comuns, de momentos variados. Foi quando, bem ali, o amarelo desbotado do macacão lhe fisgou, resgatando o passado. Lembrou-se de que ela o vestia ao sair da maternidade, com Júlia nos braços. Vieram em um Fiat 147,surrado e barulhento. Mas muito felizes!

Quantas outras peças haveria? Suas mãos percorriam vestidos de festa, calças jeans escuras, taileurs, vestidos com pregas e suéteres desbotados. Por fim…

A última veste. A camisola larga e amassada. Estava cheia de pó e alguns respingos. O sangue seco resistira ali, por todos estes anos. Oscar tomou a camisola nos braços como a bandeira do país ou como um símbolo sagrado. Por um instante, não soube o que fazer. Apenas chorou. Recompôs-se e terminou de colocar aquelas coisas na mala. Pronto. O guarda-roupa vazio. Poderia, enfim, encaixar a vida na rotina.

Critérios para a MúSica Sacra

segunda-feira, 29 de março de 2010

ALEXANDRE NARDONI E ANNA CAROLINA JATOBÁ: MESMO CASO DE ANANIAS E SAFIRA?

Casal Nardoni: muito tempo para se arrepender...

Estávamos assentados à mesa, um pouco antes do almoço. Meu interlocutor: um caminhoneiro insólito, bem desiludido com a religião, mas munido de argumentos sui generes em favor do Catolicismo. À certa altura, a conversa tratou do julgamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. “Acho que em casos como esse”, dizia-me o caminhoneiro, “nem deveria haver julgamento; era pena de morte!”, concluiu, soltando uma baforada de cigarro.

Conversamos mais. Ele remeteu à história de Ananias e Safira para estabelecer que, em determinadas ocasiões na Bíblia, os culpados por um crime foram punidos com a morte. Em resposta, refleti com ele sobre alguns pontos da mesma história, narrada em Atos 5. Agora, passado um dia, posso ampliar minhas considerações. Explorarei semelhanças e distinções entre os pares de criminosos mencionados, baseado na ética bíblica.

Em que se assemelham os Nardonis e a família de Ananias? Ambos cometeram um crime, esconderam o que fizeram, mas acabaram punidos. Obviamente, todas essas aproximações são gerais, embora não sejam artificiais. A natureza de cada um dos aspectos paralelos é marcadamente diversa, embora não o suficiente para desfazer os paralelos.

Analisemos alguns dos pormenores: o crime dos Nardonis foi hediondo. A perícia revelou que, ainda consciente, a menina Isabella viu-se agredidana sala do apartamento do pai, passou por estrangulamento, para, finalmente, ser lançada do 6o andar do Edifício London.

Alguns poderiam arrazoar que perto disso, o que Ananias e Safira cometeram foi um crime muito menor! Aliás, o relato os apresenta mentindo sobre o valor de uma propriedade, ao alegarem que sua doação à comunidade se tratava da quantia integral da transação quando, em verdade, correspondia à parte do ganho. Isso seria, de fato, crime? Esse tipo de fraude se enquadraria no Código Penal? Afinal, quem foi prejudicado pelo seu erro? É preciso que nos perguntemos: todo crime é um pecado? Todo pecado é um crime? Não, em ambos os casos.

Uma definição simplista (mas útil aqui) para crime abarcaria tudo o que é contrário às leis estabelecidas, as quais partem de noções morais ulteriores. A moral é o grande impulso legislador. Mas a moral bíblica possui concorrentes. De fato, leis que sancionam o aborto, promovem os direitos homossexuais e favorecem o concobinato, por exemplo, são contrárias ao espírito dos ensinamentos das Escrituras. Desrespeitar leis assim seria um crime, com pena prevista em lei, sem constituir, necessariamente, um pecado contra Deus.

Alguns pecados, igualmente, não são enquadrados em lei alguma, conquanto firam a moral da Bíblia e, em muitos casos, até o senso moral comum. Um homem que de sua janela observe maliciosamente a vizinha indiscreta se trocando jamais será preso, sequer citado, pelo que fez. Contudo, Jesus declarou que, se um homem fantasiasse sexualmente com uma mulher que não fosse sua esposa, isso seria adultério (Mt 5:28) e, logo, quebra do sétimo mandamento (Ex 20:14).

Voltando a Ananias e Safira, o que se pode dizer sobre o que fizeram? O apóstolo Pedro deu-lhes a vigorosa senteça: O que fizeram desonrou a Deus, porque quebrando um juramento de forma banal, tratando a Deus com leviandade. O pecado da irreverência (desrespeito pela Pessoa de Deus) foi punido com morte. Notemos que a morte não ocorreu devido a atuação humana. Pedro não sacou de uma espada. Deus mesmo os feriu e matou (At 5:5, 10). Uma intervenção divina executou o casal rebelde.

O Novo Testamento não apoia explicitamente a pena capital; no máximo pressupõe sua existência nas mãos do governo civil (Rm 13:1-4), reconhecendo o valor da obediência e sem discutir muito a validade do princípio. Não temos mais a teocracia, onde Deus e Seus agentes aplicavam sentenças de morte em casos específicos.

Em um país no qual tantos se veem presos injustamente, seria temerário endossar a pena de morte. Quantas injustiças irreparáveis seriam cometidas? Ademais, penso que o único que possui direito sobre a vida humana seja Deus – sei que Ele, em Pessoa, julgará a todos com justiça. Enquanto isso, a graça paira sobre todos, até sobre Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Já que terão muito tempo – 31 e 26 anos de sentença, respectivamente –, que eles aproveitam a oportunidade para se arrpenderem e buscarem o perdão divino, enquanto sofrem o julgamento justo dos homens.

A DESPEDIDA DE ERNEST



Quando nos conhecemos, era tarde:
Barro e folhas marrons em volta, em soma,
E a urna a guardar (sendo isto o que se guarde,
Que ao trabalho se dando, a morte as toma,
Subtraindo-as por completo) as cinzas, que antes
Foram gente, e que são lembranças só;
Se sorriu, se chorou, foram instantes,
Calados na audiência com o pó.
Todos choram a falta dele ou mesmo
A falta que nos faz viver sem perda
– Tendo por certa a morte, o homem a esmo
Oscila, ora à direita indo, ora à esquerda;

E a cada aniversário, com acenos,
Comemoramos mais um ano a menos.

sexta-feira, 26 de março de 2010

O MELHOR E O PIOR DOS EVANGÉLICOS NO JULGAMENTO DOS NARDONIS



Ao que tudo indica, o casal que o Brasil ama odiar saberá seu futuro até a madrugada de sábado – quiçá antes. Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá enfrentam os momentos finais do julgamento que abala os nervos do país. E o assunto pulula de jornal em jornal, de boca em boca.

Caso algum astronauta que tenha passado dois anos no espaço esteja lendo esse texto, explico que ambos são acusados de matar a menina Isabella, de 5 anos de idade, filha de Alexandre. O crime, brutal por ser cometido contra uma criança indefesa, torna-se mais chocante em face da alta possibilidade de que o próprio pai o houvesse cometido.

Nessas circunstâncias, torna-se natural que as pessoas se posicionem com avidez. E foi tal a atitude que alguns populares manifestaram. Fizeram um cerco ao tribunal, aonde o julgamento acontece e pediram justiça. Tenho para mim que as pessoas não sabem bem o que querem quando estão pedindo justiça.

Seria o caso de lhes perguntarmos: e o que você gostaria que fosse feito? Uns pediriam a prisão de nardoni e Jatobá; outros sugeririam a pena de morte (ressuscitando o debate sobre sua aplicabilidade no Brasil); e, não duvido, alguns, se tivessem a oportunidade, “fariam justiça”, promovendo o linchamento público do casal.

Enquanto se clamava por justiça, entrou em cena o Pr. Adelilton. Arrazoando com os presentes, o líder religioso pedira ponderação. Afirmara ainda que Jesus perdoaria Alexandre Nardoni e sua mulher. O discurso revoltou os que o ouviram e aquela distinta multidão que, ora vejam, estava ali para condenar assassinos, quase assassinou ela própria o Pr. Adellilton, e somente não o fez porque a polícia soube impedir.

Assim é a natureza humana: condenamos os erros dos outros, esquecendo-nos de nossa propensão para o mal. Não estou relativizando a gravidade do crime cometido; creio que todo crime merece punição. Ao mesmo tempo, creio que criminosos sinceros podem se arrepender, enquanto muitos dos transeuntes revoltados s endurecem, quando deixam o cérebro e o coração em casa antes de sair gritando “Justiça” pelas praças.

Antes disso, o mundo evangélico já demonstrara sua pior faceta: o pastor Orlando Torres vinha, por dois dias consecutivos, cantando e dançando em frente ao fórum. Isto até ser retirado pela polícia, que julgou que ele estava incomodando. O portal Terra traz a seguinte nota: ‘“Os policiais vieram falar comigo, mas o que estou fazendo de errado? Só quero transmitir uma mensagem de paz’, disse. Questionado se havia tomado alguma sustância, ele afirmou que ‘só tomei o Espírito Santo’.”

Infelizmente, para alguns, manifestações espirituais são outro nome para descontrole emocional e falta de bom senso (ou alguém acha realmente que o Espírito Santo enviou o homem para dançar ali?). Os cristãos podem contribuir em situações de calamidade pública ou comoção nacional de muitas formas. E, sem dúvida, o Espírito Santo nos guiará a ações humanitárias e inteligentes. Diferentemente do papelão desempenhado pelo Pr. Torres.

E AS GOIABAS?


"E não vai ter mais goiabas?"

Pergunta feita pela Izabel, 7 anos, quando expliquei, durante um estudo bíblico, que a Terra ficará destruída e cheia de gente morta durante o milênio bíblico (Jr 4:23-26; Ap 20:4-5). Ainda bem que o Senhor Jesus criará Novos Céus e Nova Terra (Ap 21), restaurando na Criação a beleza edênica; entre outras coisas, ali teremos goiabas da melhor qualidade!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Avanços Ecumênicos

O ÍMPETO

Cabrum: foto incrível da Mariele Arend, super-fotógrafa e amiga

Cai.
A abóboda desfia,
Numa tensão tenaz e rústica,

Como
Fíbula delicada,
Com aspecto de diamante

– Cisco,
Pó composto de nada,
Descendente do atelier.

Caem
Da fístula de ínias núbilas.
Fundem-se às auroreais costuras.

Feéricos,
Giram agora os gonzos
Dos próprios portais atmosféricos.

Foi
Reaberto o celeiro.
Direto do torno da fúria,

Vêm
Fios tonais aos jorros
Do vermelhidão recitante,

Por
Raios e por rabiscos
Entrecortados salto em salto.

Com
Força de afronta, a frota
Disfarça o insular desabafo.

Caem:
São pontos de uma renda
Que belisca a aba de aço abaixo;

Deixam
A abside e entram no embate
– Promovem a guerra primeva.

Caem:
O orador arpinite
Diria com voz ininflexa

Desta
Monotonia com
Que dão cor aos olhos das ruas.

Passam
Inflexíveis e rígidos
Raios a ruir a atmosfera;

Quebram
Hastis, homilia ampla,
Crebra, imponente, paquidérmica!

Nova,
Tine a tonalidade
Na hemóide encenação que esbarra

Num
Limite: os bosques sentem
O gládio cerúleo ceder;

Várzeas
Não transbordam; dois sob
Um toldo perdem seu pretexto.

Dócil
Morre a enchente; operários
Retornam para o domicílio.

Cessa
O ímpeto de águas ímpares.
E agora, o que se vê? Findo, o ímpeto,

Sendo
Uma explosão volátil,
Deixa só o rastro da queda
.
Leia também:

O CÉU FUNDADO POR GLAUCO E A FÉ DA BÍBLIA

Cadu: o Santo Daime aumentou os distúrbios do jovem

Quando o motorista do Fiesta preto desceu, seus olhos esbulhados e a adrenalina na voz expuseram sua insanidade. "Sou o Cadu. Fui eu que matei o Glauco", apresentou-se o rapaz de 24 anos, preso no domingo de 22 de Março – dez dias após ter matado o cartunista Glauco.

Glauco, conhecido por suas tiras publicadas em grandes jornais, criou o cartoom Geraldão, um solteiro que mora com a mãe. As histórias possuem um humor picante, e insinuações de incesto entre as personagens.

O cartunista, criador de outras tiras, recebeu iniciação na seita do Daime em 1989. A religião cultua um chá alucinógeno indígena, o Santo Daime, redescoberto pelo seringueiro Irineu (Mestre Irineu), fundador da seita. Reunindo tradições cristãs, das religiões afro-brasileiras e de misticismos indígenas, a seita é “uma faculdade da Nova Era", como declarou Glauco no site da comunidade Céu de Maria, fundada por ele.

Cadu, apelido de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, frequentava o Céu de Maria há três anos. Isso serviu para agravar seus problemas psíquicos. No dia do crime, Cadu e Felipe Lasi (que sustenta que o primeiro o forçou) invadiram a casa de Glauco em Osasco (SP), por volta da meia-noite. Cadu queria forçar o mentor a admitir que seu irmão era Jesus encarnado. Tanto o desenhista, como o filho Raoni, foram mortos. Cadu esteve foragido, até ser preso cruzavando a ponte da amizade (divisa entre Paraguai e o Brasil). Repatriado, está preso no Paraná, e aguarda o julgamento, que poderá sentenciá-lo a até 95 anos de prisão.

A história toda nos faz questionar, entre outras coisas, a validade de algumas crenças. Desenvolver a espiritualidade é a demanda da nossa época. Antigamente se dizia (e alguns ainda batem na tecla) que a religião é coisa boa. Mas como a palavra “religião” saiu de moda, e “espiritualidade” parece mais abrangente, há um incentivo para que cada pessoa viva sua crença, seja ela qual for.

Obviamente, esse conceito geral trata as crenças como se fossem equivalentes, na esteira da máxima “todos os caminhos levam a Deus”. Será? Se cada religião prega um deus (ou uma concepção de deus), não seria melhor afirmar que “todos os caminhos levam a algum deus”? Em contrapartida, se a primeira frase for correta, teríamos de admitir que as crenças são imperfeitas e apenas reproduzem, de forma distorcida e falha, aspectos do mesmo Deus, e todas estariam, simultaneamente, certas e erradas. Mas nenhuma delas seria absolutamente confiável. E ninguém teria certeza sobre sua própria crença.

Em virtude do direito individual da crença, o uso religioso do Daime ficou estabelicido no Brasil desde o último Janeiro. Entretanto, o episódio da morte de Glauco e Raoni parece deixar claro o potencial destrutivo dessa fé. A revista Veja informou que, segundo a família, Glauco sabia desde 2007 que o rapaz tinha transtornos mentais e não poderia dar-lhe o chá do Daime, e, mesmo assim, continuou oferecendo-lhe a droga. Talvez, isso nos ajude a perceber que cada crença leva a um caminho lógico diferente, o que, por sua vez, nos conduziria ao próximo passo: procurar uma religião que conduza a uma maneira de vida que satisfaça as necessidades humanas intrínsecas e nos ajuste à realidade.

O Cristianismo é essa fé. Através da Bíblia, temos respostas para aquilo que está errado em nosso mundo (Gn 3:17-19; Ec 7:29; Rm 5:12; 7:18-19; 8:20), e ela nos revela o que Deus fez e fará para restaurá-lo (Jo 1:17; Rm 5:17; Tt 2:1; Ap 21).

Fanáticos existem em todas as crenças (e descrenças). Mas ao olharmos para o que prega uma determinada crença, o que vemos? Revolta contra o mundo ou o desejo de tornar melhor o mundo? Regras sem sentido ou princípios benéficos? Incentivo à ganância ou desapego a valores puramente materiais? Relações abusivas ou relacionamentos saudáveis? O próprio Jesus disse que conheceríamos as propostas religiosas pelos seus frutos (Mt 7:16-23).

A religião é boa? Apenas quando cumpre seu papel, de unir homem e Deus. Na verdade, apenas a religião de Jesus faz isso, pois ninguém irá ao Pai sem Sua mediação (Jo 14:6).

sexta-feira, 19 de março de 2010

O LIVRO PARA SER SEGUIDO

O astro negro mais bem pago de Hollywood, Denzel Washington, estreia-se em mais um filme. Na esteira dos filmes anti-fanatismo religioso que se ao 11 de setembro, O livro de Eli fala de um homem qu segue um livro sagrado e é capaz de ações violentas em nome de sua crença. Em entrevista ao G1, o ator fala da relação entre a ficção e a Bíblia.

Perguntado sobre a dubiedade como o livro sagrado cristão é retratado, Washington responde: “Sabe, sei que isso vai soar estranho, mas a Bíblia é como uma arma. Se ficar aí, em cima de uma mesa, nunca vai machucar ninguém. É uma questão de como você vai usá-la. E isso não se aplica apenas à Bíblia, mas também às palavras. Mas neste caso é interessante porque Eli escuta essa voz que lhe diz para levar a mensagem da Bíblia pelo país, por uma boa causa. Mas ele é o homem mais violento do filme. Quando ele chega numa encruzilhada que o leva a esta cidade onde tem que lidar com um homem cruel, ele precisa também lidar com sua própria humanidade.”

A analogia da Bíblia como uma arma não sugere que ela seja neutro, o que a princípio o ator intencionara dizer. Pelo contrário: a analogia nos permite concluir que a Bíblia é potencialmente perigosa. E que, talvez, seu lugar seja mesmo ficar sobre a mesa, parada em seu canto, para que não ocorra nenhuma tragédia…

Mais à frente, o ator define religião como “ quando o homem se apodera de um deles [de Deus ou dos ótimos livros] e diz o meu está certo [lado] e o seu errado. Mas assim é o ser humano. É a nossa falha, uma falha fatal.” Parece-me que o astro partilha da visão difundida desde o Iluminismo, a qual assume que a Religião gera exclusão e intolerância naturalmente. Secularistas de todos os tempos se valem do mesmo argumento. Claro que há religiões que pregam o pacifismo, e o Cristianismo é uma delas. Se todos os cristãos seguiram coerentemente as orientações bíblicas sobre a tolerância e liberdade religiosa, isso é outra história. Mas seria injusto argumentar que a incoerência da parte de alguns mine os princípios pelos quais tantos outros lutaram e deram a vida.

Denzel Washington também reconhece um princípio-chave comum às religiões. “‘Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você’. Essa é a mensagem fundamental de todas as religiões, mas, de alguma maneira, nós distorcemos isso.” Acredito que o autor tenha aqui expressado mais claramente sua perspectiva (já que ele também é um cristão). O problema somos nós, divididos e incoerentes. Em contrapartida, não se pode nivelar todas as religiões, mesmo aquelas que possuem princípios positivos. A religião verdadeira consiste em restaurar o relacionamento perdido com Deus e apenas o Cristianismo oferece uma forma de realizar isso: através de Cristo (Jo 14:6).

Sendo a palavra verdadeira, absolutamente verdadeira de Deus (Jo 17:17), a Bíblia é o livro para ser seguido – com estudo e mediante a direção do espírito Santo. E esses fatores fazem a diferença.
Colaboração: Gerson Linhares

CALANDO OS CRÍTICOS DA ESCOLA ADVENTISTA

Uma amiga me encaminhou um post de um certo Viko Rezende. No texto, seu autor criticava a Escola adventista Santa Isabel (imagino que esteja localizada em São Paulo, mas não estou bem certo). Três são as razões para a crítica: a primeira, devido a uma anedota contada por um docente, a segunda por ignorância (ou preconceito?) com respeito aos pressupostos criacionistas e a última que trata das regras da escola.

Sobre a anedota, não há muito que se diga, apenas que Rezende a tomou ao pé da letra, razão pela qual aconselho aqueles que lhe são próximos a terem cuidado com as coisas que lhe dizem. Seu comentário é tão forçado que desqualifica sua credibilidade em interpretar dados.

Reproduzo o texto, para que o próprio leitor julgue por si mesmo: “Pois um menino comentou que seu professor de ciência, vejam bem, ciências aplicou a piada de que, se cruzar um cão Bassê (conhecido como cão lingüiça), com um lobo por exemplo, poderemos ter um vira-latas ou mesmo um São Bernardo. Daí eu me pergunto, como se formam nossos professores? O que é passado nas escolas de magistério e mesmo nos bancos das universidades? Será que tem professor comprando diploma ou dando aula sem os mesmos? Me falaram que em escola particular pode, o que não seria nenhuma coisa estranha.”

Não achar graça em uma piada é algo perfeitamente plausível; mas daí arrumar pretexto para matutar sobre a falta de qualificação docente é tão exagerado como ler o termo “linguiça” acima e criticar a falta de respeito por parte dos bloqueiros com a Reforma Ortográfica!

A segunda crítica, aborda a convivência entre dinossauros e homens, que o autor afirma ser anti-científica (e ele se admira que o conceito tenha partido de um professor de Ciências). Para início de conversa, a Ciência não é uma área neutra do conhecimento. Todos somos influenciados pelo espírito da época (zeitgeist), uma espécie de corpo de pressupostos que dita o que é ou não aceitável. Isso permeia a sociedade e regula as demais cosmovisões, restringindo-as ou modificando-as.

Em um mundo dito pós-moderno, a religião é esvaziada, coisa que já pude abordar em outros textos aqui do blog. No entanto, o Cristianismo, em sua essência, não se define como somente “mais uma religião”. Nem é uma religião apenas no sentido atual do termo. O Cristianismo influencia todas as áreas da vida, incluindo pensamento, concepções, critérios de julgamento, padrões de conduta, valores, etc, igual a qualquer outra cosmovisão bem-desenvolvida. Não à toa, cientistas cristãos destoam do coro dos contentes, não se adequando às premissas do naturalismo filosófico, por mais que esse seja legitimado pelo zeigeist atual.

Afinal, uma cosmovisão propagada não é, necessariamente, a verdadeira. O autor já estudou as propostas criacionistas? Por outro lado, Viko Rezende conhece as limitações da datação via carbono catorze? Entende as impossibilidades que o registro fóssil oferece à teoria de Darwin, no que tange à carência de espécies de transição autênticas?

Pelo que o autor escreve, seu conhecimento é bem superficial. “[…]Nestas escolas ditas religiosas a Bíblia não é considerada um livro de religião e sim um tratado de física e biologia. Ali temos o ano que a Terra foi criada e como todas as coisas foram feitas. Ora bolas, se assim fosse, não seria mais uma religião!”. Percebe-se que Rezende não faz mais do que tagarelar as velhas críticas à Religião. Faltou que ele pensasse por si mesmo…

Por último, a postagem não se exime de criticar a instituição por coibir o uso de jóias. O que ele não pondera (talvez por desconhecimento) é o fato de os pais assinarem um documento, declarando sua ciência em relação às normas da escola.

Em caso de se recusarem, por quaisquer motivos (até mesmo por convicções religiosas, como o autor sugere ao mencionar a aliança de Tucum), a escola é livre (enquanto instituição particular) a aceitar ou não a matrícula, ao mesmo tempo em que os pais têm igual liberdade para aceitarem ou não as regras propostas, e decidirem procurar outra escola. Vejamos a coisa de outra forma: estudei até o Ensino Médio em colégios particulares não confessionais, os quais possuiam regras diferentes, e puniam aqueles que as desconsiderassem. Dentro desse prisma, a crítica de Viko Rezende mostra-se quase o resquício de uma rebeldia adolescente contra as “regras más”.

Claro que as escolas adventistas não são perfeitas; todavia, elas perseguem um ideal, e mesmo entre os não-cristãos, continuam sendo elogiadas pelo seu alto padrão de qualidade e pelos valores que ensina. Creio que somente esses fatores (além de outros) são suficientes para calar os seus críticos.


Colaboração: Andreia Carvalho

segunda-feira, 15 de março de 2010

PRETINHO BÁSICO


Era domingo e eu acabara de fazer uma visita para uma mulher afastada da igreja. Saíra da casa, entrara no carro, dera a partida e… nada! O carro não saiu do lugar. Meio constrangido, falei com a pessoa e ganhei uma carona ao posto de gasolina mais próxima.

Enchi duas garrafas plásticas emprestadas com gasolina e voltei aonde estava meu carrinho, inerte. Achei que a dose de gasolina resolveria o problema, uma vez que o painel indicava que o combustível estava na reserva. Porém, para minha surpresa, meu automóvel continuava autoimóvel. Conclusão: a mulher, seu marido e seus irmãos tiveram de empurrar meu carro, até que ele “pegasse”.

Fiz a próxima visita. Conversamos, lemos a Bíblia e oramos. Quando fui sair… bem, você já imagina. Precisei de mais outra família para empurrar meu carro. Alguém me disse jocosamente que “família que empurra o carro do pastor unida, desce ao tanque batismal unida!”

Ainda precisava buscar minha esposa no centro da cidade. A cada semáforo fechado, eu reduzia um pouco, mantinha a distância, e continuava avançando devagar, sem jamais parar o veículo de vez. Acontece que, mesmo com toda essa manha, o carro me deixou na mão novamente. E como pouco azar não me agrada, lá estava eu, no centro da cidade, procurando quem empurasse minha máquina, em plena chuva. Além disso, faltava buscar minha esposa, encontrar um mecânico e ir pregar na igreja centreal… (no final, deu tudo certo, com algum esforço.)

Tenho um Corsa 96. Meu carro é do século passado. Ele já conta com quatorze anos e, decididamente, não quero estar com ele em sua maioridade.

Eu me lembro de quando dava estudos bíblicos a pé. Andava o dia inteiro, até o pé criar bicho. Emagrecia a cada mês. Depois de casado, ainda continuava a pé ou dependente de caronas. Até que eu e minha esposa nos esforçamos para comprar nosso primeiro carro.

Fizemos algumas viagens inter-municipais e inter-estaduais com o nosso Corsa. Ele é econômico e atende bem às necessidades de um casal sem filhos. Ou, pelo menos, atendia.

Nos últimos meses, tem trazido alguns gastos, dado algumas dores de cabeça. “Pastor, e o carro?”, às vezes me perguntam. “Está bem, no mecânico”. Em todo caso, do primeiro carro a gente nunca se esquece. Sempre terei em mente o número da placa, da cor do estofado, as histórias, as multas (bem, desta parte posso até me esquecer…). Costumo brincar dizendo que é carro de pobre, mas é meu, paguei por ele. Não dizem que ter algo preto é básico? E lá vou eu, pelo verão afora, num carro preto, sem ar-condionado.

DELENDA EST CARTAGO

Ele quer me tornar como ele é,
Na excitação do mau que em mim trago;
Assalta à alma e lha aperta e constrange.
Enviara o Céu mais de uma falange
Se eu clamasse, temendo, pressago,
A minha queda próxima e dura.

Uma faísca e o metal se depura?
Falte à figueira flor, fruto à vide,
Traz-me gozo Deus, meu Salvador!
Auxílio Iavé dá, não me confundo;
E propondo o inimigo o que for
De mais atraente e mais prazeiroso,
Já venceu Jesus por mim o mundo.

Resquícios têm a carne do gozo;
Oh, destrua, Senhor, quanto houver
De engano – seja o engano qualquer.

IGREJA: MODO DE USAR

Pode a igreja sobreviver nesta época? O Pós-Modernismo desqualifica as instituições e o tradicionalismo, dando preferência a grupos independentes e a uma mentalidade baseada em tolerância, dúvida constante e experimentalismo. Em vista disso, cabe a pergunta: qual o benefício de se frequentar uma igreja? Não é possível (e até mais viável) cultivar sua espiritualidade em casa, sem regras pré-estabelecidas e convenções antiquadas [1]?

Essas considerações não devem ser ignoradas pelos adoradores cristãos do século XXI, mesmo que haja a tentação de nos fecharmos numa subcultura religiosa; procedêramos assim, e perderíamos a influência sobre a sociedade [2]. Por outro lado, trata-se de uma questão de sobrevivência: o impacto dessa mentalidade sobre a cosmovisão cristã tem diminuído a importância da frequência à igreja; em verdade, isso é sintomático da própria desimportância com a qual se considera a igreja, que deixa de ser aquilo que a Bíblia afirma sobre ela – um ambiente de amadurecimento espiritual constante.

Como resgatar a visão de Deus sobre a igreja em meio aos questionamentos pós-modernos? Apenas pela reafirmação dos princípios revelados, a igreja achará suporte para responder com propriedade aos ataques do pensamento em voga. Neste artigo, tomaremos uma passagem em especial, mediante a qual reflitiremos sobre a condição da igreja.

A partir do estudo de Efésios 4:7-16, verificaremos (a) O papel de cada cristão; (B) A função da igreja; (C) O tipo de experiência que se pode usufruir na comunidade de fé; e, finalmente, (D) A postura para que a igreja continue crescendo conforme o plano de Deus. Cada um desses tópicos receberá uma resposta dentro do texto de Efésios. Antes, analisaremos duas importantes verdades que englobam os ensinamentos da passagem em lide.

I – Os dons espirituais são o resultado da vitória de Jesus (vv. 7-10)

Paulo nos fala da Graça (gr.: χάρις) mensurável pelos dons repartidos entre todos os cristãos (v. 7); apesar do apóstolo discorrer em diversas ocasiões sobre a “graça salvadora”, aqui ele fala sobre a “graça para o serviço” [3]. Logo, a igreja é uma “comunidade carismática” [4], no sentido de que recebe plena capacitação através dos dons espirituais. Afinal, “[…] cada cristão recebe uma função ministerial, para a qual os líderes da Igreja precisam equipá-lo” [5], como ficará claro a seguir.

O escritor inspirado também identifica a distribuição de dons como resultado da vitória do Senhor Jesus Cristo alcançada na cruz. Para isso cita as palavras do salmo 68:18, que se apresentam levemente modificadas. Para alguns estudiosos, as tentativas de conciliar as palavras do Salmo exatamente com o uso que Paulo fez delas gerou apenas resultados mal-sucedidos [6]. Para tais eruditos, Paulo teria apenas feito uma aplicação e não citado literalmente as palavras de Davi [7].

Entrementes, Calvino não vê disparidade, uma vez que “dizer que Deus manifestado na carne recebeu dons dos cativos é a mesma coisa que dizer que ele os distribuiu com sua Igreja.” [8] Ademais, o próprio Salmo estabelece (nos vv. 19-20) que o povo de Deus “compartilha os benefícios da conquista” [9]. John Stott afirma que os conquistadores recebiam presentes dos conquistados, os quais se tornavam dádivas a serem repartidas com o povo vitorioso; como evidência adicional, Stott menciona que as próprias versões bíblicas Siríaca e aramaica atestam que o Salmo posso assim ser interpretado, uma vez que empregam a forma verbal “deu” [10].

A seguir Paulo pesa as consequências da poderosa afirmação do verso 8: “Repare na implicação aqui: dizer que Cristo ‘subiu’ significa que antes Ele deve ter ‘descido’, isto é, até a profundeza deste mundo. Aquele que desceu é o mesmo que agora subiu para bem alto, acima do céu – a fim de que pudesse preencher todo o universo.” (Ef 4:9-10) [11]. Jesus, em Sua humilhação, alcançou a vitória que agora, em Sua exaltação, reparte com Seu povo. Após essa reflexão teológica, Paulo trata da diversidade e funcionalidade dos dons espirituais.

II – Os dons espirituais visam o crescimento espiritual conjunto de cada membro da igreja (vv. 11-16)

Se, como um intérprete notou, o círculo dos que recebem a revelação de Jesus restringe-se aos santos apóstolos e profetas (v. 11) [12], muitos mais são os que podem participar do ministério, de forma direta! Afinal, Deus designou um dom para cada cristão.

Não se trata apenas de ocupar um cargo na igreja, porque uma indicação sem se levar em consideração os devidos dons não terá valor [13]. Uma vez identificados com Cristo, somos parte de Seu corpo, o que conspira contra a ideia de uma “piedade individualista, típica de muita prática mística tradicional e da Idade Média tardia”; pertencemos a Cristo, mas pertencemos a Ele “juntamente com outros, com a implicação óbvia de que uma coisa sem a outra” faria o todo desequilibrado e doentio [14].

A lista de dons citados (v.11) não é extensa e nem se pretende definitiva. A despeito disso, Paulo ressalta o propósito dos dons sobrenaturais, dizendo que foram fornecidos “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4:12, VARA, 2a ed.).

A palavra “aperfeiçoamento” (gr.: καταρτισμός) sugere o conserto de algo para um melhor uso (cf.: Mt 4:21 [15], onde se diz que João e Tiago consertavam [καταρτίζω] as redes). A New American Standard Bible traduz o vocábulo empregado em Efésios por “preparo”. Já o termo “edificação” (gr.: οἰκοδομή, de oikos =casa e demõ= construir), aparece na Septuaginta em alguns textos de Jeremias (cf.: 1:10; 24:6; 31:4; 33:7), que tratam da edificação de Israel; provavelmente, o sentido metafórico de Jeremias influiu sobre Paulo [16]. “[…] Isto traz a lume com maior clareza que o propósito imediato dos dons de Cristo é o ministério realizado por todo o rebanho; seu propósito último é a edificação do corpo de Cristo, ou seja, a igreja.” [17]

E quando essa dinâmica acontece na congregação? Em primeiro lugar, amadurecemos espiritualmente, nos tornando semelhantes a Cristo (v. 13). A igreja funciona como uma estufa: trata-se do ambiente controlado para prociar um crescimento espiritual harmônico e coletivo, impossível de ser atingido individualmente, uma vez que ninguém possui todos os dons espirituais. Precisamos uns dos outros para crescer em Cristo, seguindo “a verdade em amor” (v. 15, 16). “A igreja não é um corpo que iventa ideias”, declarou Francis Schaeffer; “a igreja é uma declaração daquilo que Deus revelou a respeito de si próprio na Escritura”, conclui ele [18].

Uma vez partícipes do processo de maturação, resistiremos solidamente aos enganos. “Então não seremos mais crianças, que são barquinhos agitados pelas ondas e levados de um lado para outro por todo tipo de ensinamento que apareça.” (Ef 4:14) [19].

Uma vez estudado o texto, voltemos aos tópicos iniciais:

(A) O papel de cada cristão: somos chamados para exercer nossos dons e coloborar com a comunidade cristã local (vv. 11-13);

(B) A função da igreja: a igreja deixa de ser entendida como um organismo ou instituição, passando a ser considerado um corpo vivo, o corpo do Senhor Jesus, no qual cada parte deve agir de forma articulada (v.16);

(C) O tipo de experiência que se pode usufruir na comunidade de fé: apenas na igreja se usufrui da verdadeira comunhão e de uma espiritualidade sadia, que se inspira em Cristo e se exercita no convívio com outras pessoas resgatadas por Ele (vv. 14-15);

(D) A postura para que a igreja continue crescendo: acima de estratégias, programas e investimentos (todos eles muito importantes!), deve estar o treinamento e desenvolvimento dos dons espirituais (v. 12). Um aigreja que cresce espiritualmente, crescerá numericamente. Se visarmos o crescimento numérico, não teremos o crescimento espiritual assegurado.


[1] Sobre o Pós-Modernismo e sua influência, veja Douglas Reis, Cristianismo tolerado, Cristianismo esvaziado, disponível em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2010/03/cristianismo-tolerado-cristianismo.html .
[2] Douglas Reis, “O teto que se fecha sobre nós” (ou por que o evangelho perdeu sua relevância no cenário contemporâneo?), disponível em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2010/02/o-teto-que-se-fecha-sobre-nos-ou-porque.html.
[3] John Stott, A mensagem de Efésios (São Paulo, SP: Aliança Bíblica Universitária, 1986), série A Bíblia fala Hoje, p. 111.
[4] Idem.
[5] Robert Gundry, Panorama do Novo Testamento (São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 2007), 8a reimpressão da 2a ed., p. 348.
[6] Francis Foulkes, Efésios: Introdução e comentários (São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2006), 7a reimpressão da 2a ed., p. 96
[7] William Hendriksen, Comentário do Novo Testamento: Efésios (São Paulo, SP: Casa Editora Presbiteriana, 1992), pp. 237, 236.
[8] João Calvino, O livro dos Salmos (São Paulo, SP: Edições Paracletos, 1999), p. 661.
[9] Derek Kidner, Salmos 1-72: Introdução e cometários (São Paulo, SP:Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2006), 6a reimpressão da 1a ed., p. 264.
[10] John Stott, opus citado, p. 112.
[11] J. B. Phillips, Cartas para hoje, trad. Márcio Loureiro Redondo (São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1994), p. 114.
[12] Gerhard Dautzenberg, Teologia e pastoral na tradição Paulina em Josef Schreiner e Gerhard Dautzenberg, Forma e exigência do Novo Testamento (São Paulo, SP: editora Teológica, 2004), p. 149.
[13]Francis Foulkes, Efésios, p. 97.
[14] D.G. Dunn, A teologia do apóstolo Paulo (São Paulo, SP: Paulus, 2008), 2a ed., pp. 464-465.
[15] Francis Foulkes, idem.
[16] (1) W.E. Vine, Merril F. Unge e William White Jr., Dicionário Vine (Rio de Janeiro, RJ: 2002), p.582; (2) Lothar Coenen e Colin Brown, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2000), 1a reimpressão da 2a ed., p. 290.
[17] William Hendriksen, opus citado, p. 246, ênfase do original.
[18] Francis Schaeffer, Verdadeira espiritualidade: uma vida cheia de beleza, que edifica e inspira (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2008), 2a ed., pp. 224-225.
[19] Novo Testamento, Versão fácil de Ler (São Paulo, SP: Editora Vida Cristã, 1999), p. 299.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O TAPINHA NÃO DÓI, MAS O CARINHO…

O nariz tuberiforme denuncia o parentesco do reverendo que comentou abusos físicos e sexuais ocorridos em escolas católicas da Baviera (Alemanha): Georg Ratzinger é irmão papa Bento XVI. Ratzinger – bruder conta que ele próprio (que não se envolveu diretamente com os escândalos), inicialmente, “também estapeava pessoas no rosto, mas” isso teria lhe deixado “com a consciência pesada". O reverendo dirigiu o coro da diocese de Regensburg desde o ano de 1964 a 1994 [1].

Outro reverendo, Federico Lombardi, um dos porta-vozes do Vaticano, afirmou que os casos de abuso na Alemanha causam aflição, mas que a igreja não é a única que sofre com esse tipo de problema [2]. Bela forma de atenuar os escândalos, que se multiplicam pelos quatro cantos do globo.

A pedofilia e os abusos sexuais são sintomáticos. Ao proibir o desenvolvimento de uma sexualidade saudável – como se ela fosse pecaminosa –, a Igreja Católica dá margens para os comportamentos indubitavelmente pecaminosos. Infelizmente, as soluções propostas – seleção mais rígidas de seminaristas, maior monitoramento dos oficiais da igreja, aumento do rigor nas punições, etc – não passam de medidas paliativas. Parece que o Cristianismo continuará sendo maculado pelo pernicioso exemplo de Roma…

Leia também:

Placebos, genéricos e o remédio parte 1

[1] “Irmão do papa diz que deu tapas em alunos em coral de escola”, disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,irmao-do-papa-diz-que-deu-tapas-em-alunos-em-coral-de-escola,521734,0.htm .
[2] “Vaticano afirma que abuso sexual não é problema só da Igreja”, disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,vaticano-afirma-que-abuso-sexual-nao-e-problema-so-da-igreja,521735,0.htm .

segunda-feira, 8 de março de 2010

A PRIMEIRA VEZ DE DALVA

A menina de quase dezesseis anos saíra do chuveiro com uma dúvida. Andava de roupão pelo quarto, procurando de cabide em cabide algo que a deixasse à vontade, mas que não parecesse muito vulgar. Seria uma noite e tanto! Quando finalmente se decidiu por uma calça não muito justa acompanhada pelo seu suéter preto, borrifou o melhor perfume pelo pescoço e pulsos. Logo, Mailcon viria.

“Dalva, telefone”. Ouviu a mãe chamar-lhe. Sobressaltou-se: ninguém poderia saber de nada. Seus pais não entenderiam. Ela já estava grande e tinha que andar com suas pernas. “Alô?”. Ufa!, era a Juli, da mesma sala em que estudava. A outra adolescente queria saber se Dalva topara o convite de Mailcon. Ela balançou afirmativamente a cabeça antes de falar, esquecendo-se de que a amiga não podia vê-la. Confessou que estava nervosa, e não era para menos: seria sua primeira vez.

As duas conversaram por uns dez minutos e Juli lhe desejou que aproveitasse muito bem aquela noite. Estaria rezando por ela. Dalva subiu os degraus antes que a mãe viesse perguntar por que sussurrara no telefone. Passou a chapinha nos cabelos, pôs uma maquilagem discreta e se olhou no espelho. “Acho que estou bonita”, confessou em voz audível.

Dali a uns poucos minutos, um monza de cor metálica parou na porta da casa. Dalva olhou pela janela e foi ligeira abrir a porta. Já dissera à mãe que sairia com o pessoal da escola. Não era exatamente uma mentira, já que Mailcon, um homem charmoso, de uns quarenta anos, trabalhava na biblioteca da instituição. Os dois se conheceram ali, e se falaram muitas vezes. Naquela noite, ele comprimentou Dalva, que se mostrava visivelmente nervosa.

Como estava cedo, pararam em uma lanchonete.
“Você quer mesmo ir?”, perguntou Mailcon, após uns cinco minutos, com sua voz de barítono.

“Bem, eu sempre tive curiosidade… Acho que vou gostar.”

“Farei tudo para que você se sinta tranquila; o ambiente é muito apropriado para a gente estar em paz.”

Falaram de outras coisas, até que Mailcon, olhando o relógio percebeu que já era a hora.

Pelo caminho, Dalva realmente se empolgara, pensando em como seria aquela noite. Na última semana, até sonhara com isso. Não queria esperar até o casamento para entrar lá. Tinha que aproveitar a oportunidade.

Chegaram. Dalva observou as letras luminosas do letreiro. Sentiu um calafrio. Quase retrocedeu; mas, depois do convite de Mailcon, e com toda aquela “produção”, não poderia desistir.

Foram chegando, passando pela entrada, mudos, estudando o momento. Até que uma senhora, de terno bege se aproximou de Dalva e, sorridente, lhe estendeu a mão: “Bem-vinda à nossa igreja!”

FILHO DE QUARTETEIRO...

Bob Franklin e os atuais Suntones: de pai para filho

Quem olha para o sujeito franzino, costumeiramente posicionado à esquerda da plateia, talvez não se dê conta imediatamente do potencial do cantor. Jay Parrack teve a difícil missão de substituir o tenor Brian Free no quarteto Gold City. Por dez anos (1994-2004), Jay mostrou-se não apenas um substituto à altura (e olha que altura é a palavra exata!), mas apresentou uma qualidade técnica suficiente para intimar seus sucessores.

Jay pertence a uma tradição de tenores americanos que sabem empostar com maestria a voz única, aliada ao uso exemplar do falsete. Não que Jay Parrack seja um novo Russel Oberlin, o contratenor lírico que marcou época; mas, sem dúvida, é um dos nomes mais fortes da Souther Gospel Music – aquele estilo que poderia ser chamado de os quatro filhos de Francisco.

Poucos sabem que Jay possui pedigree: ele é filho de Johnny Parrack, lendário tenor que cantou no Kingsmen (1971-1977). Papai Johnny saiu do tradicional quarteto e criou seu próprio ministério. Pai e filho gravaram um CD intitulado …In his steps, contendo pérolas da Souther Gospel. De fato, Jay soube seguir os passos de seu pai, e se tornou ele próprio um grande cantor.
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Na época em que os homens usavam o pézinho do cabelo mais cumprido, o Gaither Vocal Band estava em uma de suas melhores fases. Bill tinha ao seu lado Michael English (que gritava menos do que na sua atual segunda temporada com o grupo); além dele, o comediante Mark Lowry integrava o grupo, junto com o tenor Terry Franklin. Terry tinha uma interpretação que alternava a voz suave com arroubos de lirismo, motivo pelo qual muitos confundem sua voz com a de Steve Green (que também integrou o quarteto de Bill Gaither).

À exceção de David Phelps, Frankling foi um dos melhores (senão o) tenores do grupo, com interpretações memoráveis, como em Little is much e There is a fountain. Sem dúvida, ele fez falta no DVD comemorativo dos 25 anos do Vocal Band. A canção i'll meet you in the morning, que aparece na produção, teria ficado melhor em sua voz.

Assim como Jay Parrack, Terry Frankling também herdou de seu pai o talento para cantar em quartetos. Bob Franklin esteve à frente dos Suntones, um grupo de Barbershop, gênero de música a capela, geralmente masculino, que valoriza mais a harmonia do que a capacidade dos solistas. Bob e Suntones ganharam competições entre quartetos, recebendo prêmios nacionais em convenções. Seu filho Terry cantou em um grupo dos filhos dos componentes dos Sun, o Sons of tones.

Após sua estada no Gaither Vocal Band, Terry Franklin e a esposa Barbi fundaram o ministério Heart for World. Além de serem compositores premiados, possuem trabalhos gravados com os filhos Tyler e Travis; de fato, The Franklins formam um quarteto misto, que canta a capela no melhor estilo Suntones.

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Gabriel Bernal é um desses homens que tem o privilégio de unir negócios e família. Sua voz sólida de lead vocal (o que no Brasil chamamos de 2o tenor) ganhou notoriedade ainda quando ele integrava o quarteto Decisón (hoje The Heralds of Hope). A formação de 1987 chegou a gravar no ano passado um concerto no teatro Teletón, em Santiago, Chile.

“Senti-me honrado em estar com meus companheiros de música, fazia 20 anos que não estávamos juntos”, declarou Gabriel em entrevista após o concerto. Os integrantes da formação clássica do Decisón presentes eram Carlos Sandoval (barítono), Christian Olea (tenor), Daniel Olea (baixo), Gabriel Bernal (lead). A produção foi feita por um dos filhos de Gabriel.

Falando em filhos, Gabriel canta com eles desde 2000, no quarteto Asaf, que já se apresentou por diversos países da América Latina. O estilo lembra o mesmo do Decisón – trata-se, portanto, de um grupo tradicional, na melhor tradição King’s Heralds, que eventualmente insere em seu repertório músicas mais contemporâneas (o que, aliás, os próprios Heralds vêm fazendo desde a década de 1980).

CÔMODO




A eito. A alcântara em que andas cede – e sentes?
Racha-se o cântaro, há sede, e te enganas
Se vês, séssil, o breu de horas insanas,
Sem trazer a tona halos consistentes.

Os elos não se aliam em correntes;
Seccionam a Criação visões profanas;
Se as tais abarcas, o país de hosanas
Não te é mais completível, nem que o tentes.

Falta aos limpos no sangue do Cordeiro
Passar pelo Jordão com pés a seco
– E o teu espírito? Caminha inteiro?

Ante a plena almucântara eu me mexo
E Canaã Jesus mostra a partir do beco;
Quanto a alcântara em que andas, resta um trecho.

VALORES NA ROLETA-RUSSA


Minha amiga Maximiliana Batista, que está sempre de olho nas novas tecnologias, falou sobre uma nova fonte de preocupação para os pais: o Chatroulette. Trata-se de um chat que permite aos usários conversarem e interagirem através de uma webcam. Mas não é a pessoa que escolhe com quem conversará – o próprio programa aponta alguém aleatoriamente, como uma roleta-russa. Em outras palavras: adolescentes e crianças podem, eventualmente, conversar com pedófilos e até estarem espostos a pornografia virtual em tempo real!

Com a experiência de quem lida com novas linguagens e ferramentas, Maximiliana percebe o risco potencial do Chatroulette: “[…]as pessoas estão se expondo cada vez mais, denegrindo suas auto-imagens e valor próprio. Ai nossos jovens e alunos....e membros da igreja; precisamos alertar as pessoasl” Sem dúvida, com a corrosão de valores tradicionais e uma ênfase no hedonismo, atrocidades se multiplicam e a tecnologia (que, em si, é neutra) apenas potencializa a maldade do coração humano. Temos de nos manter atentos em meio a todas essas mudanças!
Leia também:

QUANTO VALE SOFRER PELA VERDADE?

Duas mulheres destruídas pela mesma revelação: a agente do FBI Erica Van Doren (Vera Farmiga) tem sua identidade revelada a público e seu nome envolvido em um escândalo que afeta o governo dos EUA. Paulatinamente, ela sofre a separação, perde a guarda do filha, é forçada a deixar a posição de leitora voluntária em uma escola, sem mencionar a perseguição insistente dos repórteres e a desconfiança da agência para a qual trabalha.

Rachel Armstrong (Kate Beckinsale), jornalista que escreveu a matéria-bomba, sofre a pressão do governo para revelar sua fonte. O procurador especial Patton Dubois (Matt Dilon) lhe pressiona de todas as formas, ameaçando mantê-la presa, acusada de trair seu país (uma vez que publicar informações confidenciais fora considerado crime desde uma decisão judicial de 1982). Rachel é presa, abandonado pelo esposo Ray (David Schwimmer, da série Friends), um autor de novelas. Ela se distancia do filho Timmy (Preston Bailey) e sua vida desmorona por completo, enquanto sua única esperança está no advogado legendário Alan Burnside (Alan Alda).

Essa sinopse de Faces da Verdade (originalmente Nothing but the Truth) diz pouco do drama pessoal construído em torno de dilemas morais, sobre a autonomia da liberdade de imprensa, a responsabilidade das autoridades de prestar contas à sociedade e acerca da integridade baseada em convicções pessoais.

Dirigido por Rod Lurie, o filme é bastante tenso e esgota as esperanças do espectador, ao colocar a situação revoltante a que Rachel é submetida. Num dos diálogos mais marcantes, o Dr. Burnside afirma, em seu discurso no tribunal: “Eu disse a ela que estava defendo sua pessoa e não um princípio; mas a verdade é que para uma grande pessoa não há diferença entre o princípio e a pessoa.”

Viver para encarnar um princípio, no caso do filme, o próprio princípio da democracia, é uma norma exaltada pelo desenrolar da ação, que a coloca como basilar para a sociedade americana. Aliás, o filme se diz baseado em fatos reais. O ataque à Venezuela, que acontece na história, havia sido desnecessário, pois o relatório da agente Erica mostrara que o país sul-americano não tivera nenhuma responsabilidade em um recente atentado aos EUA. Dá para perceber, trocando-se alguns nomes, quão preocupados parecem estar os americanos com sua própria liberdade de opinião numa época em que a luta contra o terrorista tem gerado um discurso perigosamente unilateral.

domingo, 7 de março de 2010

QUEM NUNCA SAIU NA MÃO COM A MULHER?

Bruno, do Flamengo: será que na hora da declaração, ele pensou na proximidade com o dia Internacional das Mulheres?
Alguém deveria lançar um livro (caso não haja um) sobre as declarações dadas por jogadores de futebol. Entre as pueris, as inconcebíveis e aquelas sem-pé-nem-cabeça, existem as desastrosas. Por falar nelas, encaixa-se na categoria o pronunciamento do goleiro Bruno do Flamengo.

O atleta rubro-negro envolveu-se no episódio em que a noiva do atacande Adriano, a personal trainer Joana Machado, surpreendeu o amado e alguns amigos com uma demonstração do que uma mulher descontrolada pode fazer com carros alheios. Adriano teria empurado a moça, num gesto que o colega de equipe não tardou a justificar:

"– Muitos que são casados sabem que, às vezes, em um relacionamento, é preciso uma discussão, ou até mesmo algo mais sério. Quem nunca saiu na mão com a mulher?. Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, xará. Quando a adrenalina está alta não tem lugar."

Acho difícil concordar com o verbo “precisar”: se o fizesse, admitiria não a eventualidade das discussões conjugais (ou em quaisquer relacionamentos), mas a sua inescapável necessidade. Porém, mais problemático é o trecho em que Bruno faz uma pergunta retórica (embora temo que ele desconheça o termo…): “Quem nunca saiu na mão com a mulher?” O flamenguista deve viver num mundo em que é normal aos cônjuges sair rolando pela escada, ou trocar sopapos à mesa.

Não se sabe se Bruno defendia o Imperador ou a si mesmo, uma vez que o goleiro fora acusado pela senhorita Elisa Samudio (alegadamente mãe de um filho do jogador) de agressão física. Ora, aí não é de se estranhar que um mero empurrão dado por Adriano não chamasse a atenção do goleiro e troglodita nas horas vagas…

Quando eu era pequeno, dizia-se: “quem bate em mulher é covarde”. Hoje, alguém corrijiria: “quem bate em mulher, joga na Gávea”.
Leia também:

sexta-feira, 5 de março de 2010

CIÊNCIA E RELIGIÃO NO CSI




Gosto de assistir CSI, a série televisiva criada por Anthony E. Zuiker. Desde que a série estreou-se no Brasil, vejo seus episódios quando posso. Ontem a TV Record veiculou um dos episódios, que originalmente chamava-se Alter boys (transmitido nos EUA originalmente em 1° de Novembro de 2001 e pertencente à 2ª Temporada, sendo o seu 6° Episódio).

A trama principal acompanha Ben Jennings (Corbin Allred), suspeito de assassinato. O garoto foi flagrado enterrando uma das vítimas, e havia sangue delas em seu carro.

Porém, desde o começo, o Padre Powell (Dylan Baker) avisa o CSI-mor Gil Grissom (William Petersen) de que Ben é um bom garoto; com o tempo, Grissom e sua equipe passam a suspeitar de que o suspeito está, na verdade, encobrindo seu irmão, o ex-detento Roger Jennings ( Jeremy Renner).

Nesse clima, Grissom faz referência a Tomé, que segundo ele seria o percussor do empirismo. A ideia não deixa de ser interessante e até corrobora com a certeza posterior, advogado por Tomé, da ressurreição de Jesus – o que prova que a Ressurreição resistiu (e ainda resiste) a qualquer análise de evidências históricas.

Mais para o final, há um diálogo entre Grissom e o Pe Powell, em que o investigador reflete sobre a natureza comum ao trabalho de ambos – atuar depois do crime (ou “pecado”, como corrige o sacerdote). Powell apela ao seu interlocutor, dizendo que um dia não haverá mais cadeias e o convida para a missa. Grissom declina, dizendo crer em Deus e na Ciência, não na religião, reflexo comum à postura pós-moderna. Grissom responsabiliza a Religião por ter matado em nome de Deus. O padre retruca – não era religião, mas fanatismo. “Retórica vazia. Diga isso para as pessoas que morreram”, fulmina o líder da equipe CSI.

O padre termina refletindo que o investigador ainda sofre como um católico: “Quando a lâmpada de alguém queima, ele vai e compra outra; quando a lâmpada de um católico queima, ele se pergunta sobre o que deu errado.” Uma maneira no mínimo curiosa de ilustrar a relação entre Catolicismo e culpa – raiz das penitências e sacrifícios, que obliteram o oferecimento da Graça feito por Jesus.

Muitas pessoas racionais e instruídas, como a personagem Grissom, estão em busca de uma conciliação entre Ciência e Religião. E tal coisa é possível, dependendo apenas de um pressuposto adequado, o qual encare a verdade como um todo unificado. Creio que as pessoas honestas chegarão a essa base, para poderem continuar satisfatoriamente em suas buscas.

quarta-feira, 3 de março de 2010

CRISTIANISMO TOLERADO, CRISTIANISMO ESVAZIADO




Penso que Sproul foi muito feliz ao identificar o conflito entre Humanismo secular e Teísmo como gravitando em torno da busca pela verdade definitiva – “só pode haver um definitivo”, afirma ele. Com lucidez, ele ainda pondera a respeito da “tolerância entre duas visões de mundo concorrentes”: “Uma nação secular pode escolher ‘tolerar’ o Cristianismo em algum grau enquanto este for visto meramente como a expressão de uma forma de religião humana, mas não pode tolerar as alegações de verdade do mesmo.” [1] Em outras palavras: no caso citado, o Humanismo secular jamais tolera o Cristianismo, mas uma versão inofensiva dele.
O renomado historiador adventista George Knight afirmou que as pessoas procuram uma igreja que se mostre arrogante o suficiente para declarar não apenas que a verdade existe, mas que a possui. Ele relaciona o espírito liberal do protestantismo a partir do século XIX com a perda de membros das igrejas históricas – entre 1965 a 1990, presbiterianos, metodistas e discípulos de Cristo experimentaram um declínio de sua membresia de, respectivamente, 34%, 21% e 50% [2].
Considerando o que foi dito, não chega a estranhar a aparente tolerância que Richard Dawkins exibe em relação àqueles cristãos que aceitam ter Deus dirigido a evolução [3]. Afinal, o Cristianismo que ele tolera é uma versão inofensiva da religião de Jesus, que não compromete em nada o naturalismo de Dawkins, e muito menos reivindica a verdade definitiva (no caso, sobre a origem da vida no planeta). Parece que muitos religiosos querem garantir a sobrevivência da religião às custas de sua reivindicação de verdade exclusiva e final. Em outras palavras: deixe que o Cristianismo exista como uma ilusão, conquanto ele tenha acesso à sua fatia no mercado.
Um artigo recente corrobora com essa tendência. Tratando sobre o método de interpretação da Bíblia, Júlio Paulo Tavares Zabatiero afirma a “inutilidade da luta” entre os métodos gramático-histórico (que aceita a Bíblia como um livro histórico e inspirado por um Deus que Se revela na História) e o histórico-crítico (que aceita a Bíblia como o produto de uma cultura e apenas como expressão dessa cultura religiosa).
Se tais métodos são tão diferentes, por que a disputa para saber qual o que melhor corresponde à verdade se constituiria “inutilidade”? Para Zabatiero “Não se conseguiu perceber que ambas [as formas de interpretar a Bíblia] não competem necessariamente entre si, mas, sim, ambas contra a ideologia, a ignorância, a ilusão do engano.”
E como a Bíblia deveria, então, ser interpretada? Para o pesquisador, “o sentido é fruto da ação intersubjetiva: o sentido não deve mais ser visto como correspondente à intenção do sujeito [i.e., aos autores da Bíblia, ou, em última instância, à intenção de Deus], nem ao referente do texto, mas como fruto da interação humana […]”.
Assim, cada indivíduo é livre para trazer suas contribuições, desde que essas sejam “criticamente examinadas”, “livremente apresentadas” e “responsavelmente partilhadas” [4] Logo, a Bíblia deixa de ser o guia para a experiência espiritual, mas a experiência espiritual se torna o guia para interpretar a Bíblia. Uma religiosidade assim difusa, que vise alimentar a experiência dos cristãos, sem impor quaisquer imperativos definidos e definitivos, não passa de um “baixar de guardas” diante do pensamento de nossa época. A conclusão: não importa quais sejam suas crenças religiosas, porque, no fim, nenhuma delas corresponde à verdade mesmo!

Recentemente, visitei uma senhora afastada da igreja. Ela confessou que seu falecido esposo trocara a denominação adventista para se tornar um batista do sétimo dia. Perguntei-lhe se ela percebia os erros teológicos do ex-marido, ao que ela me respondeu: “Bem, eu acho que verdade é aquilo em que uma pessoa acredita”. Tal o espírito de nossa época, que restringe o Cristianismo a uma oferta vazia, insuficiente e sem relevância…
Veja também:
O teto que se fecha sobre nós
A verdade ou a vida (parte 1 e 2)



[1] R. C. Sproul, Sola Gracia: A controvérsia sobre o livre-arbítrio na História (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2001), 14.
[2] George Knight, em palestra proferida no concílio via satélite, em 2 de Março de 2010.
[3] Veja o prefácio de O maior espetáculo da Terra: as evidências da Evolução (São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2009).
[4] Júlio Paulo Tavares Zabatiero, Renovando a leitura da Bíblia na sociedade pós-moderna, in João Cesário Leonel Ferreira e Silas Luiz de Souza (ed.) Revista Teológica do Seminário Presbiteriano do Sul (Campinas, SP: Janeiro-Dezembro 2008), vol. 68, no 65/66,  73, 74, 77, 76.


segunda-feira, 1 de março de 2010

O PLANTADOR DE FEIJÕES


Quem nunca plantou um grão de feijão
Num copo, a ajeitar o forro branco
De algodão com a sua própria mão,
Inspecionada pelo olhar mais franco?,

E então viu se erguer com um solavanco
Como que um filho verde, na intenção
De crescer, curvo rebento a ir do chão
Para o local de luz, de flanco em flanco?

Chilreava a tarde como aves em bando
E a luz, em despedida de seu vaso,
Mostrava ao feijão astros germinando.

Lembra-se desse tempo com certa ânsia
O feijão, vendo a vida, sem atraso,
Tirar-lhe o algodão, que é a alma da infância.

HAITI, CHILE E EUROPA: O QUE AS CATÁSTROFES REVELAM




Mal tivemos tempo para contabilizar as mortes causadas pelo terremoto no Haiti em Janeiro (estima-se que 200 mil pessoas perderam a vida com a tragédia);no sábado, o Chile também foi vítima de um terremoto de 8,8 graus na escala Richter, sendo que, até o momento, mais de 700 vítimas fatais foram apontadas. Na Europa, o número de mortos em Portugal, Espanha e França chega a 50, desde que as tempestades começaram a atingir esses países, deixando mais de um milhão de casas sem eletricidade. Poderíamos pensar igualmente nas fortes chuvas que afetaram São Paulo, no início do ano, e as fortes chuvas que afetaram a cidade de Campo Grande (MS), no último sábado.Afinal, o que está acontecendo com o clima do planeta?

Tanta destruição chega a fomentar pânico. Ou, ao menos, deveria inspirar alguma comoção. Mas parece que nem dá tempo. Mal uma tragédia cai na bca do povo, e a mídia já notifica outra ocorrêcia funesta. As imagens são, todas elas, chocantes: carros esmagados, asfaltos despedaçados, casas em ruínas, pessoas gritando ou procurando os familiares entre os escombros. 2010 mal começou e milhares de vidas foram perdidas em grandes tragédias naturais. O próprio termo, apesar de se referir a eventos climáticos, não me parece, por um lado, próprio, afinal, é estranho associar a morte de tantas pessoas ao adjetivo “natural”.

De fato, algo deve estar acontecendo e não se enquadra na normalidade. Não digo pela incidência de fenômenos da natureza (embora creia que eles não existissem em um mundo sem pecados, bem sei que ao longo da história eles se repetiram com poder devastador); o que me preocupa é a frequência. Mais do que nunca ouvimos de tragédias tão dramáticas numa sequência tão frenética. Parece que já podemos advinhar que na próxima semana no Japão ou Havaí virá outro terremoto, tsunami ou tempestade esmagadores…

Quando lemos Mateus 24, Jesus nos fala ali sobre os sinais que antecederiam Sua vinda. O texto compara o ciclo de crises que o mundo enfretaria às dores de uma parturiente. Disso eu entendo – afinal, tenho crises renais! As dores aumentam insuportavelmente, mas, de repente, cessam. Depois, as contrações retornam com maior intensidade, e cessam. Finalmente, quando a dor se torna insuportável, é a hora de um bebê vir ao mundo!

A má notícia: nada melhorará. Catástrofes se sucederam, causando pavor e destruindo vidas. A boa notícia: tudo isso não é o fim, mas aponta para o retorno do Messias Carpinteiro, o Senhor Jesus. Devemos atentar para essas coisas com a consciência de que o mundo está com a data de validade vencida. Jesus está voltando e devemos nos preparar para encontrá-Lo. Enquanto ainda estamos vivos – até por que ninguém sabe em que lugar acontecerá a próxima tragédia…

TODOS TÊM ESTA AUTORIDADE

“Deus cercou com sua solicitude justamente o pequeno ser humano, nomeando-o seu plenipotenciário. Ninguém na humanidade deverá ser excluído de tal autoridade.”

Hans Walter Wolff, Antropologia do Antigo Testamento (São Paulo, SP: Hagnos, 2007), p. 249.