segunda-feira, 31 de maio de 2010

A CURIOSA CRENÇA DE IVETE SANGALO

Zapeando ontem, detive-me no quadro O Curioso, do programa Fantástico. Protagonizado pelo ator Lázaro Ramos, a atração levava algumas pessoas à uma entrevista surpresa como a cantora baiana Ivete Sangalo. Perguntada por um dos participantes sobre Deus, Ivete disse acreditar tanto em um Deus Todo-Poderoso a ponto de pensar que Esse Ser não permitiria a existência do diabo.

Muitos que creem em Deus não lhe fariam objeções. A questão, talvez, anterior ao debate sobre a existência de Satanás, gire em torno da forma como acreditamos em Deus. Ivete Sangalo não detalhou sua crença, e nem desejo conjecturar sobre isso. Por outro lado, muitos descreem do diabo porque acreditam em um Deus desvinculado de Sua revelação, a Bíblia. Para os cristãos, o Deus que existe Se revelou. Ele nos criou para nos relacionarmos com Ele.

A existência do mal não implica em redução do poder divino, ou mesmo de Sua bondade. Deus criou seres livres. O amor só pode existir quando há liberdade, mesmo que a liberdade ofereça riscos, principalmente no que diz respeito ao seu mau uso. Assim, a Bíblia se reporta à queda de Lúcifer (Is. 14; Ez. 28), um anjo puro criado por Deus, que, por ambição, quis ser Deus.

Deus permite que o diabo exista, enquanto dá provas inequívocas dos efeitos do pecado. Todos podem escolher qual lado seguir. Ao mesmo tempo, somos responsáveis pelas escolhas feitas. A existência do diabo não quer dizer que o mal seja inevitável, como se ele fosse o causador de todo pecado. Ora, se assim fora, não haveria culpa em nenhuma falta que cometemos. (Ainda ouço cristãos comentarem: “fulano era tão consagrado; mas o diabo fez ele largar da mulher”). Se nos apegarmos a Jesus, aquele que embora tentado jamais pecou (Hb. 4:15), poderemos vencer todo engano. E talvez, o maior engano, esteja na curiosa crença de que o diabo não existe!…
Leia também: A canção e a vida

A NOVIDADE

Na selva ria-se o bugio,
Encarcerado nos soslaios logo abaixo,
Inquieto e tênue, como os esguichos de um riacho,
Tão vígil como a voz de um rio.

Do cimo árduo, as hordas de símios,
Nas vociferações óticas, glossolália
De lamúrias. Se a língua é folha que farfalha,
Mudos os homens são exímios.

Em cifras tudo chega a todos,
Não por radiação do sentimento humano;
Pela imoderação global, planta do engano
– Da natura partem denodos.

A Criação constata em si dor,
Semelhante a que lê sem alfabeto em rostos.
E os companheiros, rei e rainha depostos,
Vão-se à sombra do Usurpador.

Às portas, sentem definhar.
Delfins veem ao longe e orquídeas confidentes...
A morte começou seu processo. Correntes
De ar nóxio arfam fora do lar.

Toda aquela vida deixada!
Eles se abraçam, cada qual mais temeroso,
Não mais trazendo à tona pelo ausente gozo
Que uma lágrima torturada.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

MORRE UMA AMANTE DA PALAVRA DE DEUS

Curitiba, PR ... [ASN] No sábado à noite, dia 22, faleceu a senhora Yolanda Anversa da Silva, 92 anos de parada cardiorrespiratória. O enterro foi no domingo em Curitiba e juntou muitas pessoas conhecidas e outras que nem faziam ideia da importância desta mulher para a história da Igreja. Yolanda nasceu em 1917 em Xavantes, interior de São Paulo e foi professora de ensino religioso no antigo CAB, o Colégio Adventista Brasileiro, hoje Unasp Campus São Paulo. Filha de italianos, era a terceira de seis irmãos. Os princípios bíblicos que aceitou aos 12 anos de idade a acompanharam até a morte.

Foi casada com o pastor Waldemar Rodrigues da Silva com quem teve três filhas. Uma das suas regras de vida era estudar detidamente a Bíblia e isto a levou a participar de concursos internacionais promovidos por Israel e de onde voltou com o primeiro lugar em 1958 e em 1961. Aliás, na segunda vez tinham conferido a ela o segundo lugar, mas depois de apurações verificaram que era dela o primeiro lugar e ela ficou com os dois troféus. Há 22 anos viúva, a senhora cristã dedicava seu tempo aos menos favorecidos e quando a idade limitou seus movimentos físicos, o seu coração serviu de apoio a muitos que buscavam conselho. Ela deixa as três filhas, dez netos e sete bisnetos.

Notas sobre Yolanda na Revista Adventista:

"Após uma luta pelo desempate entre Yolanda Anversa da Silva (Brasil) e o Rabino Yihya Alsekh (Israel), os juízes deram o 1º lugar ao rabino. Mas a imprensa e o público não aceitaram o veredicto do júri, pois Yolanda também respondeu a pergunta do desempate. Foi feita tão grande propaganda a seu respeito que, afinal, lhe concederam também a Medalha de Ouro do 1º lugar. Por isso ela é a única que tem duas medalhas." - Moisés S. Nigri, Revista Adventista de janeiro de 1965.

"As proezas do povo de Deus são resultado da confiança nEle, e essa confiança é o resultado direto da leitura, da assimilação, da meditação e prática dos ensinos maravilhosos da Santa Palavra de Deus - a Bíblia", disse Peixoto da Silva, na Revista Adventista de janeiro de 1962.

"Ah! Eu gostaria que todos os que me lêem estivessem comigo na noite de 3 de outubro de 1961! Veriam o interesse, o entusiasmo de uma nação por um concurso sobre a Bíblia". - Yolanda Anversa da Silva, R.A. fevereiro de 1971.

"Dizia de mim para mim: A Bíblia é a carta de Deus aos homens. Se eu tenho que ler alguma coisa boa, vou ler a Bíblia e entesourar no coração e na mente seus ensinamentos. Mas como começar? Valeu-me a tabela do então chamado "Ano Bíblico"....Formar este hábito não foi fácil. Quantas coisas aconteceram através desse tempo! Mas a firme vontade de estar apegada à Palavra, foi vencendo".

Que o amor e dedicação diários que Yolanda conferia à Bíblia nos sirvam de inspiração, em tempos que o virtual rouba os olhares e as diversões absorvem nosso tempo.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O ATEÍSMO PREGUIÇOSO DO GALÃ FAGUNDES


Os cabelos brancos derramando-se em franjas esvoaçantes não obliteram as rugas. Mas quem disse que o público feminino se importa com detalhes? Quando o assunto é Antônio Fagundes, as mulheres são todas suspiros. O ator, com 60 primaveras, que atualmente protagoniza a novela das 7 na Globo, concedeu uma entrevista ao jornal catarinense A Notícia (Sexigenário sem vaidade, 10 de Maio de 2010, seção Anexo, p.10).
Entre os diversos assuntos da pauta, em certo momento, Fagundes é perguntado sobre como a religiosidade lhe acompanha. “Sou agnóstico, o mesmo que um ateu preguiçoso. Não penso em Deus, acho difícil de acreditar. Como é só uma questão de fé, não dá nem para falar sobre. Acredito, sim, no homem ético, naquele que quer se colocar bem diante de seu próximo. Mas não preciso de Deus para isso. Não faço por medo, mas por convicção.”
A declaração é sintomática do espírito antirreligioso do século. Não mais o ateu rancoroso (embora dinossauros como Dawkins ainda ocupem suas bancadas), mas o cético desinteressado. Aliás, genial a definição de agnosticismo. O agnóstico não representa um meio termo entre crer e descrer, porque seu pressuposto o leva a apostar no lado da descrença, ainda que ele não entregue todas as moedas para o crupiê, à semelhança do ateu.
Fagundes parece entender o que ele chama de “questão de fé” como algo que tanto faz. Entretanto, isso é minimizar a espiritualidade através da equiparação de todas as crenças. Não me soa racional dizer que tanto faz ser um monge tibetano quanto seguidor de Maitreya, pelo simples fato de que ambas as crenças guardam inúmeras diferenças; ademais, seus seguidores, uma vez moldados por elas, terão vidas completamente distintas.
E o que dizer da crença do ator no “homem ético”? Eticistas seculares partem de uma base antropocêntrica para a construção de seu ideal ético. Mas se tomarmos o homem como linha de partida, teremos no mesmo homem a linha de chegada! A ética centrada no homem e em suas necessidades não leva a fim algum, porque confia demais na vontade humana. O próprio Fagundes confia excessivamente no ser humano, quando dispensa Deus. Ele também se esquece da evidência de que precisamos de um padrão transcendente: a moeda corrente de nossos valores tradicionais se acha compromissada com a ética bíblica.
Nem preciso ir longe para validar a afirmação: quando Antônio Fagundes fala em “se colocar bem diante do próximo”, ele recorre, inadvertidamente, a um conceito bíblico – o “próximo”. Qualquer pessoa que conheça um pouco de cultura antiga, sabe que as civilizações do Antigo Oriente atribuíam valores diferentes às pessoas, quer segundo sua ascendência, status social ou qualquer outro fator. Apenas os hebreus, que aprenderam a ideia de Jeová, partiam do pressuposto de que todos os homens têm inerentemente o mesmo valor. Sem uma justificativa transcendente, a ética não possui referenciais absolutos.

Por último, ao descartar Deus, o galã Fagundes deixa nas entrelinhas sua visão das pessoas cristãs: elas fazem o que fazem por medo, não por convicção. Sim, porque a convicção pertence aos agnósticos, como o próprio Fagundes… Sem dúvida, há pessoas religiosas motivadas pelo medo. Porém, no Cristianismo bíblico, o medo é descartado, pois “o perfeito amor lança fora o medo” (1 Jo 4:18). Que bom seria se Antônio Fagundes e tantos outros deixassem de lado a preguiça do agnosticismo e procurassem experienciar esse amor de Deus.

Leia também: Inocência ou Esclarecimento? (parte 1 e parte 2)


ESCATOLOGIA DA CONSPIRAÇÃO




A escatologia bíblica, a despeito de sua clareza, não fornece pormenores satisfatórios à curiosidade humana. Mas o Senhor pretendia resolver todas as questões? O intérprete sólido sabe que não. A profecia nos faz volver o olhar dos acontecimentos revelados para o próprio Revelador, com um gesto de confiança. Ainda que a cadeia de eventos contenha caminhos tortuosos, o que Deus revelou se passará. E, certos de ser justificável confiar nEle, acompanharemos o desdobramento da História em segurança.
Conquanto a escatologia bíblica trace linhas gerais, muitos de seus pretensos seguidores, não satisfeitos, enveredam pelo campo das especulações. E, na falta de subsídios bíblicos, os escatologistas de plantão começam a colher material sucateado para tentar completar a matéria bíblica. Onde buscar um número sem par de teorias furadas e conspirações, além de na internet, que não os deixa mentir – pelo menos, mentir sozinhos?
Assim, teorias conspiratórias e paranoias bobas se amontoam com os dados bíblicos, num verdadeiro pandemônio do demônio! Há os que dizem que Paul MacCartney morreu e um sósia o substitui durante décadas; outros afirmam que o cartão Visa é a marca da Besta; alguns acreditam que o atentado de 11 de Setembro foi uma criação do próprio Governo Americano; Satanás, asseveram os profundos doutores da profecia, tem no triângulo das Bermudas seu “lar, doce lar”; e outras informações absolutamente “seguras”, envolvendo o papa, a Maçonaria, as mensagens subliminares e etc.
Pelos lugares deste imenso Brasil onde passei, a baboseira é quase sempre a mesma. Líderes cristãos, acima de qualquer suspeita, começam a divulgar as “últimas novidades”. Logo, surgem aqueles membros de igreja que se sobressaltam com o que ouvem, sem qualquer consciência crítica. Outros simplesmente, embora suspeitam de algo estar errado, são incapazes de argumentar e até pensam que as novas teorias até fazem algum sentido…
Por que tantas interpretações sofríveis, fanáticas, inadequadas e forçadas são disseminadas e encontram ouvidos despertos? Por que nossa igreja dá acolhida para palestrantes, pregadores e experts que não passam de uns pobres enganados, que confundem profecia com especulação, teologia com teoria da conspiração? Deve haver alguma causa. Na falta de um estudo mais empírico do fenômeno, sugiro os seguintes fatores:

1) A falta de instrução dos adventistas em geral: nosso povo não faz mais a lição de casa há tempo. Os adventistas leem pouco a Bíblia e, na maioria das vezes, apenas de forma devocional. Falta um aprofundamento do estudo da Bíblia, porque quando entendo o que Deus realmente disse, recebo orientação e poder. A superficialidade com que encaramos a Bíblia, decorando uns poucos versos para defender (às vezes até de maneira equivocada) a doutrina verdadeira, impede uma comunhão mais estruturada, uma visão mais ampla do que está na Bíblia; logo, quando chega alguém que decorou mais versos bíblicos (ainda que os apresente fora de contexto), já basta para impressionar a massa! E quando essa pessoa nova utiliza chavões adventistas, ainda que sem conexão com a autêntica mensagem adventista, todos se convencem de que um novo profeta se levantou. Quase não há diferenciação entre adventistas e pentecostais na questão do emocionalismo que permeia o tom da espiritualidade de cada grupo. E, enquanto a ênfase emocionalista persistir, a Bíblia não poderá ocupar seu lugar como fonte de verdadeira espiritualidade;
2) Falta de preparo para o tempo do fim: envolvidos como nos vemos em empreendimentos seculares, parece que se vai deixando o foco do preparo para a segunda vinda. O povo adventista carece de reavivamento, de uma mudança de sua perspectiva, a fim de que se encontre com o Salvador. Na falta disso, palestras com temas pretensamente escatológicos chamam a atenção e parecem acordar a igreja. Entretanto, a apresentação de determinados temas atua mais como um falso estimulante, que agita as pessoas quando entra em suas veias; uma vez no sangue, a substância se revela como é: um autêntico narcótico! A atenção é focalizada para assuntos que se mostram irrelevantes para a consagração, porque não possuem o selo da aprovação de Deus. Tais assuntos trazem medo, incompreensão, desenvolvem práticas fanáticas e não propõem medidas práticas para a mudança de vida. O sono espiritual passa a ficar mais agitado, sem deixar de ser um sono;
3) Falta de compreensão do que é o Adventismo: muitos entram hoje na igreja com o preparo mais rápido e menos específico o possível (daí o eunuco etíope servir de paradigma para muitos evangelistas!). Quem sofre com isso é a igreja, que perde sua memória histórica. Muitos de seus membros são adventistas-católicos, adventistas-assembleianos, adventistas-pós-modernos… Tarefa improvável será encontrar um adventista legítimo em meio à confusão que se instalou com respeito à identidade do povo do advento. Se um homem não se vê no espelho antes de sair de casa, ficará lisonjeado ao primeiro elogio, embora tenha creme dental no canto da boca! Temos que nos conhecer para depois aceitar aquilo que dizem sobre nós – quer positiva, ou negativamente.


Não tenho razões que me impeçam de dizer que outros motivos existam para explicar a onda de distorções escatológicas no Adventismo. Por outro lado, creio que uma análise das causas citadas e a busca pela correção evitariam ou, ao menos, conteriam os discursos fora de lugar. Pelo bem de nossa missão, algo tem de ser feito. E logo.

Leia também: Adventistas fanáticos

Ética a partir da bíblia

Palestra proferida na faculdade Anhanguera (Joinville, SC), em 2009.

POEMA DE CHESTERTON

UMA PRECE NAS TREVAS

(de G.K. Chesterton)

respeitosamente dedicado a Michelson Borges

Basta, ó Céu – gerar ou sonhar pudesse,
Sem me polpar; que o mundo se alimente,
Sim, se louco eu me mate realmente,
Vê que a erva sobre o meu sepulcro cresce.

Se rosno entre este sol e solo meus
Queixa e rogo, acenda e eu tenha na mão,
Ante sol, chuva e fruto da estação,
A mudez fúlgea do desdém de Deus.

Por Deus, astros me estão além da força;
Se me viesse a dor em noite de ira,
Nenhuma mariposa se ferira,
E o imprecar não faz com que a flor se torça.

Que se apagara o sol, cada um dizia:
Mas, no Calvário, a mente ainda fulgura:
Ele, penso em madeiro de tortura,
Ao ouvir grilos em canto, ali sorria.
Leia o original aqui

Evolução, Criação, making of


Disponibilizo neste formato um material já conhecido, mas ainda útil. Sobre o debate na Univille, para o qual essa palestra foi utilizada, leia mais aqui.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

É HORA DE TROCAR DE ROUPA

O inverno ainda ensaia seu desfile, mas a chuva recorda as pessoas do desconforto do frio. Sob a lona de uma loja, Algelino treme irremediavelmente, com as roupas coladas ao corpo gélido. O guarda-chuva? Ficou no escritório. Mas basta que a força da tempestade recue para que o rapaz se arrisque a sair na rua, enfrentando a lama das calçadas e o jato de água que os carros apressados derramam sobre os pedestres. Em poucos minutos, ele chega no apartamento. Sem ter tempo para mais nada, Algelino corre para o banheiro e experimenta o prazer reanimador de um banho quente. Em seguida, ele se troca, colocando roupas limpas e capazes de manter seu corpo aquecido.

Quem já não passou por isso? Quão agradável a sensação de tomar um banho e se trocar, seja depois de uma chuva intensa ou mesmo após um dia cansativo de trabalho. Vestir algo roupas limpas não se resume à questão de higiene; trata-se de usufruir algo simples, porém prazeroso.

Semelhantemente, na vida espiritual, somos convidados a trocar de roupa. Explico: a impressão que temos sobre alguém se dá através de sua aparência, o que inclui suas roupas. Comumente, cometem-se injustiças ao se analisar o caráter de alguém pela maneira como a pessoa se veste. Todavia, ao mesmo tempo, a maioria das pessoas usa roupas de acordo com o gosto, a personalidade, os valores, a comunidade, entre outros fatores. Nossas roupas falam um pouco sobre quem somos. Talvez por isso, na Bíblia as roupas são usadas como símbolo do caráter da pessoa.

Sendo assim, quando Deus ou um de Seus servos diz, metaforicamente, a respeito de troca de roupas, isso se refere à mudança de caráter. Claro que ninguém tem um cabide com todo o tipo de caráter à disposição, para vestir-se com um deles conforme a ocasião. Não é simples mudar quem somos. E, muitas vezes, nos perguntamos por que temos de mudar. Entretanto, a verdade é que Deus sabe qual a melhor vestimenta devemos usar e Ele oferece a roupa (o caráter) de Jesus para com ela nos cobrirmos. O apóstolo Paulo escreveu sobre isso na carta aos habitantes da antiga cidade de Colossos, localizada na Ásia Menor (Colossenses 3:3-17).

Convém notarmos que em sua carta, Paulo reforça o que é a vida cristã, uma vez que falsos mestres rondavam Colossos, ensinando práticas místicas e ascéticas. À certa altura, o apóstolo começa a comparar a vida dos cristãos antes e depois de sua conversão. Para tornar didática a apresentação do conteúdo do que o maior escritor do Novo Testamento proferiu, vamos dividir seus ensinos em duas seções.

I - Tire a roupa suja: Paulo começa seu assunto no versículo 5 de forma dramática: “Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês […]” (NVI). Há uma ligação entre o “façam morrer” desse verso com o “morreram” do verso 3, indicando que a “morte do eu” na vida espiritual é um evento que já aconteceu, mas que tem de ser continuamente renovado [1]. Parafraseando, teríamos algo assim: “‘Que vosso próprio-eu antigo, vossa vida pagã, que morreu no batismo, permaneça morto.’” [2] Por que nosso eu precisa morrer? “É por causa dessas coisas que vem a ira de Deus sobre os que vivem na desobediência.” (v.6, NVI).

Paulo fala de “fazer morrer a natureza terrena” ou, em outra tradução, “os vossos membros [gr.: μελη] terrenos” (BJ). O uso do termo “membros” serve de metonímia para os pecados praticados por eles [3]. A expressão também ressalta o quão intimamente entretecido se acha o pecado “com todas as fibras de nosso ser.” O pecado, nosso inimigo, é “uma parte integral de nós mesmos”; logo, combatê-lo é “uma luta contra nós próprios.” [4]. Contudo, penitências, clausura, peregrinações, longos jejuns ou a prática de “pagar promessas”, vistas na religião popular, são insuficientes para lutar contra a nossa “segunda pele”, chamada pecado. O processo de mortificação dos membros que aparece na carta aos Colossenses é algo ético, não físico [5].

Uma vez que todos somos pecadores, nosso modo de encarar a vida tende a desagradar a um Deus Santo, que expressa Seu justo julgamento (chamado de Ira) contra toda forma de desobediência à Sua vontade. Para ilustrar: imagine uma secretária entrando intencionalmente no escritório com roupas mal cheirosas, sujando o carpete com a lama de seu sapato e borrando documentos importantes com as mãos sujas. O que seria de se esperar que o seu superior fizesse? Ele, de alguma forma, não chamaria sua atenção? Em certo sentido, é o Deus faz. Ele ainda oferece a oportunidade de nos lavarmos espiritualmente (através do batismo) e trocarmos as roupas imundas que temos. Mas que tipo de roupas sujas nós usamos antes de conhecer a Cristo? Há dois tipos:

(1) Roupas de baixo sujas: A primeira lista de erros (v.5) contém pecados mais detestáveis, vulgares, baixos. Fazem parte dessa listagem os seguintes delitos:

(a) Imoralidade sexual: tem-se em vista aqui qualquer tipo de comportamento sexual inadequado, tanto que a palavra pode ser traduzida por “fornicação” (BJ);

(b) Impureza: a raiz da imoralidade é a impureza [6], ou “indecência” (NTLH), que se refere mais a uma tendência do comportamento;

(c) Paixão: a paixão parece se referir ao impulso nato do homem, o qual distorce suas afeições e, sem que ele peça ajuda a Deus, o domina (1 Ts 4:5; Cl 3:7);

(d) Desejos Maus: qualificam a perversão dos desejos naturais dos seres humanos;

(e) Ganância: também traduzida por “cobiça” (NTLH) ou “cupidez” (BJ), o termo (gr.: πλεονεξιαν) se refere ao desejo de ter mais, adquirindo sentido sexual, devido ao contexto.

(2) Roupas comuns suja: A segunda lista (v.8) possui pecados aparentemente menos graves, mas igualmente ofensivos a Deus; são eles:

(a) Ira: a raiva humana, ao contrário da chamada Ira divina, jamais é justa ou mesmo equilibrada, produzindo sempre amargor;

(b) Indignação: o sentimento de revolta ou descontentamento geralmente conduz à insubordinação;

(c) Maldade: o substantivo usado por Paulo (gr.: κακιαν) indica “maldade, depreciação, malignidade.” [7];

(d) Maledicência: apesar de que “a palavra ‘blasfêmia’ está praticamente limitada à linguagem difamatória acerca da majestade divina” [8], ela é empregada aqui com o sentido de falar mal de outrem, de forma generalizada;

(e) Linguagem indecente ao falar: o apóstolo reforça o cuidado com a linguagem quando, a seguir, ordena que os cristãos “não mintam uns aos outros” (v.9).

O que fazer com toda esta roupa suja grudando em nosso corpo? Paulo diz que os cristãos “já despiram do velho homem com suas práticas” (v.9). Despir-se (gr.: απεκδυσαμενοι) significa “abandonar, despojar-se, desfazer-se” de algo; em outras situações, pode aperecer com o sentido de “desarmar, despojar” [9]. Entretanto, não basta tirar a roupa suja - é preciso colocar a roupa limpa.

II – Vista a roupa limpa: Paulo fala que o novo homem, do qual devemos nos revestir, está “sendo renovado em total conhecimento, segundo a imagem do que o criou, onde judeu e grego, circuncisão e incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre não têm lugar; antes o Messias é todas as coisas em todos.” [10] Reunidos em Cristo, usando o seu caráter para cobrir a nossa vergonhosa nudez, podemos viver sem distinções e preconceitos! Uma nova vida está à sua disposição, basta que você troque as roupas imundas do pecado e aceite os finos trajes da Justiça.

(1) Como são as novas roupas: O que o escritor da carta aos Colossenses tem a nos dizer sobre esses trajes? Paulo nos apresenta uma lista de virtudes cristãs (v.12), como se segue:

(a) Compaixão: (gr.: οικτιρμων) essa palavra expressa “piedade, compaixão, misericórdia” [11] e mostra que agora a pessoa passa a refletir o caráter de um Deus, que é Misericórdioso;

(b) Bondade: a bondade também era uma virtude para os filósofos pagãos; mas, na perspectiva do Cristianismo, ela ganha um alcance universal, fruto de atitude desinteressada, que leva a fazer o bem sem esperar nada em troca;

(c) Humildade: Se a bondade era até certo ponto aceitável, os pagãos viam a humildade como uma fraqueza; porém, no escopo da religião da cruz, ser humilde é imprescendível para começar uma nova vida;

(d) Mansidão: a verdadeira mansidão implica em ser gentil, cortês, amoroso, mesmo em face das pressões e dissabores;

(e) Paciência: pressupõe um ânimo redobrado, que leva o sujeito a não desistir diante de provações ou provocações.

(2) O que vai sobre as novas roupas: Paulo recomenda o perdão (v. 13) como um adorno necessário para o convívio com outras pessoas cristãs. Em seguida, o apóstolo menciona o amor, chamado por ele de “o elo perfeito” (v. 14, NVI). Conforme Grenz, “[…] Das várias dimensões da vida moral, o amor é que é central para o todo, uma vez que só ele permite vislumbres da nova realidade. De fato, o amor é a real qualidade da era futura.” [12] Aliás, quando Paulo escreve “acima de tudo […] revistam-se do amor”, a expressão “‘acima de tudo’ pode transmitir o pensamento de ‘por cima de todas as demais roupas’” [13], como se o amor fosse uma espécie de sobretudo. Para muitos estudiosos a expressão “vínculo da perfeição” significa que o amor é o que une as demais características citadas e nos conduz à perfeição, ou seja, “à obtenção de [nosso] ideal” [14].

(3) Desfrutando das novas roupas: A nova vida passa a ser vida de paz (v.15), que, assim como o termo hebraico Shalom, apresenta uma vida integral, completa, harmônica; logo, “[…] a inteireza do Messias ou sua ‘unicidade’, seu interesse, é a de ser juiz, tomar as decisões, exercer o controle e governar no coração dos crentes.” [15]

Paulo, empregando seu estilo literário característico [16],deseja que a palavra de Deus “habite ricamente” nos crentes, o que lhes moldará a vida, a qual passará a focar a instrução mútua, o louvor e a obediência a Cristo em todos os quesitos (v. 17). Sobre o louvor, é interessante que Hendriksen afirma que, enquanto as pessoas em geral se sujeitam a músicas de um “baixo padrão moral”, sendo, assim, “emocionalmente ultraestimuladas”, os cristãos, por sua vez, “fixam o interesse na palavra de Cristo que habita os seus servos, e desvia a atenção da cacofania mundana.” [17] Os cristão são diferentes em tudo: em seu comportamento, em sua comunhão e até nas músicas que escutam. Deus lhes deu roupas novas – e limpas!

Uma das piores ocasiões pela qual passei foi quando, em meus tempos de capelania, durante uma reunião, uma professora de Informática veio avisar sobre um rasgo lateral na minha calça. Eu teria de falar em poucos instantes, mas como faria isso, sem cair no ridículo? Quase ninguém naquela manhã entendeu porque o pastor novo do colégio apresentou seu planejamento sem sequer se levantar! Como é constrangedor usar roupas inadequadas, manchadas, sujas ou rasgadas em público.

Mas isso não precisa ocorrer na vida espiritual. Por que tremer de frio, quando uma boa ducha o espera? Por que ficar com uma roupa grudenta, quando há roupas limpas no armário? Troque de roupa. Deus lhe oferece uma vida digna e nova. Vestes não rasgadas. Roupas sem manchas. Bainhas feitas. Colarinhos limpos. Deus disponibiliza uma vida semelhante à de Jesus. Como recusar algo tão confortável e feito sob medida para atender nossas necessidades?


[1] William Hendriksen, Colossenses e Filemon (São Paulo, SP: Casa Editora Presbiteriana, 1993), p. 181.
[2] Ralph P. Martin, Colossenses e Filemon: introdução e comentários: série Cultura Bíblica (São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2006), 4a reimpressão da 1a ed., p. 113.
[3] Hendriksen, opus. Citado, p. 182.
[4] Guy Appéré, O mistério de Cristo: meditações sobre Colossenses (Durham, Inglaterra:Edições Peregrino, 1990), pp. 102-103.
[5] W.E. Vine, Merril F. Unger, William White Jr., Dicionário Vine: o significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e do Novo Testamento (Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2005), 5a ed., p. 781, verbete “membros”.
[6] Hendriksen, idem.
[7] W.E. Vine e etc., opus. citado, pp. 766-767, verbete “maldade”.
[8] Idem, p. 435, verbete “blasfemar”.
[9] Carlo Rusconi, Dicionário do Grego do Novo testamento (São Paulo, SP: Paulus, 2005), 2a ed., p. 61, verbete “απεκδυομαι”.
[10] David H. Stern, Comentário Judaico do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Didática Paulista; Belo Horizonte, MG: Editora Atos, 2008), p. 663. O autor apresenta assim sua tradução literal dos versos 10b-11.
[11]Carlo Rusconi, opus. citado, p. 329, verbete “οικτιρμóς”.
[12] Stanley Grenz, A busca da Moral: fundamentos da ética cristã (São Paulo, SP: Editora Vida, 2006), p.331.
[13] Ralph P. Martin, opus. citado, p. 124.
[14] Hendriksen, idem, p. 199.
[15] David H. Stern, opus. citado, p. 664.
[16] “[…] Típico de Paulo é o uso de termos como ‘transbordar’ (perissevo), ‘abundar’ (pleonazo), ‘insuperável/extraordinário’ (hyperballo) e ‘riqueza’ (ploutos) […]”. James D. G. Dunn, A teologia do apóstolo Paulo (São Paulo, SP: Paulus, 2008), 2a ed., p. 375. Em Colossenses 3:16, Paulo emprega o termo ploutos.
[17] Hendriksen, idem, p. 204.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A RECEPÇÃO DE UM HERÓI

(AO ENTRONIZADO)

São o mesmo hino. São ecos de luz sonora.
Traços pelo infinito a formar uma imagem.
São o mesmo hino. Voz que sorri, voz que chora,
Que ama e partilha, canta e pulsa. Os timbres agem.

Piedosos corações repletos da mensagem.
Águas que a inércia tomba e beijam rochas. Flora
Que perfuma o espaço ansioso – ânsia selvagem.
O que pode expressar bem a glória do agora?

O Céu recebe em Seu seio o que deu à Terra!
Se as mãos do Vencedor têm traços de uma Guerra,
Traz nelas o produto extenso do trabalho.

O Rei volta ao lar, volta em refulgente luz;
Explodem preitos por todo o Éter. Paz produz
Saber que preferiu caminhar sem atalho!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A BÍBLIA PROÍBE DOAÇÃO DE SANGUE?

O direito à recusa de transfusão de sangue por paciente da religião Testemunha de Jeová foi reconhecido pela Procuradoria Geral do Estado. O órgão concordou com o parecer jurídico do advogado Luís Roberto Barroso, que considera legítima a recusa. A decisão deve servir de parâmetro a toda a rede estadual.

A ressalva é de que o paciente seja maior de idade e esteja plenamente consciente. O parecer do advogado foi reconhecido pela procuradora-geral Lúcia Léa Guimarães.

O assunto foi encaminhado há quatro meses à Justiça pela Uerj, a fim de que fosse estabelecida norma sobre como proceder nos casos em que pacientes testesmunhas de Jeová se recusassem a receber sangue. O último caso registrado foi de uma paciente de 22 anos, que estava internada no hospital Pedro Ernesto.

O parecer pode ser levado ao Supremo Tribunal Federal pela Casa Civil, que deve propor uma ação direta de inconstitucionalidade. “Como o parecer não é lei, mas uma interpretação de lei, o médico não fica isento do risco de processo, já que a resolução do Cremerj (contrária ao parecer) continua valendo. O Supremo diria se ele é constitucional ou não”, afirmou o subprocurador Rodrigo Marcarenhas.
"A doutrina de que Deus veda e abomina uma medida eficassíma de salvar vidas humanas, a transfusão de sangue humano, é relativamente nova na sistemática jeovista. Russell [fundador da denominação] jamais pensou nela. Rutherford [o segundo dirigente], idem. Mas logo após a morte do "Juiz" [Rutherford], ocorrida em 1942, já nos corredores da Sociedade Torre de Vigia se cochivava alguma coisa a respeito da transfusão de sangue. Era ainda uma coisa vaga, que só três anos mais tarde assumiria definitivamente foros de doutrina a ser finalmente incorporada ba dogmática da seita. Sob a direção de Nathan Knorr, os 'doutores da lei' do neo-russelismo, a princípio timidamente, começaram a propalar a grande 'descoberta': a transfusão de sangue é proibida pela Bíblia. E sem levar em conta o fato indisputável de que a Bíblia nem toca neste assunto, totalmente desconhecido dos tempos bíblicos, a revista The watchtower (A torre de Vigia), em sua edição (em inglês) de 1o. de Julho de 1945, PELA PRIMEIRA VEZ anunciou, num artigo intitulado 'A santidade do Sangue', que 'a transfusão do sangue humano constitui violação do concerto de Jeová, ainda que esteja em jogo a vida do paciente'."[...]

"O pensamento jeovista sobre este assunto baseia-se unicamente numa interpretação errônea, livre, extra-contextual e inteiramente descabida das regras do sacerdócio levítico pertinente ao sangue sacrifical DOS ANIMAIS [bem como das leis diéticas da Bíblia]. Citam livremente versículos, sempre isolados do contexto, sempre separados do assunto a que se prendem."

Arnaldo B. Christianini, Radiografia do Jeovismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1991), pp. 175-177. Grifos e ênfases do original.

BENTO XVI SEGUNDO BENTO XVI

Em meio ao fogo cruzado dos casos de pedofilia, o papa Bento XVI ponderou sobre seu papel na igreja e no mundo. O pontífice enxerga seu magistério como centralizado na missão de tornar Deus presente no mundo, abrindo-se ao mistério da cruz de Cristo. As intenções ecumênicas também ficaram evidentes: “Como veem, o Papa precisa se abrir cada vez mais ao mistério da Cruz, abraçando-a como única esperança e última via para ganhar e reunir em Cristo todos os seus irmãos e irmãs em humanidade", declarou Bento XVI.

Ainda de acordo com o líder católico, o papa encarna a igreja; assim, o 3o segredo de Fátima não se referia exclusivamente ao atentado sofrido por João Paulo II, mas abrange o sofrimento da igreja de Deus, uma vez que há “a necessidade de uma paixão da Igreja, que naturalmente é refletida na pessoa do Papa, mas o Papa está pela Igreja e, portanto, são sofrimentos da Igreja esses que são anunciados. O Senhor nos falou que a Igreja teria de sofrer sempre, de diversos modos, até o fim do mundo”. Os ataques que culminam com o sofrimento (paixão) da igreja são internos, além de externos; a igreja sofre com o pecado na sua comunhão – uma referência explícita à crise motivada pelos casos de pedofilia [1].

Ao dizer que sua missão consiste em trazer a presença divina ao mundo, e ao afirmar simultaneamente a identidade entre pontífice e igreja, o papa assume prerrogativas do próprio Senhor Jesus – Aquele que é Emanuel (Deus Conosco, cf.: Mt 1:23) e a Cabeça, cujo corpo é a igreja (1 Co 12:27; Ef. 5:23). Parece-nos, portanto, que o retrato que Bento XVI faz de si mesmo (e dos chamados “sucessores de Pedro”) indica o seu lugar na profecia de Paulo (2 Tm. 2:3,4).

[1] Missão do Papa, segundo o Papa: Confidências aos bispos de Portugal, disponível em http://zenit.org/article-24889?l=portuguese .

terça-feira, 11 de maio de 2010

DE QUEM É A CULPA POR SUA AUSÊNCIA?

É, Ronaldinho: quem sabe em 2014...


As cores se multiplicam pelas arquibancadas, na mesma intensa proporção dos assovios e cantorias. No gramado, metros abaixo, atletas atentos se enfileiram, entoando desencontradamente as estrofes de seus hinos pátrios. Ali não resta lugar aos bons jogadores. O lugar dos bons é sobre o sofá de sua casa, no qual podem assistir aos jogos em seu home theater. Todos querem ver o espetáculo proporcionado por aqueles que são simplesmente os melhores.

Ele poderia estar ali, com seus lances assombrosos. Ele, que dançava por entre os marcadores, com tanta leveza que deixaria Garincha boquiaberto. Ele, que fitava o infinito, e fintava, lançando a bola na direção oposta. Por duas vezes consagrado o melhor jogador do planeta, Ronaldinho Gaúcho poderia por suas chuteiras mágicas sobre na África do Sul. Poderia. Mas no grupo de 23 jogadores convocados pelo técnico Dunga, não sobrou espaço para o craque do Milan. Ele terá de ver a copa de seu home theater.

Por que não levar Ronaldinho? Desde 2006, sua dança se calou. Na Alemanha, ninguém gritou olé. No Barcelona, de um deus, Ronaldinho desceu do panteão para o banco de reservas. O que houve com o futebol autenticamente tupiniquim do Gaúcho?

O jornal espanhol “Marca” afirmou que o Barcelona estaria farto das noitadas do jogador, cujos pés malabares se viam nas boates da cidade balneária de Sitges. Mesmo com transferido para o time italiano Milan, a atração pela noite enfeitiçava o brasileiro, que tinha a companhia de Adriano. (Na época, Adriano jogava pelo Internazionale Milano; hoje no Flamengo, também está fora da lista de convocados por Dunga.) Até recentemente, o Milan estudava multar o Gaúcho, uma vez que o jogador mantinha a frequência na noite milanesa.

Justificando sua lista de jogadores para a copa, nota-se que o técnico Dunga alude a não convocação de Ronaldinho: “– Demos inúmeras chances para reverter uma certa situação. Mas vem a frase da coerência, convicção, comprometimento...”. Tudo nos faz concluir quem é o maior responsável pela ausência de Ronaldinho Gaúcho na copa: o próprio. Faltou disposição de manter um futebol autenticamente brasileiro, vencedor, alegre, contagiante. Os prazeres falaram mais alto do que os prazos da concentração. A decadência, da qual Ronaldinho não soube polpar sua carreira, tirou-o do maior evento esportivo para um jogador.

Você consegue ouvir a convocação sendo feita? Não pelo treinador de uma seleção, mas pelo Mestre de nossa vida. Jesus quer que trabalhemos em Seu nome. Assim, como os atletas, seremos premiados por seguir as regras da modalidade – a vida espiritual (2 Tm. 2:5). Se correspondermos a cada convocação, participaremos daquilo que se acha supremamente acima de qualquer copa do mundo: entraremos na alegria do Senhor (Mt. 25:21, 23), e serviremos eternamente a Deus e ao Cordeiro (Ap. 22:3).

“Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas [os fiéis, mencionados no capítulo 11], livremos-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a carreira que nos é proposta […]” (Hb 12:1, NVI). Se queremos o Céu, temos de corresponder ao chamado de Jesus, buscando ser semelhantes a Ele em pureza de caráter (1 Jo 3:3). A esperança da vida eterna, da ressurreição e transformação do que é “corruptível” e “mortal”, baseada na “vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”, resulta em uma consequência: “Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados no Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil.” (1 Co. 15:51-54, 57-58).

O Senhor sonha em lhe dar o Céu. Os anjos agem em prol disso. A igreja granjeia nossa atenção para o mundo vindouro. O que nos falta? Com todas essas oportunidades, caso um dia não estejamos no Céu, é porque rejeitamos a Graça salvadora durante o viver diário. Caso a vida eterna comece e seu nome não esteja na lista da convocação final, haverá um responsável maior por isso: você mesmo!

VIVA, PERO NO MUCHO: AS DECLARAÇÕES DE HEBE SOBRE MARIA

Alguns poderiam dizer que ela é “uma gracinha”. A apresentadora Hebe Camargo, presente em cerimônia religiosa, seria melhor descrita por outro adjetivo: emocionada. Aos 81 anos, Hebe chorava como uma criança, grata à Maria pela suposta cura de um câncer.

Em mensagem postada no seu blog (em 4/5/2010), a celebridade anunciava sua presença na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, local em que se deu a coroação da imagem peregrina do Santuário de Fátima. Durante a cerimônia do último sábado, Hebe se expressou da seguinte maneira: “Minha querida amiga, falo com você intimamente porque somos realmente muito íntimas e tenho esta liberdade de falar contigo porque faço isso todas as noites, muito obrigada mais uma vez, porque esta não foi a primeira vez.”

A devoção religiosa é sempre de natureza particular a cada indivíduo ou grupo social. Entretanto, isso não quer dizer que todas as manifestações de espiritualidade sejam igualmente válidas ou verdadeiras. Deus deixou em Sua Palavra critérios que servem para distinguir a verdade do equívoco. A Bíblia proíbe expressamente a adoração de imagens (Ex. 20:4,5), além de ressaltar que o único intercessor entre Deus e os homens é o Senhor Jesus (At. 4:12).

A idolatria é ilógica: se um homem está consciente de que cria deuses, também sabe que esses deuses que criou não se acham acima dele; não pode depender dos deuses porque está ciente de que os deuses é que necessitaram dele para aparecer. A relação criador/criatura acaba sendo invertida na idolatria, pois o adorador idólatra conhece que seus deuses foram criados e não podem ser, portanto, deuses de verdade (Jr. 16:20).

Hebe Camargo, sem dúvida, é muito sincera. Como ela, milhões de pessoas adotam conceitos equivocados sobre a divindade. Na mesma cerimônia, a própria apresentadora declarou também: “Eu quero agradecer à Nossa Senhora de Fátima. Digo às pessoas para agradecer sempre porque foi Deus quem nos fez.” Fica patente na declaração a falácia: afinal, se Deus é o Criador, segue-se que a Ele devemos ser gratos. Nossa Senhora, assim como as demais imagens, não passam de representações idealizadas por seres humanos. Como alguém afirmaria ser íntimo de um pedaço de porcelana ou ter intimidade com uma escultura de bronze?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

MÃE SEM DATA

Dia das mães? Precisa haver um dia para lembrá-lo de sua mãe? Alguma mãe já precisou de dia dos filhos?

Dirão, certamente: “A memória está sujeita à perempção. Não é bom, portanto, fiar-se nela. Fica estabelecido a necessidade de um apoio externo, quer seja um objeto, uma forma artística ou mesmo um dia.” Advogados para o dia das mães surgirão aos milhares. Uns devido ao gosto pela tradição. Outros acomodados às vantagens comerciais que o dia lhes rende.

Mas se a mãe precisa ter um dia, por que o mesmo dia, um que seja universal (ou mesmo nacional)? Por que cada família não escolhe o seu dia, a sua semana, enfim, a sua ocasião para conviver com as mães. Afinal, valorizar as mães requer, de fato, tempo.

Afinal, mães empenharam seus talentos para fomentar caracteres; dedicaram seu exemplo para ensinar que o carinho não se restringe a um gesto, mas a um valor humano; esforçaram-se para corrigir firmemente as arestas comportamentais nos rebentos. Como não elogiar as realizações maternas?

E como datar tanta demonstração de afeto retributivo? Gratidão em data marcada parece um convide ao olvide do preito nas demais folhas do calendário… Mãe sem data: é o ideal de quem sabe que toda hora, e todo dia, vale quando se quer reconhecer quanto elas fizeram (e fazem!) pela vida dos filhos.

Que história é esta de Verdade?

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quinta-feira, 6 de maio de 2010

ECUMENISMO NA REVISTA MINISTÉRIO

Meu artigo Avanços Ecumênicos foi publicado pela Revista Ministério, na edição de Maio/Junho. Veja também a palestra (o download é gratuito).

segunda-feira, 3 de maio de 2010

DELENDA EST CARTAGO


Ele quer me tornar como ele é,
Na excitação do mau que em mim trago;
Assalta à alma e lha aperta e constrange.
Enviara o Céu mais de uma falange
Se eu clamasse, temendo, pressago,
A minha queda próxima e dura.

Uma faísca e o metal se depura?
Falte à figueira flor, fruto à vide,
Traz-me gozo Deus, meu Salvador!
Auxílio Iavé dá, não me confundo;
E propondo o inimigo o que for
De mais atraente e mais prazeiroso,
Já venceu Jesus por mim o mundo.

Resquícios têm a carne do gozo;
Oh, destrua, Senhor, quanto houver
De engano – seja o engano qualquer.

O QUE A PLÁSTICA NÃO RESTAURA

O site Opinião e Notícia abordou a problemática enfrentada por mulheres de origem árabe, obrigadas, por força da tradição, a se casarem virgens (engraçado como ninguém exige isso dos homens árabes…). Para evitarem retaliações (até mesmo risco de morrer) e desonra, muitas delas recorrem a uma cirurgia plástica, denominada himenoplastia. O procedimento reconstitui o hímen pela bagatela de EUR 2,000 (aproximadamente R$ 4, 600). São apenas 30 minutos de cirurgia para salvar a vida daquelas que não souberam esperar a hora certa de se despir da burqa.

Provavelmente, as clínicas europeias não serão procuradas somente pelas (ex-) donzelas árabes. Há alguns anos, certo empresário pagou a fim de que sua futura esposa se submetesse à cirurgia similar – apenas pelo “prazer da primeira vez”. Em ambos os casos, o intercurso sexual fica limitado à sua dimensão física e as condições do hímen servem como parâmetro para dizer se alguém é ou não virgem.

Por maior que seja o apreço que a tradição cristã dê à virgindade, jamais ela deveria ser vista como um fim em si mesma. Aquilo que Deus exige das mulheres é a pureza. E nada menos do que pureza Deus preza igualmente nos homens. Muitos jovens cristãos consentem em praticar sexo oral ou sexo anal para evitar a penetração. Desse modo, pensam eles que nada os impedirá de se casarem na igreja, uma vez que permanecem “virgens”. Eles se equivocam, por pensar que Deus se limita a ver o sexo de uma dimensão exclusivamente física.

O Senhor está muito mais interessado em uma atitude mental que se caracterize pela disposição de imitarmos a Jesus e seguirmos Sua Palavra. Essa decisão de sermos discípulos envolve, sem dúvida, a caridosa consideração pelo sexo oposto, porque o verdadeiro amor não procede “inconvenientemente” (1 Co. 13:5, expressão que, no contexto, se reporta à dimensão sexual). Quando cedemos a impulsos sexuais pela luxúria do momento, nenhuma cirurgia humana é capaz de restaurar a pureza perdida. Nesse caso, somente o perdão restaurador que flui da cruz será suficiente.

A verdade e a vida

domingo, 2 de maio de 2010

NEYMAR, REI DE SÃO PAULO

Na Espanha, ele chegou a ser chamado de o “Messi brasileiro”. No Brasil, a torcida santista fez coro para que o técnico Dunga o levasse para a África do Sul. Se o jovem Neymar, artilheiro do Santos na temporada, seria ou não um peixe fora d’água na Copa, é para se pensar. Mas um fato não deixa dúvidas: a atuação dele e da nova geração de meninos da Vila Belmiro deu um banho nos adversários.

Foram goleadas insólitas, mas plausíveis: pelo Campeonato paulista, 5XO sobre o Monte Azul e na Copa do Brasil 8x1 contra o Guarani (com direito a cinco gols de Neymar), para ficarmos com dois exemplos. Houve momentos de tropeço, mas no último domingo, o clube praiano levantou a taça, mesmo com a derrota diante do ataque certeiro do Santo André. Agora, Neymar, o nome do Campeonato Paulista, é rei – pelo menos, rei de São Paulo.

Por quanto tempo o atacante continuará nadando em águas brasileiras, ninguém sabe. Como em matéria de futebol brasileiro, o que é bom dura pouco, a diretoria do Santos tem buscado parcerias com empresários para manter o craque Neymar no clube pelo menos até o final do ano. Enquanto isso, na Europa, já estão lançando as redes para fisgar o garoto de 19 anos. Resta ao torcedor do bom futebol esperar que Neymar jogue todo o Campeonato Brasileiro.

Um dos méritos de Neymar e sua trupe é devolver ao nosso futebol o que ele tem de melhor: a alegria de sua espontaneidade. A cada partida, gols feitos com molecagem e a cada gol, uma dança. Seria bonito se a Seleção Brasileira – com ou sem Neymar – jogasse assim na Copa. Afinal, o Santos de Neymar provou que futebol-arte também pode ser campeão.

sábado, 1 de maio de 2010

O SORRISO QUE FAZ TREMER

"Lúcifer", obra de de Guillaume Geefs(1805-1883).
"Foi-me então mostrado Satanás como havia sido: um anjo feliz e elevado. Em seguida, ele foi-me mostrado como se acha agora. Ainda tem formas marcantes. Suas feições ainda são nobres, pois é um anjo, ainda que decaído. Mas a expressão de seu rosto está cheia de ansiedade, cuidados, infelicidade, maldade, ódio, nocividade, engano e todo mal. Aquele semblante que fora tão nobre, notei-o particularmente. Sua fronte, logo acima dos olhos, começava a recuar. Vi que ele se havia degradado durante tanto tempo que toda boa qualidade se rebaixara, e todo mau traço se desenvolvera. Seu olhar era astuto e dissimulado, e mostrava grande penetração. Sua constituição era ampla; mas a carne lhe pendia frouxamente nas mãos e no rosto. Quando o vi, apoiava o queixo sobre a mão esquerda. Parecia estar em profundos pensamentos. Tinha um sorriso no rosto, o qual me fez tremer, tão cheio de maldade e fingimento satânico tinha ele. Este sorriso é o que ele tem exatamente antes de segurar sua vítima; e, ao fixá-la em sua cilada, tal sorriso se torna horrível." Ellen White, Primeiros Escritos, pp. 152-153.


Colaborou: Jeferson Santos da Silva