sexta-feira, 18 de junho de 2010

A LETRA ARREBATA, MAS O ESPÍRITO POUCO SIGNIFICA




Os cristãos são exclusivistas, sim, mas não da forma como os seus críticos costumam retratar. Cremos em uma Verdade, assim mesmo, com maiúsculas; entretanto, também acreditamos em um Deus que, graciosamente, derrama a chuva sobre bons e maus, que beneficia mesmo àqueles que se rebelam contra Ele.

Houve milhares de cristãos talentosos, que se dedicaram à disseminação das boas novas, através das Artes Plásticas, Política, Literatura, Música, Ciência e Oratória. Contudo, nem se requer acurada investigação para chegar à conclusão de que nem todos os talentosos eram cristãos. É até estranho dizer, mas o talento dos hereges e cismáticos procede do Deus que eles teimam em renegar.

Esta reflexão me ocorreu após saber da morte do escritor português José de Saramago, que há tempos lutava contra a Leucemia. Sua prosa inconfundível seguia os humores de seu Comunismo tardio e sua irreligiosidade notória – basta conferir o tom jocoso-ácido contra a religião em livros como Memorial do Convento, O Evangelho segundo Jesus Cristo ou o recente Caim. Da obra de Saramago bem se pode dizer que a letra arrebata, mas o espírito pouco significa.

Negar o talento de Saramago? Seria dar munição aos críticos – diriam que os cristão são invejosos ou míopes. Saramago foi um gênio, um dos maiores escritores contemporâneos, que, a exemplo de James Joyce, refutou a importância da pontuação. Em entrevista, o escritor disse que, para lê-lo com clareza, bastava a leitura oral. De fato, a oralidade de Saramago remete a dos antigos contadores de história.

Mas nem todo o talento do mundo serve para justificar um escritor que dizia que o homem não merecia viver. Na época, o blogueiro Reinaldo de Azevedo declarou que das duas, uma: ou Saramago era incoerente com sua doutrina (afinal, não tivera a corajem moral de se suicidar) ou era arrogante, considerando-se superior aos demais homens. Pena que a inventividade de Saramago apoiava uma visão desesperançosa e fútil da vida. Sem dúvida, perdeu-se um talento que poderia ter sido melhor empregado…

2 comentários:

Denis Cruz disse...

Ai, figura...

Parabnes pelo lançamento de seu livro... vou comprar o meu amanhã.

Abração e feliz sábado.

joêzer disse...

Muito bom, meu amigo. Saramago foi um desses artífices das letras na seara de mediocridade atual. Nos seus livros ele podia ser altamente espiritual-religioso (como em Ensaio sobre a Cegueira), maquiavelicamente antibíblico (como em Caim) ou totalmente anti-Deus e pró-Jesus (em Evangelho segundo Jesus Cristo).
Um escritor paradoxal, como são os melhores escritores, que impregnou fartamente sua obra de anticlericalismo e antidogmatismo. Mas acho que ele não quis ou não pôde conhecer a Deus melhor.