domingo, 26 de setembro de 2010

O MAIOR SERVIÇO PRESTADO PELA FÉ CRISTÃ



No último debate dos presidenciáveis, que ainda estava ocorrendo no momento em que esta matéria foi escrita, o candidato José Serra, do PSDB, abordou o tema das drogas. A questão foi dirigida à presidenciável Marina da Silva, do partido Verde. Na sua réplica, Serra pontuou o papel da religião na recuperação de adictos: “Precisamos dos movimentos religiosos para este trabalho”, observou o ex-governador de São Paulo.

Na sociedade pós-moderna, a religião é mera prestadora de serviço. Num mundo avesso às instituições e, ao mesmo tempo, incentivador da espiritualidade guiada pelo raciocínio bricolagem, para que ir à igreja? Parece que a igreja, dispensável pelas razões apresentadas, se tornou mero abrigo de pessoas com necessidades especiais.

A observação do candidato tucano tipifica a forma como a religião é lembrada. Ela evoca uma razão para a resistência da igreja em tempos que lhe são hostis. É sua justificativa pragmática.

Entretanto, se a religião serve apenas para evitar, combater e recuperar adictos, ou para evitar a gravidez na adolescência, ela deixa de ser o que, em essência, nasceu para ser: um sistema completo, que pretende resolver as grandes questões existênciais.

Note que faço questão de frizar o “apenas”: não estou alegando que a religião não possa fazer essas coisas ou mesmo resolver tantos outros problemas sociais; vale lembrar, contudo, que a religião não tem como primeiro preocupação ser mais uma prestadora de serviço.

A cosmovisão cristã é um sistema completo em todas as áreas, que se pretende a única verdadeira proposta existencial. Ela pode recuperar um menor de idade da vida criminiosa, como também inspirar um jovem universitário a questionar o pensamento materialista do evolucionismo. Esse é o maior serviço da fé cristã: ser completa.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

FALANDO COM AS PAREDES (ESQUECEMOS DE QUE O MUNDO MUDOU)



Visitei um amigo, pastor jubilado, durante uma semana de oração que dirigi no litoral de Santa Catarina. Cordialmente, meu amigo deu-me um livro (não conheço melhor presente). Logo nas primeiras páginas do volume, algo despertou-me a atenção. Debatendo a busca pela verdade no contexto da variedade de religiões existentes, o autor oferece uma sugestão: “Ao invés de estudar cada religião singular sobre a Terra para descobrir qual a única que ensina a verdade, vá apenas à Bíblia e descubra lá os marcos que ela provê a fim de identificarmos a verdadeira igreja de Deus.” [1]
O arrazoado soa natural para quem compartilhe da mentalidade protestante. Entrementes, uma avaliação cuidadosa acusaria a parcialidade da proposta. Afinal, por que começar pela Bíblia e não pelo Corão? Estaria a verdade disponível em algum destes exemplares de literatura religiosa? Por que não começar a busca por algum tipo de experiência religiosa concreta? Ou por uma visita aos templos das grandes tradições, cada vez mais presentes nas grandes metrópoles?
Não nos parece óbvio que um autor cristão endosse a Bíblia, enquanto um hare-Krishna nos pediria para visitar o templo mais próximo? A parcialidade dos adeptos de cada fé conspira contra a objetividade de seus conselhos ao mesmo tempo em que municia com argumentos os advogados do relativismo. Como sair dessa encruzilhada?
Primeiramente, voltemos à proposta do livro mencionado. Se há um Deus Pessoal, e penso que haja boas razões para crer em Sua existência, não seria irrazoável supor que Ele se comunicasse. Não vejo como nós, cristãos, poderíamos compartilhar as verdades nas quais cremos sem recorrer à revelação divina; aliás, crer em uma revelação sobrenatural não vai contra a razão, uma vez que nada melhor do que a revelação para auxiliar a razão em seus “pontos-cegos”.
Porém, a dificuldade com a proposta está na falta de contextualização de sua abordagem. Ela simplesmente ignora o ambiente cultural do século XXI. Todos os questionamentos que levantei contra ela podem ser racionalmente respondidos. Todavia, encontro poucos cristãos que percebem a necessidade de saber respondê-los; isso pela simples razão de que eles também carecem, em sua maioria, de sensibilidade para com o tempo atual.
Recentemente, resolvi questionar outros cristãos, para saber até que ponto eles poderiam levar adiante uma conversa com um não-cristão a respeito do exclusivismo cristão. O termo em si parece pesado: afinal, um exclusivista é alguém visto como arrogante o suficiente para preterir as ideias de outrem em benefício das suas. Somente esta consideração basta para melindrar alguns.
Outra dificuldade: por décadas, os cristãos conviveram com vizinhos e amigos que compartilhavam de seus pressupostos básicos. Com a mudança de mentalidade que ocorre há algumas décadas, a influência cristã vem sido extirpada do cotidiano. Assim, muitos cristãos sentem-se desconcertados ao verem que não lhes adianta apelar para textos bíblicos ou à noção do julgamento final, considerando que ninguém mais se importa com essas coisas. Parece que, nestes casos, resta reclamar da “dureza dos corações” ou “orar por aqueles que não aceitam a Bíblia”.

Claro que há muitos corações duros. É evidente que a oração é eficaz. Mas se soubéssemos argumentar com aqueles que possuem crenças diferentes das nossas, Deus nos usaria para quebrar as barreiras – e o Espírito Santo poderia ter acesso à mente das pessoas que agora estão alienadas dEle. [2] Ainda escrevemos e falamos, pregamos e evangelizamos como se nada tivesse ocorrido desde o início do século XX. Nosso atraso em relação às tendências atrapalha a eficácia de um testemunho necessário. Temos de aprender a lidar com as objeções sem atalhos. Ou isso, ou a obsolescência.


[1] Ken McFarland, The Called… The chosen: God has always had a people (printed by Review and Herald Graphics), xi.

[2] William Lane Craig, Fé, razão e a necessidade da apologética, in Ensaios Apologéticos: um estudo para uma cosmovisão cristã (São Paulo, SP: Hagnos, 2006), 22-25.


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

COMO CIENTISTA, EU ESTOU CERTO DE QUE STEPHEN HAWKINS ESTÁ ERRADO. VOCÊ NÃO PODE EXPLICAR O UNIVERSO SEM DEUS



Por John Lennox (*)


Não restam dúvidas de que Stephen Hawking é intelectualmente destemido como um herói da Física. E em seu último livro, o notável físico propõe uma audaciosa mudança na crença religiosa tradicional na criação divina do universo.
Conforme Hawking, as leis da física, não a vontade de Deus, proveem a explicação real de como a vida na Terra veio a existir. O Big Bang, ele argumenta, foi a inevitável consequência daquelas leis ‘porque há uma lei como a gravidade, o universo pode e quis criar a si mesmo do nada.’
Desafortunadamente, enquanto o argumento de Hawking está sendo saudado como controverso e revolucionário, ele dificilmente seria novo.
Por anos, outros cientistas tem feito afirmações semelhantes, sustentando que o assombroso, a criatividade sofisticada do mundo ao nosso redor, pode ser interpretado somente com referência às leis físicas, assim como a gravidade.
Isto é uma abordagem simplista, ainda que em nosso época secularizada seja a única que aparenta ter ressonância com um ceticismo público.
Mas, como cientista e cristão simultaneamente, eu gostaria de dizer que a afirmação de Hawking é equivocada. Ele nos pede para escolher entre Deus e as leis físicas, como se eles estivessem necessariamente em conflito mútuo.
Porém, contrariamente ao que Hawking declara, leis físicas nunca podem prover uma completa explanação do universo. As próprias leis não criaram nada; elas meramente são uma descrição do que acontece sob certas condições.
O que parece que Hawking fez foi confundir leis com a agente. Seu chamado a nós para escolhermos entre Deus e as leis é quase como alguém nos exigir para optar entre o engenheiro aeronáutico Sir Frank Whittle e as leis da física para explicar o mecanismo do avião.
Esta é a confusão de categoria. As leis da física podem explicar como o mecanismo do avião funciona, mas alguém tem de construir, pôr em funcionamento e dar a partida. O avião não poderia ser criado sem as leis da física por si mesmas – todavia, para o desenvolvimento e criação, precisa-se do gênio de Whittle como seu agente.
De modo similar, as leis da física nunca poderiam ter constuído atualmente o universo. Algum agente deve ter se envolvido.
Para usar uma simples analogia: as leis de Isaac Newton de movimento em si mesmas nunca fizeram uma bola de sinuca atravessar o carpete verde, o que somente pode ser feito por pessoas usando o taco de sinuca e as ações de suas mãos.
O argumento de Hawking me parece até muito mais ilógico quando ele diz que a existência da gravidade torna a criação do universo foi inevitável. Mas como poderia a gravidade existir em primeiro lugar? Quem a pôs ali? E qual foi a força criativa por trás de seu início?
De forma análoga, quando Hawking argumenta, em apoio à sua teoria de geração espontânea, que isto era somente necessário para ‘o azul tocar o papel’ para ser iluminado para ‘deixar o universo vir’, a questão deve ser: de onde vem este azul que toca o papel? E quem o fez, se não Deus?
Muito da racionalidade que se segue ao argumento de Hawking engana-se com a ideia de que há um conflito aprofundado entre Ciência e Religião. Mas reconheço que não há um desacordo entre eles.
Para mim, como um religioso cristão, a beleza das leis científicas somente reforça minha fé em uma inteligência, força divina e criativa em operação. No mais, eu entendo Ciência, no mais, eu creio em Deus por causa da maravilha na abrangência, sofisticação e integridade de sua criação.
A verdadeira razão para a Ciência florescer tão vigorosamente no XVI e XVII séculos foi precisamente devido à crença de que as leis da natureza, as quais foram então descobertas e definidas, reflete a influência de uma divina legislação.
Um dos temas fundamentais do Cristianismo é que o universo foi feito de acordo com um Planejador racional e inteligente. A fé cristã atualmente proporciona perfeito senso científico.
Alguns anos atrás, o cientista Joseph Needham fez um estudo épico do desenvolvimento tecnológico na China. Ele queria descobrir por que a China, por todos os seus precoces dons de inovação, tinha falhado por estar tão atrás da Europa em seu desenvolvimento da Ciência.
Ele relutantemente chegou à conclusão de que a Ciência europeia tinha sido estimulada pela disseminada crença na racional força criativa, conhecida como Deus, a qual fez todas as leis científicas compreensíveis.
Não obstante, Hawking, como muitos outros críticos da Religião, quer que creiamos que não somos nada, mas uma aleatória coleção de moléculas, o produto final de um processo não-intencional.
Se verdadeiro, isto poderia indeterminar quanta racionalidade nós precisamos para estudar a Ciência. Se o cérebro fosse realmente o resultado de um processo não-dirigido, então não há razão para crer em sua capacidade para nos dizer a verdade.
Nós vivemos em uma época de informação. Quando nós vemos algumas letras do alfabeto escrevendo nosso nome na areia, imediatamente nos sentimos responsáveis em reconhecer o trabalho de um agente inteligente. Como muito mais, provavelmente, então, estaria um criador inteligente por trás do DNA humano, o colossal banco de dados biológico que contém não mais que 3,5 bilhões de ‘letras’?
É fascinante que Hawking, em ataque à religião, sente-se compelido a colocar tanta ênfase na teoria do Big Bang. Porque, por mais que os não-crentes não gostem disto, o Big Bang combina exatamente com a narrativa da criação cristã.
Isto porque, antes do Big Bang se tornar usual, vários cientistas foram forçados a admitir isto, apesar disto parecer se alinhar à história da Bíblia. Alguns aderiram à visão aristotélica do ‘universo eterno’ sem início ou fim; mas esta teoria, e recentes variantes dela, estão agora profundamente desacreditadas.
Mas apoio à existência de Deus está muito além da realidade da ciência. Dentro da fé cristã, há também a poderosa evidência de que Deus Se revelou à Humanidade através de Jesus, há dois milênios. Isto é tão documentado não apenas nas Escrituras e em outros testemunhos, mas igualmente na fortuna das descobertas arqueológicas.
Sendo assim, as experiências religiosas de milhões de crentes não podem claramente estar enganadas. Eu mesmo e minha própria família podemos testemunhar sobre a influência que a fé tem em nossas vidas, algo que desafia a ideia de que não somos nada mais do que uma coleção aleatória de moléculas.
É tão forte quanto óbvia a realidade de que nós somos seres morais, capazes de entender a diferença entre certo e errado. Não há rota científica para tais conceituações éticas.
A física não pode inspirar nosso discernimento dos outros, ou do espírito de altruísmo que existe na sociedade humana desde a aurora do tempo.
A existência de um conjunto comum de valores morais aponta para a existência de uma força transcendente além das meras leis físicas. Assim, a mensagem do Ateísmo tem sempre sido curiosamente a única depressiva, retratando-nos como criaturas egoístas inclinadas a nada mais do que sobrevivência e autogratificação.
Hawking também pensa que a existência potencial de outras formas de vida no universo mina a tradicional convicção religiosa que nós somos o único motivo para Deus criar o planeta. Mas não há prova de que outras formas de vida existam fora, e Hawking certamente não presenciou nenhuma.
Sempre me diverte que o Ateísmo geralmente argumente pela existência de inteligência extraterrestre além da Terra. Assim, eles também estão somente ansiosos para denunciar a possibilidade, a qual nós já aceitamos, de um vasto e inteligente Ser externo ao mundo: Deus.

O novo fuzilamento de Hawking não pode abalar os fundamentos da fé que está baseada em evidência.

(*) John Lennox, apologista cristão, é professor de Matemática em Oxford. Ficou conhecido principalmente por debater com Richard Dawkins, em Outubro de 2007, em um evento patrocinado pela entidade cristã Fixed Point Foundation. O artigo original de Lennox foi publicado no Dailymail . A despeito da qualidade de sua argumentação, a única ressalva seria sobre o Big Bang: embora seja uma explicação teleológica, a teoria contraria alguns dos dados bíblicos.