domingo, 31 de outubro de 2010

"DOCES OU TRAVESSURAS": A ORIGEM


Por influência dos países anglófonos, uma parte considerável do Ocidente comemora o Halloween. Você sabe qual a origem dessa festa, com suas representações de fantasmas e “criaturas do além”? Há algum tempo, li sobre isso em uma edição da revista Las Buenas Noticias (Julho/Agosto de 2004, pp. 2-3). O periódico é editado pela Igreja de Deus Unida, que mantém semelhanças com os adventistas do sétimo dia (também guardam o sábado, estudam Daniel e Apocalipse, entre outros pontos em comum). A seguir, um resumo do artigo sobre o Halloween:

Muitos séculos antes de Cristo, os celtas já comemoravam o festival de Samhain na véspera de seu ano novo, o que acontecia no dia 1o de Novembro. Segundo a crença deles, Samhain julgava os mortos na ocasião. Como as almas dos mortos ficavam aprisionadas nos corpos de animais, alguns eram libertados pela entidade e favoreciam os druidas revelando os segredos da vida após a morte ou potencializando augúrios;

Na ocasião, as pessoas se vestiam como espíritos para “confundir” os mortos que ficavam vagando e, desta forma, não sofrer nenhum dano. Comidas eram coladas às portas da casa para aplacar os espíritos libertos;

Na véspera do ritual de Samhain, ofereciam-se sacrifícios ao deus Bel (semelhante ao deus cananita Baal), os quais incluiam cavalos e até seres humanos;

Com a conquista dos caltas pelos romanos, os sacrifícios humanos cessaram e a celebração a Samhain se fundiu com a festa romana da deusa Pomona, que acontecia na mesma data;

Devido à degradação do Cristianismo, muitos costumes pagãos entraram na igreja. Assim, em 13 de Maio de 610, o papa Bonifácio IV dedicou um templo pagão a Maria e decretou uma nova data a ser comemorada pela igreja: o dia de todos os santos;

No século oitavo, Gregório III fez com que o dia de todos os santos passasse a ser comemorado em 1o de Novembro, o antigo dia da festa pagã de Samhain, o que foi pensado para “evangelizar” (leia-se: fazer média com) os pagãos. A partir dali, as relíquias (objetos religiosos ligados aos santos) eram exibidas e peregrinações a santuários famosos foram endossadas. A população foi incentivada a se fantasiar para honrar os santos e paroquianos se vestiam como santos, anjos ou demônios nas igrejas pobres;

Com o tempo, criou-se a festa das Almas, cuja data era 2 de Novembro (o nosso dia de finados!). Ambas as celebraçoes se fundiram, passando a acontecer em 1o de Novembro. Em Inglês, o dia 31 de Outubro se tornou All Hallows’ Even (a noite de todos os santos), que evoluiu até se tornar o Halloween.


Com todo este histórico, dificilmente algum cristão poderia conscientemente apoiar a celebração do Halloween. Uma festa que nasceu pagã e recebeu o endosso do Catolicismo apóstata, merece a completa rejeição daqueles que servem a Jesus verdadeiramente.

sábado, 30 de outubro de 2010

A ETERNIDADE TODA PARA PERGUNTAR...

A fumaça cinzenta chegando perto. Com náuseas, você advinha os degraus, correndo tropegamente. Alguns lances de escada antes e o forro despencara, quase atingindo sua cabeça. Ao fundo, gritos desesperados, quiçá de vizinhos condenados pelas chamas famintas.

Mas ele surge.

O chapéu engraçado e a roupa vermelha não parecem deixar dúvidas. “Suba nas minhas costas, vou tirá-lo daqui e levá-lo a um lugar segundo”, anuncia o bombeiro com voz de urgência.

“Espere um momento”, você interrompe. “Não vamos sair daqui antes que eu obtenha algumas respostas”. O bombeiro coça a cabeça. Esse tipo de situação não constava no manual de treinamento. Ele se aproxima para salvá-lo, julgando ter diante de si alguém sem juízo. “Nem pense nisto!”, é sua veemente advertência.

Talvez alguma coisa no tom de sua voz seja forte o suficiente para convencê-lo. Ou talvez sua abordagem seja tão original que o seu salvador resolva escutar.

“Bem, amigo. Você está realmente certo de que precisamos sair do prédio? Quero dizer, tudo bem, um incendio está acontecendo, mas ele não pode parar assim como começou – repentinamente? Outra coisa: quem me garante que lá fora seja um lugar seguro? Você trouxe fotos da parte externa do prédio?”

Pela fisionomia, pode-se ver a confusão no rosto do bombeiro – ele simplesmente se encolhe, indiferente às perguntas, surpreso com o local escolhido para fazê-las. Antes que o oficial retome a palavra, você prossegue: “Outra coisa: quem é você? Em que lugar fez seu treinamento? Sempre pensou nesta carreira? Ser bombeiro dá tanto dinheiro como ser analista de sistemas?”

Eu sei. A situação toda é sem cabimento. A emergência cala nossa curiosidade, não é? Qualquer pessoa curiosa teria, ao menos, o bom senso de esperar sair do perigo para fazer perguntas. Ninguém interromperia o próprio resgate para subter seu salvador a um questionário fora de lugar.

Pelo menos, na vida comum.

Espiritualmente falando, a coisa é diferente. De onde veio Deus? Como posso aceitar a Trindade se isso não é lógico? Vida eterna não é algo fantasioso demais para que tentemos explicá-la? Adão tinha umbigo (esta é clássica!)? Por toda parte, as pessoas estão impedindo que o Salvador tenha acesso ao coração delas, simplesmente porque buscam primeiro entender todos os detalhes, inclusive aqueles que são irrelevantes ou os que se acham, por definição, acima de nossa capacidade.

Deus quer que eu me ocupe das coisas essenciais, que ele revelou (Dt 29:29), sem me embrenhar por contendas inúteis , que dividem as pessoas. Alguns trocam a Verdade pela especulação, e se poem teimosamente onde nem mesmo admoestações racionais os podem trazer de volta ao caminho (Tt 3:10-11).

Estamos sendo resgatos. As circunstâncias urgem. Deus nos instrui quanto ao básico. O foco é salvação, não explicação minuciosa do funcionamento da Física. Deus não argumenta porque age de determinadas maneiras em relação à nossa vida. O fundamental é confiarmos no Seu amor e nos subtermos às Suas decisões. Quanto às dúvidas, teremos toda a eternidade para perguntas. Antes, precisamos chegar até lá…

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

AUSTRALIANA FAZ COMERCIAL CONTRÁRIO À SUA PRÓPRIA FÉ

Um comercial vulgar de produto para disfunção erétil teve repercursão em certa comunidade cristã na Austrália. Segundo o tablóide local, Herald Sun, a protagonista do comercial teria sido censurada pela igreja que frequenta.

Libby Ashby, a mulher em questão, afirmou que a Bíblia trata do sexo “em um sentido honrado”, mas reconhece que o comercial ofende às pessoas. Por que, então, ela participou de algo que considerava errado? “Meu [cartão] VISA estava pedindo misericórdia”, confessou Ashby.

O jornal O Globo fez questão de destacar que a igreja de Ashby a proibiu de frequentar os cultos enquanto durasse a veiculação do comercial. Talvez o jornal considere a decisão da comunidade um tanto extremada. Muitos fariam coro, alegando que nenhuma igreja tem o direito de cencurar seus membros. Entretanto, vale lembrar que, se alguém faz parte de uma igreja, é porque conscientemente concordou com as regras da comunidade, bem como está a par dos resultados de uma conduta contrária ao regulamento.

Seja como for, é estranho que uma cristã tenha aceito algo moralmente tão baixo e apenas se resignado a dizer que o teor do comercial “ofende às pessoas”, o que me leve a conjecturar que Ashby esteja mais preocupada com a repercursão (remorso) do que com a ação em si (arrependimento). Infelizmente, alguns cristãos (incluindo famosos "bispos" e influentes "apóstolos") estão dispostos a fazer tudo em nome do seu verdadeiro deus – Mamon (MT 6:24)! Ética, que é bom...

A IGREJA ADVENTISTA FRACASSARÁ?


Os pioneiros adventistas eram a fatia mais insignificante do movimento milerita após o grande desapontamento. Hoje os Adventistas do Sétimo dia representam o maior grupo que descendeu diretamente da pregação de William Miller. Knight afirma que um dos fatores decisivos para o crescimento da facção sabatista foi seu apego a uma mensagem profética, que continha um diferencial, em termos doutrinários.
Ao encarar sua incumbência profética, os adventistas não apenas fizeram esforços para publicar periódicos (estratégia adotadas por dez entre dez grupos cristãos a emergir nos EUA no século XIX); eles estudaram detidamente as profecias, se organizaram como um corpo doutrinário coeso (sempre aberto a novas verdades bíblicas) e também se organizaram formalmente (o que exigiu uma enorme quebra de paradigma, superada a muito custo).
O movimento adventista nunca foi perfeito ou reivindicou a possibilidade de se atingir a perfeição em vida. Alguns poucos, mesmo entre os líderes, fizeram isso; inclusive os que apoiaram a teoria da carne santa, de clara influência do movimento de santidade metodista, que acabaria abrindo as portas para o surgimento do pentecostalismo. Entretanto, essa não foi marca distintiva dos adventistas.
Pelo contrário. Logo os pioneiros se deram conta de que o movimento adventista era tanto o remanescente da profecia, quanto a igreja de Laodiceia. Escolhidos, mas mornos – os adventistas cedo descobriram que “um reavivamento da primitiva piedade” era a cura para os sintomas de esquizofrenia espiritual que apresentavam.
Ao longo da história, fanáticos, descontentes e dissidentes acusaram a igreja de apostasia e alegavam sanção divina para movimentos saídos do adventismo – para logo assistir o fracasso de tais movimentos. O adventismo permaneceu. Ainda vacilante, dividido entre sua comissão divina e suas debilidades humanas. Ainda assim, convicto de que é Deus quem o sustenta e o usará para anunciar a todos o “dia e a hora do juízo” (Ap 14:7).
Não foi muito diferente em relação aos doze discípulos de Jesus: um deles, o tesoureiro, além de ladrão, vendeu Jesus por um valor irrisório. Os demais, o abandonaram na hora de Sua prisão – sem contar um que ainda o negou em vista da prisão iminente. O grupo dos discípulos não era acolhedor (as mães que levaram seus filhos a Jesus que o digam), nem isento de preconceitos (se a mulher siro-fenícia ou a samaritana dependessem da atenção deles…). Três anos e meio ao lado de Jesus não evitaram que eles se acabrunhassem com a crucifixão. Mesmo após a ressurreição, Jesus ainda ouviu a pergunta sobre o tempo que Ele restauraria o reino a Israel.
Mesmo assim, eles eram o grupo escolhido por Deus e não faria sentido algum usar a debilidade deles como escusa para deixar de seguir Jesus. Igualmente, as fraquezas do adventismo não representam razão suficiente para entender que ele tenha deixado de ser o movimento dirigido por Deus. 
O Senhor cuida de Seu povo. Por isso ainda existimos. Obviamente, um processo de refinamento ocorrerá – conhecido entre nós como “sacudidura”. Até lá, devemos nos ligar a Deus, percebendo a solenidade do tempo e mantendo a ligação com o povo escolhido. Assim a vitória estará garantida.

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O VATICANO NA CORRIDA PRESIDENCIAL

Mesmo em meio à controvérsia eleitoral, que ora descamba para o lado da religião, somente um milagre elegeria José Serra. E o tucano realmente anda atrás de um: ontem o candidato visitou uma igreja Assembleia de Deus em Foz do Iguaçu, PR. Não à toa, porque a Assembleia é a maior denominação pentecostal do Brasil.

Como quem pede sempre recebe, Serra ganhou uma ajuda de outro mundo: o Papa Bento XVI fez um pronunciamento aos bispos nordestinos do Brasil para que orientem politicamente os católicos (o que ele chamou sutilmente de “fecundar e fermentar a sociedade humana com o Evangelho”).

No documento, o pontífice reprovou com todas as letras a postura pró-aborto nas seguintes palavras: “[…] Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases”. Como a maioria do eleitorado cristão já identifica Dilma como partidária do aborto (embora a candidata retrocedesse em pronunciamentos recentes quanto à questão), a orientação compreende, por tabela, um apoio à candidatura de Serra.

Se Dilma tem como cabo eleitoral “o cara”, parece que o presidenciável do PSDB passa a ter apoio à altura. Há poucos dias da votação do segundo turno, entre trocas de acusações e tentativas de angariar o voto de milhões de cristãos, Dilma permanece imbatível nas pesquisas. O pronunciamento do Vaticano surtirá algum efeito no maior país católico do mundo? Só Deus sabe…

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

JESUS E OS ZUMBIS: NOVA HQ DE LIEFELD

Rob Liefeld nunca foi um desenhista de muitos recursos. A anatomia das personagens desenhadas pelo norteamericano sempre se mostraram deficitárias, assim como suas noções de luz e sombra. Não se pode dizer, contudo, que Liefeld não tenha contribuído com a indústria de quadrinhos. Suas criações marcaram a década de noventa – Cable, Deadpool, Youngblood, entre outros. Em 1992, Liefeld integrou o grupo de cartunistas que fundaram a “terceira grande”, a Image Comics, proposta de alternativa para o mercado dominado por Marvel e DC Comics; na verdade, a nova companhia trouxe um pouco do mesmo, com acréscimo de sangue e decréscimo de pano no uniforme das super-heroínas.

Agora Liefeld, depois de homérica briga com a Image, começa a retornar ao cenário dos quadrinhos. E o intrigante é a história que seu site oficial divulgou: com um enredo baseado em uma porção bíblica, convenientemente deslocada, a trama gira em torno de uma invasão de zumbis em Jerusalém, após a ressurreição de Jesus (!?). tudo bem, o negócio é, de fato, tão ruim quanto parece (pior seria impossível!). para completar, um cavaleiro chamado Lázaro, o imortal, surge para combater as criaturas.

Na atual crise de criatividade, apela-se a tudo. Zumbis também estavam no pacote – vide a série da própria DC, The darknest night. O agravante fica por conta do desrespeito em relação a Jesus. Quem tiver a macabra curiosidade de ver as 3 páginas expostas no site de Lifeld verá que o único morto-vivo é o traço do autor, cada vez menos artístico.

A VOLTA DE JESUS É PARA SER ESCRITA!


Artistas, em sua busca pelo sublime, sempre incluíram a Deus. Somente a partir do século passado é que as Artes (especialmente as plásticas) passaram a endeusar a estética. Antes disso, o Ocidente era o palco de grandes escritores cristãos, como Dante Aligheri, John Milton, Gerard Manley Hopkins, Gilbert Chesterton, C. S. Lewis, entre outros.

Ontem desenvolvi uma atividade com os alunos do 1o Ano do Ensino Médio, que consistia em usar as habilidades literárias deles para descrever um acontecimento fututo e ímpar: a volta do Senhor Jesus. O resultado? Em muitos casos, surpreendente. Como hábeis ficcionistas, boa parte deles pintou quadros grandiloquentes e situações conflitivas. Sonharam com anjos cerzindo a cada voo o brando no céu e demônios flamívolos (o que é pitoresto e medieval, embora fuja um pouco da objetividade bíblica).

O exercício, além de instrutivo, valeu para dar vida a um acontecimento com o qual cada cristão deveria ocupar sua mente. Infelizmente, as livrarias estão infestadas de volumes como os das séries Harry Potter, Crepúsculo, Sussurro e outras bobagens que não valem nem mesmo o papel da impressão. O mais triste é ver o quanto esta Literatura ficcional arrebanha leitores inexperientes, até entre cristãos. Falta, lamentavelmente, investimento sólido em livros cristãos de ficção, tanto por parte de autores quanto de editoras.

Enquanto isto, alguns leem o que encontram, sem critérios ou ressalvas, dando alimento de segundo para as suas mentes. Sonho com o dia em que escritores se levantarão, com paixão entusiasta e talento inconteste, para anunciar o advento, acontecimento muito mais empolgante do que qualquer coisa que mentes mortais almejassem escrever!…

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

DIANTE DO TRONO E DA MÍDIA



Diante do Faustão, o Diante do Trono me pareceu diferente. As músicas encolheram, ninguém falou em línguas, não teve "unção do Leão". Foi uma dica dos produtores do programa, da gravadora, foi uma percepção de Ana Paula Valadão?

Ana Paula é uma cantora carismática (em mais de um sentido). Quando respondia às perguntas do Faustão com aquela vozinha meiga nem parecia a pastora que adentra o terreno do êxtase com a mesma facilidade com que sai dele. Talvez por isso haja a crítica às performances teatralizadas da cantora. Quem não se entrega aos seus arroubos emocionados, acaba achando que ali tem muito teatro. Seria uma espécie de encenação da contrição. Olhos fechados, voz chorosa, gestos dramáticos: os DVDs do Diante do Trono estão repletos de cenas assim.

Por que no Domingão do Faustão isso não aconteceu? Por que a cantora não irrompeu no "falar em línguas"? Seria para não espantar os telespectadores não-evangélicos (ou mesmo parte dos evangélicos)? Ou o tempo no programa foi curto?

Quem estava acostumado a ouvir as longas repetições das canções do Diante do Trono viu na TV algo do tipo "Querida, encolhi as canções". O grupo esteve 15 minutos ao vivo no Faustão. Como esse é o tempo que eles levam pra terminar uma só música, certamente tiveram que encolher as canções.

Sem as repetições, as músicas ficaram mais agradáveis. Particularmente, não sou apreciador do estilo do Diante do Trono. Não por causa das letras simples. "Deus é tão bom" é pequena e simples e é bonita. Apenas aprecio outro tipo de música cristã, dou valor a outros quesitos musicais e teológicos. Embora isso não faça de mim um cristão mais justo do que aquele que esteve na multidão em Barretos para a gravação do dvd do Diante do Trono.

Não há problema algum em cantores cristãos irem aos programas da TV secular. Tem que ir mesmo e estar pronto para falar e cantar. E Ana Paula Valadão esteve contida, com uma expressão simpática, falando sobre seu ministério religioso-musical. Mas a proposta de atingir o maior número de pessoas (o que é bom) levou a cantora a dizer que existe uma igreja para cada tipo de comportamento que se quer manter (o que é ruim). O cristianismo fica parecendo uma vitrine self-service: o cardápio doutrinário fica a gosto do freguês, digo, fiel. E se não agradar, abra-se outro restaurante, digo, igreja. Depois, ela acabou chamando os "adoradores apaixonados" de "fãs". Fecha-se o elo: o fiel se transforma em fã porque trata seu irmão como um ídolo. E vice-versa.

No entanto, a novidade é a senhora da indústria do entretenimento. O que hoje é fashion amanhã acordará obsoleto. Até outro dia era o Padre Marcelo Rossi e sua "aeróbica do Senhor", lembra? Agora é Aline Barros e Diante do Trono. Daqui a cinco, dez anos serão outros. A fila anda.

Que ninguém se iluda de que a grande mídia está abrindo as portas diretamente para o evangelho. Dick Asher, executivo da CBS, disse certa vez: "Não vou fingir que estamos aqui por alguma explosão de fé religiosa. Estamos aqui pelo potencial de vender discos no mercado gospel". As redes de TV "abrem as portas" pelo mesmo motivo. Então, que os cristãos possam ter sabedoria para falar da sua fé e para cantar do Verbo sem se deixar encantar pelas verbas.
Extraído (na verdade, surrupiado mesmo)do blog Nota na Pauta
Leia também: A fé nas paradas

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O EVANGELHO SEGUNDO SERRA

Se o biólogo ateu Richard Dawkins fosse candidato à presidência no Brasil, até ele passaria a assitir missas e cultos evangélicos! O fator religioso ganhou uma tal importância nas eleições de 2010 “como nunca antes na história deste país”, diria Lula (cabo eleitoral de Dilma e presidente nas horas vagas).

Enquanto Dilma amarga a desconfiança dos religiosos (fator que contribuiu para a existência do segundo turmo), José Serra cresce nas pesquisas e namora o eleitor cristão. A última do ex-governador de São Paulo é a distribuição de cartões plásticos, nos quais em uma das faces se vê a expressão "Jesus é a verdade e a justiça".

O material foi distribuído durante um evento da campanha envolvendo professores, realizado no último dia 15. A origem da frase remete à participação do tucano em uma feira evangélica (em São Paulo), quando Serra afirmou: “Todas [as doutrinas] convergem naquilo que é o essencial: que Jesus é a verdade e a justiça”.

A despeito de competências e experiências públicas do candidato, o que me intriga é seu entendimento do Evangelho. A superficiliadade da declaração é suficiente para iludir o mundo cristão, que se satisfaz com pouco, muito pouco. O presidenciável José Serra, que considera a “astrologia uma espécie de ciência”, tem se arriscado a se posicionar como típico cristão (condição que nem ele nem Dilma possuem); assim, ele quer deixar claro que é o contraponto de Dilma, demonizada por suas declarações a favor da descriminalização do aborto (tema sobre o qual ela tergiversou).

Infelizmente, o evangelho de Serra é puramente pragmático e eleitoreiro. Se Jesus convidou os discípulos para serem pescadores de homens, José Serra quer se tornar pescador de cristãos-eleitores. Depois, a fé ganhará em sua vida o mesmo papel público de antes: nenhum!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

OUTRAS REFLEXÕES: ADVENTISTAS LIBERAIS

Por melhores que fossem suas intenções primárias, fariseus se vulgarizaram como indivíduos hipócritas. Mais ainda: são o símbolo perpétuo da atitude radicalmente intolerante. Curioso: pouco se fala sobre os saduceus. Uma leitura distraída do Evangelho quase os colocaria em mesmo nível com os fariseus. Não caiamos aqui: são grupos distantes, acérrimos oponentes. Os saduceus representavam o outro extremo, o do liberalismo advindo da amálgama entre religião judaica e cultura helenística. Seu naturalismo negava anjos, milagres, visões e artigos afins.

À semelhança de fariseus, eram igualmente dogmáticos. (E é forçoso que se bata na tecla – outrossim, tornou-se popular a premissa de que somente tradicionalistas tenham seus dogmas; entretanto, ressalto que o liberalismo possui uma dogmática de peculiar dialeto).

Compensa dizer: Jesus conseguiu desagradar fariseus e saduceus, não por capricho, senão pela insistência de que a religião verdadeira procede da obediência à Revelação. Assim, desacatou as tradições de fariseus enquanto virava as costas às práticas de saduceus.

Em outro momento, tratamos sobre adventistas fanáticos, os quais se identificam com os fariseus em seu zelo inverso (e controverso!). Resta tratar dos saduceus. Verdade é que alguns tentam por burqas em Ellen White, quando outros a querem ver trajando minissaia.

O lado saduceu do Adventismo talvez seja o espectro (ou Spectrum?) da Teologia Liberal que ronda os círculos evangélicos; talvez se deva à influência midiática; sobretudo, porém, representa falta de avanço na compreensão bíblica. Como adventistas, cremos ser portadores da Verdade Presente. Mas o pacote de Luz, que custou a oração fervorosa dos pioneiros, não nos deu o direito de alardear que “ricos somos e de nada temos falta.”

Cada geração enfrenta novos desafios à mensagem cristã. E a recusa (mesmo involuntária) de destrinchar a Luz e enfrentar o repto específico de cada época torna os cristãos uma comunidade acuada, que passa a viver da tradição estagnada. Logo, gerações posteriores de cristãos lutam contra os resquícios extenuados da tradição, as quais não foram traduzidas para seu contexto, ou mesmo pouco ou nada desenvolvidas. Todavia, ao invés de continuar a pesquisa bíblica e restaurar tudo quanto fosse necessário, esses novos cristãos substituíram a tradição por crenças palatáveis aos padrões de sua época. A base, portanto, deixa de ser bíblica e se inclina servilmente ao zeitgeist (espírito da época). Tal é a gênese do liberalismo teológico em geral, e do liberalismo adventista, em particular.

Ao contrário do adventista fanático, exaltado e carrancudo, o liberal se mostra de outra têmpera: sociável, carismático, aglutinador. Seu pragmatismo oferece a resposta para a liturgia burocratizada e um evangelismo atrativamente contextualizado. Aparentemente, o indivíduo liberal transmite uma normalidade, desfazendo o rótulo que a igreja leva de “homens verdes em torno de uma cruz”. Mas precisamos inquirir: não seria essa “normalidade” um conformismo que dilui o Adventismo, tornando-o uma versão “coca-cola” da turma de Josef Bates e Hiram Edson? Ou: até que ponto o adventista liberal é adventista? A seguir, verifico três motivos de preocupação com o Adventismo liberal (sabendo que certamente haveriam outros):

A) Adventistas liberais têm seu testemunho comprometido porque, no fundo, sua visão difere bem pouco da visão daqueles que os rodeiam: como influenciar as pessoas com uma mensagem que se pretende revolucionária, ao mesmo tempo em que, na prática, não revolucionou muito a vida daqueles que a professam? Se não há diferenças significativas entre os hábitos dos cristãos em relação aos dos não-cristãos, para quê serve seu Cristianismo? A questão se torna ainda mais dramática se elencarmos as exigências do discipulado cristão, entre as quais “negar-se a si mesmo”, “tomar sua cruz”, estar disposto a “perder sua vida” e sofrer “perseguição” e “injúrias”, além de manter a disposição de “servir os outros e não a si mesmo”; confrontadas com tais exigências (e outras), o liberalismo não passa de um bonzai, um reducionismo dessencializador. Se um Cristianismo autêntico está comissionado para ser “sal da terra” e “luz do mundo”, que papel estaria reservado para ser versão mais insípida e nublada?

B) Adventistas liberais são mais racionalistas: O liberalismo se desenvolve quando não se leva o sobrenatural a sério. Saduceus escolhiam, em seu ceticismo, quais elementos da crença judaica tradicional ainda manteriam como artigo de fé; os cristãos liberais do século XVIII e XIX não acreditavam em milagres (mesmo aqueles descritos na Bíblia). Hoje, os liberais são os mais propensos a tentar conciliar ciência naturalista e teísmo. Por isso, tanta desconfiança da Bíblia e dos Escritos de Ellen White.

Às vezes, a desconfiança é camuflada pela alegação de que as declarações inspiradas fiquem restritas aos seus contextos históricos – o que em geral expressa o desejo de que fiquem presas ao passado! Uma ressalva: o entendimento do contexto, sem dúvida, é importante; porém, isso se torna um problema quando se deseja entender declarações proféticas somente como fruto de sua época, sem a possibilidade de extração de princípios para reger o povo de Deus em sua conjuntura atual; daí, o profeta se torna meramente um mensageiro silenciado pela História e sua autoridade, na melhor das hipóteses torna-se “pastoral”, como Desmond Ford redefiniu a função de Ellen White.

Quando se rejeita o aspecto normativo da Revelação, coloca-se excessiva confiança na própria razão humana. Em parte, creio que isso explica o porquê liberais questionam tanto as doutrinas da igreja ou propõem entendimentos alternativos delas. Liberais reivindicam liberdade, conquanto, ironicamente, estejam enclausurados em conceitos humanos, mutáveis e incertos;

C) Adventistas liberais tendem ao Relativismo: com sua ampla tolerância aos espíritos diversos, liberais conseguem representar, nos movimentos nos quais estão inseridos, um abertura a ideias e tendências de outros movimentos. Geralmente, os próprios liberais gostam de se definir como “pessoas de mente aberta”. Obviamente, o Cristianismo (tal qual o Adventismo) não devem se isolar das pessoas. Contudo, há o risco de que uma abertura sem critérios permita a infiltração de princípios que contrariem o próprio movimento. Saduceus eram o pedaço mais helenizado de Israel. O Cristianismo alemão, em fins da década de 1930 era tão insípido que não tardou em apoiar, grosso modo, o Nazismo. Não é incomum adventistas liberais participarem de eventos gospel ou incorporar ao seu estilo de vida comportamentos contrários ao estilo de vida defendido pela denominação (como sexo pré-marital e frequência a ambientes como cinemas e festas noturnas).

No fundo, o relativismo é a conclusão de que não importa o que creiamos ou como vivamos. O que importa são os sentimentos, o amor a Deus e o amor ao próximo – e o próprio emprego desses termos não é feito senão em termos gerais, suficientes para esvaziar o conteúdo bíblico deles. Afinal, quanto menos contornos e mandamentos (mesmo os bíblicos!), mais o liberal sente-se em casa!

Claro que uma incoerência tão marcada leva muitos à conclusão razoável de que, se realmente não há diferença, é melhor abandonar de vez o Adventismo…

Da mesma forma que ocorria na época de Jesus, o liberalismo hoje cresce em influência. A missão da igreja enfrenta fortes obstáculos e as características da denominação são extirpadas por compromissos com o atual zeigeist. O antídoto? Conforme um amigo, só duas coisas podem resolver: ou reavivamento ou perseguição. Espero que nos persigam logo!…

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A CIÊNCIA PODE NOS DIZER O QUE É BOM?

A Ciência está rapidamente se tornando a religião do homem moderno, e a iniciativa para desbancar o Cristianismo vem sendo tomada pelos novos ateus, como Sam Harris. Jon Stewart, do The Daily Show, entrevistou Harris no começo desta semana sobre seu novo livro, no qual ele argumenta que a Ciência pode nos guiar ao verdadeiro conhecimento do que é bom. Ele não tem em vista o bom no aspecto utilitário, como no caso da máquina que trabalha, ou da medicina que cura, mas bom no sentido moral, como um caminho superior para viver a vida, que é única.

Harris começou a entrevista apontando que o mundo tem um problema – encontrar um código moral comum pelo qual viver. Ele lamenta que os únicos a pensarem haver verdadeiramente respostas corretas para questões morais são religiosos fanáticos que imaginam a Terra sendo da idade de 6 mil anos. Todos os outros, ele argumenta, pensam que há algo suspeito sobre a noção de moral verdadeira. A despeito disto, ele insiste, apesar de tudo, que a Ciência pode ceder naquilo que se tem considerado os cristãos errados por todos estes séculos: verdadeiras respostas sobre moral. Ela pode prover isto, afirma Harris, sem a bagagem da religião, a qual ele insiste dar ao povo más razões para sermos bons, enquanto boas razões – presumivelmente vindas da Ciência – estão disponíveis atualmente.

Harris é provavelmente bem intencionado – acima de tudo, o mundo tem realmente um problema – mas ele faz uma confusão básica. Ele está assumindo que, pelo fato de algumas pessoas abusarem da religião, e fazer coisas erradas em nome da religião, a religião em si não pode ser uma origem para o verdadeiro conhecimento moral. O compartamento de pessoas más, é evidente, nos revela algo sobre aquelas pessoas, mas não muito sobre se a religião que elas se propõe a seguir é verdadeira ou não. Harris comte este erro para tentar conseguir que a Ciência faça algo que ela não pode. Entendendo que a Ciência é boa em sua busca pela verdade, com todos os seus modelos, e que a Ciência é moderna e não possui a bagagem da “religião organizada”, ele conclui que a Ciência é a escolha perfeita para o moderno e neutro banco de dados.

Mas isto é simplesmente falacioso. A Ciência não pode descobrir verdadeira moral mais do que ela pode explicar porque a coragem na batalha é preferível à covardia. Sobretudo, a covardia não seria mais satisfatória para salvar sua vida e preservar seus genes para a próxima geração? A Ciência pode analisar a frequência estatística da coragem, e talvez porque ela esteja ocorrendo no cérebro de uma pessoa destemida, mas ela não pode jamais nos dizer porque é “melhor” arriscar uma vida pela salvação da vida de um amigo.

Stewat nunca se incomodou em desafiar Harris sobre conceitos tais como “melhor”, ou a definição de “bom”, para que se importasse. Como pode Harris usar a Ciência para determinar o que é bom, sem primeiro ter noção do que é “bom”?! Cada exemplo de “bom” não é significativo somente se, em primeiro lugar, alguém tem em mente uma escala, um continuum, no qual as coisas se movam do terrível, para o ruim, para o bom, para o melhor, e, por último, e talvez apenas teoricamente, para o “melhor”? Qual é a origem desta escala para Harris?

Stewart nem se incomodou de pedir a Harris que explicasse como a Ciência – esta suposta origem do conhecimento moral – poderia, por exemplo, condenar um verdadeiro Dr. Mal, como o famigerado Anjo da Morte do Terceiro Reich de Hitler. Educado na Universidade de Frankfort em Medicina e Filosofia, a dissertação de Josef Mengele em 1935 trata de supostas diferenças raciais na estrutura da mandíbula inferior. Seu trabalho “científico” incluiu do mesmo modo descidas bárbaras dentro do mal, como deixar pacientes em câmaras de pressão, testando-os com drogas, experimentos com castração, congelamento e exposição a outros traumas. Outros exprerimentos ameaçadores incluíram tolerância a isolamento, injeções com germes letais e a remoção de órgãos. Seus registros de laboratório estavam sem dúvida meticulosamente documentados e ele não estava, aparentemente, violando qualquer das “leis” do estado nazista. Este monstro poderia sem dúvida explicar que ele estava meramente usando o método científico para melhorar as vidas daqueles que os nazistas consideravam dignos. E, a fim de nós não pensarmos somente nos regimes bárbaros, como os de Hitler, poderíamos descer dentro de escuridão semelhante: notícias recentes revelam experimentos feitos por cientistas americanos na década de 1960, nas quais pacientes mentais foram intecionalemtne expostos a doenças venéreas.

Então, não Sr. Harris, a Ciência pura não está onde você poderá encontrar conhecimento moral. A Ciência é meramente uma metodologia para adquirir conhecimento prático, para coletar evidência e descrever inferências e testar uma de suas descobertas. Ela não pode realmente responder questões profundas. Ela não pode nos dizer porque nos reconhecemos e amamos a beleza, ou o quê é o amor, o que importa. Ela não pode explicar como nós sabemos que lealdade é boa e traição, má, ou o que o mal é atualmente. Ela não pode demonstrar porque música ou poesia, ou uma poderosa história podem comover uma alma, ou dar sentido ao sentimento de reverência quando olhamos para os céus em uma noite estrelada. Mais significativamente, como Mengele esclareceu, ela não pode prover embasamento para nosso conhecimento moral, que todos os seres humanos têm intrinsicamente valor e explicar porque o valor deveria ser respeitado.

Não, Sr. Harris, se você precisa responder sobre o que é bom, o que é certo, o que é nobre – o que é melhor para o futuro da humanidade – você deveria primeiro identificar o início de tudo o que é bom, tudo o que é certo, tudo o que é nobre. Mas você não encontraria estas respostas em um livro de Ciência. A fonte da Ciência, e de todo o mais, foram deixados em um livro diferente.
Traduzido do blog pleaseconvinceme

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

ACENDER VELA PARA SANTO EVANGÉLICO

Ontem quem assistiu o debate entre os presidenciáveis, transmitido pela Rede Bandeirantes, ouviu palavras como “fé”, “esperança”, “meio ambiente” e “aborto” proferidas à exaustão. As três primeiras remetiam à terceira candidata mais votada no primeiro turno, Marina Silva. Em verdade, não à toa, já que tanto Serra como Dilma cobiçam o eleitorada da ex-ministra do meio ambiente. A quarta palavra encerra em si uma polêmica: teriam evangélicos e católicos motivos para crer que Dilma Rousseff descriminalizará o aborto, caso se eleja? Talvez por conta dessa dúvida, o eleitorado cristão tenha fugido da candidata no primeiro turno como o diabo foge da cruz.

Em relação aos primeiros debates que assisti, o veiculado ontem mostrou-se mais tenso: os candidatos não fugiram da pauta, que inclui troca de acusações, respostas desencontradas e muito nervosismo (apesar de Serra parecer, em alguns momentos, mais senhor de si). Se os políticos mais votados nesta eleição procuraram fugir do confronto direto no primeiro turno, isto agora se tornou inevitável.

Agora é tudo ou nada. E no pragmatismo do cenário polítco tupiniquim, vale até acender vela para santo evangélico! Ambos os candidatos querem ser palatáveis para o eleitorado cristão. Mas a fé deles continua sendo a fé nas articulações e conchavos: Dilma, como mostrou a reportagem da Isto É, consulta pastores e padres, para desmintir a suspeita de irreligiosidade inventada pelo ímpio PSDB (e a Isto É jura de pé junto que é imparcial, né…).

Serra deixa claro em suas propagandas que sempre lutou pela vida, o que quer dizer que é contra o aborto. Ele disse à Dilma, durante o debate, que a petista possuia duas caras, por mudar de opinião neste tópico (ela não deu a outra face e acusou o tucano de ter “mil caras”; altíssimo nível!). Os dois peregrinam de altar em altar, sem esclarecer como pagarão suas promessas. Tolo é o eleitor que der crédito à ladainha. No fundo, como diz a frase chilena usada por Serra, a religiosidade que os dois presidenciáveis é do tipo que “predica, mas não pratica”.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A ÚLTIMA ESTAÇÃO



A poucas estações do fim. Alguns liam morosamente o jornal. Um garoto alienado em seu MP alguma coisa. Senhoras conversando sobre os netos. Gente voltando de diversos escritórios. Sobretudo, o cansaço de quem esperou o metrô esvaziar para voltar para casa.

Em uma parada, entram duas crianças. O mais velho não teria mais do que seis ou sete anos. Os tufos voláteis davam um contorno impreciso à sua cabeleira. Chegou numa torrente de gritos e gestos. Semelhante a ele, um outro menininho. Mais roliço, o maxilar menor e o nariz arrebitado. Com palavras inteligíveis, copiava o vozerio do irmão.

Atrás dos perturbadores, um homem, testa larga, cenho decaído. Quem o visse, diria que fosse legítimo palerma. Sentou-se numa prostração de condoer. Parecia alheio às crianças, que, desde a entrada, voavam pelo corredor do vagão sob os olhares enviesados dos passageiros.

As senhoras mudaram de tema. Cochichavam sobre a educação de hoje e frouxidão dos pais. Dois estagiários, visivelmente aborrecidos, faziam caretas. Com sarcasmo, caçoavam dos meninos, fazendo rir duas moças próximas a eles. Até parecia que os garotos inquietos serviram de mote para a paquera.

Uma funcionária pública, vestindo um terninho surrado, indignou-se. Com veemência, passou a reclamar em voz alta, imaginando que inflamaria alguém. Aquilo era o cúmulo: ela não trabalha seis horas por dia?, como, pois, teria de aguentar aquilo? Por que alguém precisava dizer àquele pai que as pessoas estavam cansadas; ele que tivesse mais pulso com as duas pestes, oras!

Aos poucos, os resmungos se materializaram em desconforto generalizado. Os meninos continuavam intensos. Crescia o descontentamento. Todos lhes dirigiam caretas e ameaças veladas – ou nem tanto disfarçadas. Foi quando senti que os olhares se voltaram para mim.

Até então, estive incógnito. Claro que estava exausto, porque cruzara a cidade pela manhã e o fazia novamente. Apenas queria estar em casa e com a esposa. Pensava, diante dos monstrinhos no metrô, em novamente adiar a paternidade. Olhei duas ou três vezes para o homem, sentindo raiva pela sua fraqueza e simpatia pela sua impotência.

Talvez fosse isso. Perceberam que eu estava ao lado dele e lhe dirigira olhares solidários. Foi suficiente para que eu fosse escalado, naquele momento, como porta-voz dos demais passageiros. Mas o que dizer? Como abordar um desconhecido e lhe censurar a falta de disciplina para com os próprios filhos? Situação incômoda.

Hesitei. O homem concentrara-se mesmo no jornal. Queria ter começado por aí. Mas as primeiras palavras não saíram exatamente como planejei…

– Parece-me que seus filhos estão agitados, né?

Um momento de silêncio. O homem parecia distante, glacial. Mas me ouvira, sim.

– Eu não os culpo. Depois de tudo o que lhes ocorreu, é melhor assim.

Tive medo de saber o resto da história. Mas ele prosseguiu:

– Ontem, fomos ao hospital visitar a mãe deles. Era a primeira visita dos meninos. E foi também a última.

Foram pesados quinze minutos que se seguiram. Logo os meninos desceram. O pai foi logo atrás, opaco. Todos esperaram as portas se fechar. Seguiram-se caçoadas, risos e tudo voltou a normalidade. Mais uma estação e seria o fim. Para a maioria de nós. Para aquele homem, e seus filhos que não tinham maturidade sequer para compreender a perda, a última estação já chegara.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

PREPARO PARA A COLHEITA



ODE I

Que o grão permaneça; reprima essa mão que colhe e então espreme.
Adentras a gruta – mal sabes a cor do céu atrás. Primores
Insones se notam, mas o hoje requer bom siso e fé, pois foge!
Enterra o grão, homem: germine e encha os sulcos deste chão. Na [ceifa
Nem cifras mais valem; prazeres a grama irá cobrir – crerás ?
Se o teu prazo voa, vá, preza, ó agrônomo, uma paz (faça-o hoje)
Que deixe no campo reais provisões, e tu terás colheita.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O MUNDO FORA DO COMPASSO



Uma reportagem do Jornal Hoje informou que a brincadeira do compasso é a nova mania de crianças e adolescentes. O jogo, antigo e com algumas variantes, é comumente praticado em escolas. Com os anos, ele passou a integrar o folclore estudantil, como a história da loira no banheiro (lembra?), que aparecia quando se apertava três vezes o botão do vaso sanitário.

No jogo do compasso, ocorre uma invocação a espíritos, que responderiam a perguntas dos participantes por meio do objeto,o qual fica na mão do líder do grupo e apontaria sobrenaturalmente o “sim” ou o “não” escritos em lados opostos da folha sobre a qual se apoia.

O que para muitos não passa de uma brincadeira juvenil é, na verdade, uma maneira sutil de apresentar às mentes vulneráveis dos jovens o atraente mundo do espiritualismo. A Bíblia não admite a possibilidade de vivos consultarem os mortos (Is. 8:19-20), mesmo porque os mortos não sabem de nada (Ec. 9:5-6), ficando relegados ao estado de não-existência. Infelizmente, aqueles que desconhecem a Palavra de Deus andam em outro compasso…