quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O REMORSO

Submeter-se à vontade divina requer desapego sincero aos prazeres que nos mobilizam e às vontades que nos condicionam. Dói deixar uma prática alimentada por tanto tempo, que já a sentimos incorporada ao que somos. E quando se abandona o erro sem a convicção de que se trata realmente de um erro, o desapego nunca é cabal. Removemos os rastros, conservamos os pés. Maquilamos a cicatriz, sem untá-la.

Se o arrependimento é a porta escancarada ao céu, o remorso consiste naquela porta entreaberta, pela qual não conseguimos transitar ou mesmo retroceder; e entalamos na indulgência a nós mesmos, certificando-nos de que, se ninguém nos visse e tivéssemos outra oportunidade, cometeríamos outro pequeno delito prazeroso.

A ofensa do remorso nos faz entrar na presença de Deus com o odor de um Judas, que polui o que toca e atrai moscas. Se o arrependimento liberta, o remorso faz mais pesada a carga e frustra a vida de quem, por orgulho, descaso ou culpa, se imagina incapaz de obter perdão.

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