segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

VENCER POR CAUSA DELE


A controvérsia sobre que tipo de natureza humana Jesus assumiu em Sua encarnação assume um caráter prático, refletido na vivência cristã. Se aceitarmos que Ele possuía uma natureza humana como a nossa, se Ele foi essencialmente como nós, podemos ser como Ele, obtendo perfeição absoluta. Contra esta tendência, relacionada com os termos pós-lapsarianismo (conceito de que Jesus veio com a natureza pecaminosa) e perfeccionismo (afirmação de que podemos ser perfeitos nesta vida), o Pr. Amin Rodor ergue sua voz. No artigo Cristo e os cristãos (revista Parousia, revista do Seminário Adventista Latino-americano de Teologia – Sede Brasil - Sul; 2008, ano 7 – nº 1, p. 45-73), Rodor trata da questão, baseando sua argumentação no ensino bíblico e nas declarações de E. G. White.
O tom do artigo, publicado na revista Parusia, é apologético, às vezes sendo incisivo e mesmo duro com aqueles que, por ignorância ou desonestidade, torcem a Palavra de Deus, fazendo com que ela apoie suas conclusões precárias. Ainda assim, o texto de Rodor possui suficiente abrangência para clarear o que os perfeccionistas soem confundir.
De início, o professor Rodor estabelece que a “1) extensão de sua [de Jesus] identificação conosco foi determinada por quem Ele era, e 2) A extensão de sua identificação foi também determinada por sua missão como Salvador da humanidade.” (p. 51).
De forma reincidente, o artigo trata Jesus como um conosco, não um de nós. Mais à frente, Rodor afirma: “Qualquer leitura responsável de Ellen White não deixaria passar despercebido o seu cuidado em tornar claro, além da dúvida razoável, que Cristo não participou da corrupção do homem, de suas paixões ou propensões malignas, do orgulho humano, inveja, rivalidade, egoísmo ou qualquer inclinação para o mal. Para ela, mesmo entre Cristo e os cristãos existe uma imensurável distância.” p. 60.
A despeito do que afirmaram pioneiros, como A. T. Jones e E. J. Waggoner, e eminentes denominacionais, entre os quais M. L. Andreasen, defensores do pós-lapsarianismo, Rodor esclarece que nosso compromisso maior se dá com a Revelação (p. 65). Neste sentido, o artigo aborda a famosa carta a Baker, um dos momentos em que E. G. White mais claramente elucida que não podemos rebaixar o Salvador ao nível comum da humanidade.
De fato, os autores e ministérios independentes que se apoiam em declarações de Jones e Waggoner, chegam a defender sua apostasia, além de procurar veicular a chancela de Ellen White a estes autores. Infelizmente, além da idolatria aos pioneiros apostatados, a falta de critério em analisar todas as declarações de White em conjunto pesa contra a integridade da proposta de tais advogados do pós-lapsarianismo.
Em vista disso, só podemos agradecer a Deus que nos enviou um Salvador perfeito, incomparável, como gosta de frisar Rodor. Seu artigo, além de documentar a concepção de Ellen White, em flagrante contraste com a daqueles que entendem que Jesus possuísse uma natureza pecaminosa, nos incentiva a perseguir a verdadeira compreensão – aquela que nasce do entendimento de nossa pecaminosidade e da certeza de que mediante Jesus, o segundo Adão, podemos vencer, não como Ele venceu, mas porque Ele venceu. Como entender a graça no contexto da visão adventista de salvação? A graça se relaciona ao plano de Deus em reproduzir Seu caráter em nós. Não se resume ao modo como Ele lida com os pecados que cometemos, mas inclui também o modo como Deus me leva a tomar decisões práticas, a ser obediente em todas as áreas. Quem confunde obediência com legalismo deveria, no mínimo, repensar seu adventismo e se perguntar se as distorções evangélicas não têm afetado sua compreensão da própria salvação. Temo que muitos se choquem tanto ao ler sobre isso porque sempre pensaram como evangélicos, sem terem sido ensinados a pensarem como adventistas. Trágico assim.



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