quinta-feira, 17 de novembro de 2011

RATINHO X VALDEMIRO: A IGNORÂCIA DO DENUNCISMO CONTRA A APOLOGIA DA RAPINAGEM


Ratinho veiculou em seu programa (?) um vídeo contendo o testemunho dado em uma congregação da Igreja Mundial do Poder de Deus. No vídeo, um homem afirma que, ao passar a toalha milagrosa na frente do caixa do banco, à noite (quando a agência estava vazia), suas dívidas teriam sido perdoadas.

Quando o pastor perguntou a ele quem pagou a dívida, ele respondeu sem titubeio: “Jesus, Jesus pagou minha dívida!” A frase, que geralmente tem um sentido soteriológico, tornou-se cômica com sua aplicação ao mundo do crédito. Diante disso, Ratinho sentenciou:

“A gente ri, mas deixa eu falar uma coisa séria pra vocês: que absurdo faz alguns pastores de igreja. É… aí é chamar a população de idiota. Aí é chamar… sei lá. Acho que fazer milagre, cura uma doença, vai lá, tudo bem, é uma questão de fé. Agora, pastor, o senhor ir na televisão […] pastor, tenha paciência, né. Aí é apelação. […] quem é o idiota que vai acreditar numa mentira?… Senhor pastor, o senhor é mentiroso. Pastor, o senhor não deveria… eu duvido que o senhor conheça a Bíblia, duvido que o senhor conheça a palavra de Deus. Sabe, isto é enganação, pastor. Isso que o senhor está fazendo é estelionato. […] O senhor devia estar na cadeia. Isto é roubar, isto é enganar. […] Isto é tomar o dinheiro de pobre, de ignorante, o senhor devia estar na cadeia.”

O bispo Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus, não ficou calado. Usou um espaço de seu programa (??) para responder a Ratinho. “Eu fico triste com isso, porque eu gosto dele, eu gosto do Ratinho. Eu abençoo você Ratinho, eu perdoo você”, é o que vemos dizer o líder da denominação que mais cresce no Brasil.

Em sua apologia da rapinagem, Valdemiro valeu-se também do argumento da autoridade, citando personalidades que teriam testemunhado os milagres nos cultos da Mundial, entre as quais “o governador Alckmin.” Infelizmente, todos políticos, cujo testemunho estaria seriamente comprometido com a intenção de ser popular.

“Eu queria que levasse para ele a imagem da criança leprosa”, argumenta o apóstolo, citando outros milagres que seriam recorrentes. “Você quer usar o nome dos outros para fazer dinheiro”, acusa Valdemiro, para quem Ratinho estaria enveredando por “um caminho errado”, principalmente porque Ratinho seguiria um “Deus morto”, o “deus” de sua igreja. Quanto ao homem da toalha, “ele, com a fé dele, fez esse propósito e Deus o honrou.”

Nesta troca de farpas entre um dos apresentadores mais criticados pelo baixo nível de seus programas e um líder religioso interesseiro, quem ganha? Todos perdem! É tão insosso e falto de conteúdo o debate que caímos na tentação de achar que deveríamos continuar assistindo apenas para rir mais.

Sobre o tema em pauta: Deus faz milagres? Sim. Mas precisa para isso de objetos sagrados místicos? Certamente que não. É verdade que profetas como Elias e Eliseu, ou mesmo Moisés, fizeram uso de instrumentos simbólicos ao efetuarem milagres, dentro de um propósito. Mas e a toalha milagrosa, seria símbolo de quê, então?

O fato de Deus estar vivo não implica em todas as soluções para nossos problemas imediatos (e de maneira imediata), como querem os defensores da chamada “confissão positiva”. No fundo, o neo-pentecostalismo é perigoso não porque queira manipular o povo. Não, eles são mais ousados do que isso (e, portanto, daí serem perigosos): eles querem manipular o próprio Deus!


Veja também: Histórias do pescador Valdemiro, Como um marajá, Mais simples do que isso (palestra com download gratuito)

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