terça-feira, 31 de julho de 2012

SEM SOMBRA DE DÚVIDA


Stephen Hawking não se tornou conhecido como apostador doentio, desses que frequentam cassinos. O popular cientista é considerado o maior físico desde Einstein. Entretanto, há algumas semanas, Hawking cismou com Gordon Kane, da Universidade de Michigan (EUA). Ele acreditava que jamais seria encontrado o bóson de Higgs, uma partícula subatômica supostamente essencial para entender a origem do universo. Como boa parte dos achados da física aconteceu de forma aleatória, o bóson de Higgs não seria descoberto intencionalmente. "Por causa disso, apostei com Gordon Kane que a próxima partícula não seria encontrada. Parece que acabei de perder 100 dólares", declarou Hawking. [1] Claro que ninguém discriminou o físico por sua incredulidade, afinal, duvidar também faz parte da ciência.

Por outro lado, cientistas já erraram por excesso de credulidade. Charles Dawson que o diga! Dawson aproveitou-se da fama de Arthur Smith Woodward, na época conservador do British Museum, para junto dele anunciar sua descoberta bombástica: o crânio de um suposto elo perdido entre o homem e o macaco. Batizado de Homem de Piltdown (localidade inglesa em que se fez a descoberta), o primeiro fragmento foi divulgado em 12 de Dezembro de 1912, seguido pelo achado de dois crânios semelhantes em 1915, todos considerados legítimos. Paleontólogos e especialistas escreveram dezenas de artigos sobre o novo elo perdido.

Somente em 1949, mais de trinta anos da descoberta original, o paleontólogo Kenneth Oakley testou um dos achados, e detectou traços extremamente baixos de flúor, mostrando que o fóssil era recente. Um exame mais minucioso comprovou que os dentes do Homem de Piltdown haviam sido serrados, a fim de aparentar desgaste. O crânio e a mandíbula foram coloridos com bicromato de potássio (para parecerem mais antigos). O próprio achado consistia na fusão de uma caixa craniana de um homem moderno com a de um orangotango, com dentes de elefante, hipopótamo e chimpanzé. Aparentemente, o autor da farsa foi mesmo Charles Dawson (falecido em 1918), que teve como provável cúmplice o teólogo e paleontólogo jesuíta Pierre Teilhard de Chardin. [2]

Nem sempre é simples perceber quando devemos acreditar e quando devemos duvidar. Principalmente quando o assunto envolve a fé cristã.

“Temos visto que uma parte essencial da fé e da crença é a ideia de que aquilo em que cremos é verdadeiro”, já disse alguém. [3] Mas haveria algum espaço para a dúvida na vida cristã? Não conheço ninguém em particular que fosse elogiado por duvidar. Como cristãos, associamos dúvida com descrença. Quem dúvida, está fraco na fé. Logo, a dúvida parece ser, senão propriamente um pecado, ao menos, o primeiro passo antes da queda.

Uma boa definição explica a dúvida como um estado entre fé e incredulidade. A dúvida não seria uma coisa ou outra, apenas um meio termo. [4] Logo, a dúvida não consistiria necessariamente em algo errado em si. A essa altura, alguém perguntaria: “Espere um minuto: Jesus não repreendeu Tomé por ter duvidado?” Devido a uma compreensão equivocada desse episódio bíblico, muitos acreditam que seja errado ter dúvidas. Portanto, é válido refletirmos sobre o que realmente aconteceu.

Ellen White descreve o caráter do discípulo, afirmando que era “Tomé, leal, se bem que tímido e temeroso”. [5] Ele recebeu o convite para fazer parte de um grupo selecionado de amigos pessoais de Jesus (MT 10:3). Tudo indica que possuísse um irmão gêmeo (Jo 11:16) e, se olharmos para sua personalidade, veremos que ele sempre trazia perguntas na ponta da língua (Jo 14:5).

Sobretudo, Tomé é lembrado por ter duvidado da ressurreição de Cristo. Como não testemunhara a primeira aparição de Jesus, ao rever o grupo e saber da notícia, ele afirmou firmemente: “Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei.” (Jo 20:25, NVI).

Jesus reencontrou-Se com os discípulos uma semana depois da declaração do discípulo com dúvidas. O Salvador desafiou Tomé: “Coloque o seu dedo aqui; veja as minhas mãos. Estenda a mão e coloque-a no meu lado. Pare de duvidar e creia.” (v.27, NVI). Por que Jesus reagiu de forma tão severa ao lidar com a dúvida de Tomé? Será que toda dúvida é sempre errada? Deus me punirá se eu tiver dúvidas?

Tomé foi repreendido por descrer quando havia motivos para crer. Comentando sobre Tomé, que desacreditou, e Pedro, que negou Jesus, Ellen White afirma: “Tinham estado com Ele, mas não O conheceram nem apreciaram. Como, no entanto, tudo isso lhes comovia agora o coração, ao reconhecerem a própria incredulidade!” [6] Três anos com Jesus e os discípulos se esqueceram da mensagem de que o Mestre ressuscitaria!

Uma coisa é ter dúvidas que sejam fruto de nossa incapacidade de entender determinado fato ou explicação. Outra coisa, bem diferente, é continuar duvidando quando as respostas estão bem à nossa frente! “Para Tomé, exigir mais evidências, àquela altura, era duplamente desnecessário. Ele não somente tinha ouvido as palavras de Cristo, como também ouvira as narrativas de seus colegas discípulos, que haviam sido testemunhas oculares delas. Ainda assim, ele se recusou a crer.” [7]

A descrença pode ainda ir mais além do que aconteceu com Tomé. Veja o exemplo do professor de hebraico Ernest Renan. Esse erudito duvidava que a Bíblia pudesse ser considerada uma narrativa histórica. Em sua velhice, mesmo com os avanços da arqueologia, Renan continuou a descrer da Bíblia, ignorando todas as evidências que contrariavam seus primeiros estudos. [8] Alguns não creem não por escassez de evidências, mas por excesso de orgulho! Stephen Hawking, o cientista que perdeu U$ 100,00, também fez outra aposta fracassada: em seu último livro, The Grand Design, ele afirma que não precisamos de Deus para explicar a vida no universo. Esse é outro exemplo de como as evidências são ignoradas por um coração que não quer se render ao Criador.

E o que aconteceu com o vacilante Tomé? Apesar de sua fraqueza, o paciente amigo Jesus tratou-o com amor forte suficiente para ele se sentir acolhido e disposto a entrega sem reservas. Deus não é intolerante com aqueles que duvidam. Ele age para alcançá-los. [9]

Você tem dúvidas? Ótimo! Deus tem mais do que boas respostas: Ele oferece Seu companheirismo. Há muitas coisas que você não entenderá completamente. Para outras, você terá farta evidência ao longo da jornada. Com base naquilo que podemos assimilar por meio de nossa mente limitada, devemos decidir confiar no Salvador e declarar como Tomé: “Senhor meu e Deus meu!” (Jo 20:28, NVI).

[1] "Bóson de Higgs me custou 100 dólares", diz Hawking, disponível em http://exame.abril.com.br/tecnologia/ciencia/noticias/boson-de-higgs-me-custou-100-dolares-diz-hawking .
[2] Michel de Pracontal, A Impostura Intelectual em Dez Lições (Trad.: Álvaro Lorencini; São Paulo, SP: Unesp, 2004), p.175-183.
[3] J.P. Moreland and Klaus Issler, In search of confident faith: overcoming barriers to trusting in God (Downers Grove, IlI; InterVarsity Press, 2008), p. 27.
[4] Os Guinness, Encontrando Deus em meio à dúvida: a segurança da fé para além das questões mais difíceis da vida (Brasília, DF: Palavra, 2011), p. 26.
[5] Ellen White, O Desejado de Todas as Nações, p. 296.
[6]  Idem, p. 508.
[7] Os Guinness, idem, p. 89.
[8] Rodrigo P. Silva, “A história de Nabucodonosor: análise p[a]leográfica e interpretativa de uma inscrição neobabilônica”, Acta Científica, vol. 2, no 3, 2o semestre de 2002, p. 40.
[9] Ellen White, idem, p. 808.

terça-feira, 24 de julho de 2012

FANTÁSTICO RETORNO

O poema abaixo, escrito há onze anos (conserva no rodapé a data de 24 de Janeiro de 2001), foi encontrado casualmente ainda no rascunho. Não possui a maturidade de alguns poemas do ano posterior (talvez a minha melhor época em termos de composição de sonetos), mas tem algum valor. Que o leitor julgue.


Mares de comoção vinham do olhar,
Emocionado olhar dos seguidores,
Perante os quais subiam em vapores
Os pés do Salvador para o Seu lar.

Sentem que Ele está a lhes deixar,
Quando plumas de luz, cheias de cores,
Olham os rostos destes sofredores...
E os anjos iniciam seu falar.

Os homens galileus volvem a mente:
Assombrados, escutam que Jesus,
Assunto ao Céu, sereno como a luz

Perante o seu olhar entristecido,
Voltará em luz também, tendo vencido
A guerra contra o mal completamente!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

A MISERICÓRDIA - O ALVO


Tua misericórdia é o alvo que persigo,
Porque por meio dela atinjo a vida plena.
Cada plano que traço um pouco da alma drena,
E me indago o quanto para o Céu resta comigo.

Olha para mim na hora em que sinto o perigo
Domar a vigilância; a urgência algoz condena
A me esquecer de Ti. Com voz paterna acena
Para eu me lembrar que és ainda o eterno amigo.

Decido obedecer Teus mandamentos todos,
E se faltar empenho à decisão, que a graça
À fraqueza e maligna inclinação desfaça.

Sê gracioso e conceda a força contra engodos:
É tão fácil viver seguindo o coração,
Mas quão difícil é deixar a rebelião!

terça-feira, 17 de julho de 2012

EVOLUÇÃO: ÚTIL, SIM, VERDADEIRA, NÃO!


“Se todas as ideias são produtos da evolução, e, portanto, não são verdadeiras, mas apenas úteis para a sobrevivência, então a própria evolução não é verdadeira também – e por que o restante de nós deveria dar atenção a ela? [...] Pois se a evolução é verdadeira, então ela não é verdadeira, mas útil."
Nancy pearcey, "How Darwinism Dumbs us down: evolution and postmodernism", in William Dembinski, Evidence for God: 50 Arguments for Faith from the Bible, History, Philosophy, and Science (co-edited with Michael Licona). Grand Rapids, Mich.: Baker, 2010, p. 84

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A IMPORTÂNCIA DAS DOUTRINAS NA VIDA DEVOCIONAL


Há um falso dilema que insiste em assolar a vida prática dos seguidores de Cristo. Trata-se da ideia segundo a qual devemos ler as Escrituras somente de forma devocional. Argumenta-se sobre o familiarizar-se com a pessoa de Jesus, indo à Bíblia não em busca de confirmações doutrinárias ou mesmo de estudo cuidadoso. Bastaria conhecer o que a Bíblia diz acerca de Jesus. É comum ouvir que ler o texto santo dessa perspectiva seja o equivalente ou até o sinônimo de devoção pessoal.
Apesar da ampla aceitação do conceito, algumas perguntas requerem atenção. A abordagem não estaria pressupondo uma dicotomia entre Jesus e Sua doutrina? Se for o caso, a dicotomia pode ser suportada por evidências bíblica? Fazer as pessoas escolherem entre Jesus ou Sua doutrina não constituiria contradição insuperável, tendo em vista que o próprio Jesus afirmou que o reconhecimento de Sua condição messiânica dependia de análise de Sua doutrina? Além do mais, tudo o que se conhece a respeito de Jesus – Seu nascimento virginal, vida vitoriosa sobre a tentação, as profecias vétero-testamentárias cumpridas por Ele, Seu sacrifício redentivo, entre outros – não faz parte do corpo de doutrinas bíblicas? Portanto, Jesus separado das doutrinas nem poderia ser compreendido da forma como os cristãos o fazem; antes, seria mera figura simbólica, cuja identidade permaneceria no campo da especulação.
Talvez a ênfase no Jesus contraposto às doutrinas tenha raiz em, ao menos, dois fatores, um relacionado à mentalidade da própria igreja e outro atrelado ao contexto cultural, o qual acaba exercendo influência sobre os cristãos.
No que tange à mentalidade cristã, existe uma reação ao legalismo que marcou a tradição protestante no século XVIII e deixou resquícios entre as denominações que diretamente descenderam da Reforma. A racionalidade dos primeiros reformadores desembocou em uma religião formal para, cerca de um século depois, ceder espaço à esterilidade proporcionada pelo Racionalismo cristão do pós-iluminismo. Em reação a esse perfil de religiosidade vazia, tivemos o momento pietista, que tentava retomar a simplicidade da fé cristã, mas que, infelizmente, caminhou para outro extremo.
No século XX, ao passo que o cristianismo tradicional se viu em guerra contra ideologias ateístas (marxismo, darwinismo e existencialismo, para mencionarmos algumas), além de viver em constante conflito com o liberalismo teológico, testemunhamos a ascensão de uma espiritualidade cristã carregada de espontaneidade, anti-intelectuaista e comprometido com uma agenda sócio-política bem definida.
Na teologia, a experiência da salvação pessoal ocupou o primeiro plano. Toda uma subcultura cristã, alimentada sobretudo por hinos e pregações, se erigiu em torno da salvação, obliterando outras doutrinas do cristianismo. Não à toa, certo segmento do evangelicalismo é conhecido como os "nascidos de novo".
Parece que a ênfase em uma compreensão reducionista do processo de salvação Se constituiu um dos fatores que explicam o antinomismo da pregação evangélica contemporânea. Sob influxo do existencialismo cristão de kierkegaard, o evangelicalismo do pós-guerra apresentou a mensagem bíblica como se fosse constituída de um relacionamento com o Outro, sem necessidade de buscar qualquer base para esse relacionamento, ou sem a intermediação das Escrituras. A Bíblia até poderia ser o ponto inicial para se relacionar com Deus, mas não a mensagem segura, a revelação substancial de Sua mensagem.
Nessa nova configuração, as doutrinas perderam sua relevância dentro da espiritualidade cristã. A efervescência provocada por cultos espetaculares, nos quais o emocionalismo é o alvo pretendido, dispensa o estudo objetivo da Palavra. A mensagem dos púlpitos se encontra atrelada a tendências, necessidades familiares ou demandas motivacionais, ganhando um sentido místico, por vezes até perdendo características propriamente cristãs.
Se o entendimento parcial da salvação solapou a ênfase doutrinária, não se pode ignorar a influência do pensamento pós-moderno para a polarização entre Jesus e Suas doutrinas.
Como reação à Modernidade, e seu espírito de ordem, a pós-modernidade se opõe a toda hierarquização de ideologias segundo sua racionalidade. A espiritualidade passa a contar com maior espontaneidade, ao mesmo tempo em que o sincretismo flui com naturalidade e frequência.
Posturas rígidas e dogmáticas não são mais vistas como necessárias para alcançar um ideal pré-estabelecido, o qual seja fixo. Não existem coisas como alvos inamovíveis ou verdades universais que os justifiquem. Tudo agora são descobertas experimentais que dão sentido a uma busca que ninguém pode dizer com exatidão para onde conduzirá. Se no passado erros doutrinários eram evitados, hoje eles são fundamentais no processo de aprendizagem. E, é claro, todo erro é apenas questão de perspectiva ou mesmo propicia descobertas que levem à mudança de perspectiva.
Um cristianismo sob influência pós-moderna substitui as doutrinas típicas por valores relevantes à época, tais quais tolerância, amor, justiça, luta contra o preconceito, etc. Esses próprios valores são redefinidos, por sua vez, tornando-se impossível fazer um paralelo perfeito com a doutrina cristã, a qual acaba sendo, também por essa razão, encarada de maneira tão negativa, quando não confundida com premissas pós-modernas. Dentro desse quadro, estaria o cristianismo fadado a perder sua identidade peculiar?
Levantamos a princípio a questão do entendimento sobre a vida devocional. O problema com o dito "Jesus do coração" é que ele tem pouco efeito sobre a mente. Uma vida devocional apaixonada não pode significar meramente uma leitura superficial das Escrituras, que desconsidere contextos e implicações mais amplos sob pretexto de se aproximar da pessoa de Cristo. O Senhor Jesus recapitulou o sentido dos primeiros mandamentos do decálogo ao afirmar que devemos amar o senhor de toda a nossa alma, com todo o nosso entendimento, com todas as forças e com todo o coração. Nosso amor a Deus não será completo se omitir alguma área significativa da vida.
A opção "Jesus ou as doutrinas" deve ser preterida por um modelo mais amplo, o qual inclua Jesus com a doutrina. Seguindo esse raciocínio, teríamos, ao menos, três alternativas.
A primeira seria centralizar a devoção nas doutrinas e por meio delas tentar caminhar até Cristo. As doutrinas serviriam como via de acesso ao Salvador. Um dos problemas com tal proposta é que ao destacar dessa maneira a doutrina corre-se o risco de torná-la um fim em si mesma. A porta estaria aberta para o legalismo e a esterilidade espiritual. Na época do primeiro advento, as pessoas mais apaixonadas pelas doutrinas resolveram crucificar o Messias!
Uma segunda alternativa seria apresentar alterada e colaborativamente Jesus e a doutrina. A ênfase seria dupla, sendo que nem o Mestre, nem sua mensagem deixariam de receber endosso. A dificuldade com essa abordagem se acha na má compreensão que ela originaria. Ao apresentar Jesus e Sua doutrina lado a lado, não se correria o risco de sugerir que ambos possuam igual importância? Talvez isso pudesse levar futuramente à compreensão de que as doutrinas sejam salvíficas, de modo bastante similar ao conceito católico de sacramento.
Finalmente, o terceiro modelo consiste em um relacionamento dinâmico entre Cristo e Sua doutrina, estabelecendo o Salvador no centro dessa relação. Jesus seria mais do que o centro – nele, teríamos o próprio ápex, o ponto para o qual todas as doutrinas convergem. Logo, a mensagem bíblica não seria um adorno fútil, porém parte da revelação que Deus fez de Si mesmo, a qual alcançou seu ápice em Jesus.
Ao que parece, embora admita a dificuldade para confirmá-lo empiricamente, os adventista se sedimentaram após o grande desapontamento porque sua forma de estudo da Bíblia coincidia com a terceira proposta apresentada acima. Ao se darem conta de que Jesus não voltara à Terra em outubro de 1844, os pioneiros do movimento volveram-se à Palavra de Deus procurando compreender as profecias concernentes ao retorno de Jesus, a quem amavam e por quem haviam abandonado tudo.
O processo que fomentou a identidade do movimento perdurou por algumas décadas, nas quais a mesma avidez por se interar das verdades bíblicas conduzia os adventistas a estudá-la aplicadamente. Não havia concorrência ou conflito entre Cristo e Sua doutrina. Toda descoberta ajudava a erigir não apenas um sistema doutrinário, mas resgatava aspectos essenciais da obra de Cristo no santuário, lançando luz sobre sua pessoa. Quanto melhor compreendiam a doutrina, mais amavam Jesus e ansiavam por vê-Lo.
Após os anos iniciais, o adventismo também enfrentou um período de legalismo, no qual a postura polêmica (em vista das controvérsias com outros cristãos) tornava o estudo e apresentação de doutrinas caracteristicamente adventistas um exercício racional, ignorando como cada doutrina contribuía para aproximar de Jesus. Atualmente, muitos adventistas têm vivido sob o paradigma da leitura devocional da Bíblia, entendido como um encontro místico com Jesus e uma aplicação direta do texto na vida do leitor, comumente ignorando os detalhes históricos e sem preocupação em manter uma hermenêutica sólida (em geral, o método alegórico parece ser o preferido pelas pessoas, ainda que inconscientemente).
Enquanto persistir essa abordagem popular e pouca cuidadosa de ler a Bíblia, menos se poderá conhecer objetivamente o plano de Deus, conforme Ele o revelou. E quem poderá calcular o impacto disso a longo prazo sobre a identidade adventista em tantos indivíduos da nova geração da igreja?


sábado, 7 de julho de 2012

SUPORTAR

Alguns poderiam dizer de um casal em crise que os cônjuges “não se amam, mas se suportam”. Suportar indica uma atitude próxima a uma tolerância azeda, aguentar uma situação ou pessoa, ainda que isso traga aborrecimento, chateação ou desgaste. Obviamente, quando a Bíblia afirma que devemos nos suportar uns aos outros não é nesse sentido.
O suportar-se bíblico indica apoiar, dar suporte, suster, amparar, ajudar nas fraquezas, estar ao lado na dificuldade, prover motivação, caminhar juntos, como membros do mesmo corpo, mantendo a consideração e estimas próprias de um coração generoso (porque regenerado). Precisamos de mais casais que se suportem, assim como de igrejas que se suportem.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

LIÇÃO PARA MESTRES E ALUNOS


"Estejam os professores e os alunos atentos às oportunidades de confessar a Cristo em sua conversação. Tal testemunho será mais eficaz que muitos sermões. Poucos há que representem realmente a Cristo. Necessário é que Ele seja formado no interior, a esperança da glória; então será reconhecido como o doador de toda boa dádiva e todo dom perfeito, autor de todas as nossas bênçãos, Aquele em quem se concentra nossa esperança de vida eterna."

Ellen White, Conselhos aos pais, professores e estudantes, p. 554.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

REVISTA PROCLAMAI ENTREVISTA COAUTOR DE ESTUDO BÍBLICO UNIVERSITÁRIO



DAVI VENCE GOLIAS NA LIBERTADORES


Aos olhos do grande público, outro Davi e Golias. De um lado do gramado, o inexperiente, mas impetuoso Corinthians, time das massas, conhecido pela torcida volumosa. Do outro, o vitorioso Boca Juniors, o personal pesadelo dos times brasileiros em Libertadores. Pareceria certa a vitória da equipe argentina.
Entretanto, o time do Corinthians, a despeito de toda vibração contrária, principalmente vinda dos torcedores de outras equipes paulistas, reescreveu a história, para alegria da mídia brasileira, que, em busca de audiência, incensava o clube alvi-negro. Assim, os humoristas terão de procurar outro time sem título na Libertadores para usar como mote em piadas. Após 102 anos de clube, o clube paulista decidiu. Dizem as más bocas que outro título somente daqui a mais um século. Por enquanto, o Corinthians calou o Boca e todas as bocas.
Nas duas partidas contra o catimbento Boca, surpresas: um empate em plena Bobonera, o famigerado estádio do campeão argentino, em 1 a 1. Mais surpreendente ainda foi vencer de 2 a 0, em atuação de gala de Emerson. O jogador, goleador do Timão, foi decisivo para a conquista inédita. Sua frieza e oportunismo, suas arrancadas e sua birra foram a pura expressão de um time que, se não se tornou conhecido pela técnica, tornou-se aclamado pela garra. Como o Davi bíblico, Emerson possuía poucas pedras nas mãos, e conseguiu usá-las para subverter o gigante argentino em temnpo.
Para desespero de Riquelme e companhia, que dominaram o cenário da competição sul-americana em toda a década passada, o time brasileiro conseguiu dominar o nervosismo dos minutos iniciais, quando o Boca nem se importava de estar jogando na casa do adversário. Uma vez com os ânimos assentados, os corintianos passaram a fazer o que melhor fizeram na competição: marcar e esperar pela oportunidade certa. E, é claro, contar com Leandro Castán e Emerson para conjugar os dois verbos.
Mesmo para aqueles que torciam contra a vitória corintiana (entre os quais me incluo!), resta admitir que a conquista merecida do time ensina que, no futebol (como na vida) alguns tabus não têm data de validade; entretanto, persistirão somente esperando que a competência os derrube. Afinal, tabus não são imunes à labuta, à força bruta de quem corre e quer chegar. Mesmo que demore 102 anos.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

MISSÃO É PARA JOVENS!

“A adolescência é um experimento social que falhou” – é o que afirma o doutor Robert Epstein em seu livro “Teen 2.0”. Para ele, a adolescência é uma invenção social e representa um período inútil de banalidades que quebra a continuidade natural entre a infância e a idade adulta.
Essa visão pessimista é confirmada quando vemos multiplicarem-se os casos de jovens bebendo, fumando, dirigindo, fazendo sexo, cometendo crimes, matando, e raramente demonstrando um comportamento responsável.
Nós herdamos boa parte de nossos conceitos de adolescência do psicólogo G. Stanley Hall e seu livro de 1883, “The Contents of Children's Minds”. Ele criou o estereótipo do jovem rebelde, violento e irresponsável que perdura até hoje. E isso virou um ciclo: a sociedade os define assim e eles começam a agir de acordo com tal definição. O comportamento da juventude reflete a baixa expectativa da sociedade em torno deles. Se eles são tratados como bebês consumidores improdutivos, é assim que vão se comportar.
Realmente, eles não são maduros. Mas a maioria deles não está vivendo o seu verdadeiro potencial. Nós os subestimamos, e eles se conformam com isso. O modo como nós olhamos os adolescentes é equivocado, moldado mais por uma cultura pecaminosa que por uma visão bíblica.
Deus não tem uma visão tão pessimista dos jovens. A Bíblia e a história do cristianismo mostram que o Senhor usou e quer usá-los: “Há necessidade de jovens. Deus os chama aos campos missionários.” (Conselhos aos professores, pais e estudantes, 517) “Centenas de jovens se deviam ter preparado para desempenhar um papel na obra de espalhar a semente da verdade junto a todas as águas." (Conselhos aos professores, pais e estudantes, 515). E o preparo deve ser rápido, pois “há uma grande obra a ser feita no mundo, uma grande obra a ser feita nos campos estrangeiros. Têm de ser estabelecidas escolas para que a juventude, as crianças e os de idade madura, possam ser educados o mais rápido possível para entrar nos campos missionários” (A Igreja Remanescente, p. 39).
Mais que um público a ser entretido, os adolescentes e jovens são um exército a ser treinado e enviado para a batalha. Mas a batalha é real e séria, não uma “brincadeira espiritualizada”. Os jovens devem receber missões que exijam o máximo deles. Dar-lhes tarefas leves é exatamente o oposto do que orienta a revelação divina. Eles são “mais aptos a suportar incômodos e fadigas"(Conselhos aos professores, pais e estudantes, 517) e "deviam ser pioneiros em todo empreendimento que exigisse fadiga e sacrifício, ao passo que os sobrecarregados servos de Cristo deviam ser prezados como conselheiros, para animar e abençoar os que têm de desferir os mais pesados golpes em favor de Deus."(Conselhos aos professores, pais e estudantes, 517).
O discurso politicamente correto que deu origem a uma geração de adolescentes inúteis à sociedade, superprotegidos e isentos de responsabilidades não deve encontrar espaço na Igreja Adventista. Aqueles que hoje deveriam estar "desferindo os mais pesados golpes em favor de Deus" não podem ser cristãos raquíticos, indolentes, anões espirituais.
Devemos prepará-los e confiar-lhes “sérias responsabilidades” (Conselhos aos professores, pais e estudantes, 516). Segundo Ellen White, “Deus designou que eles fossem preparados em nossos colégios e mediante a associação no trabalho com homens experientes, de maneira que se achem preparados a ocupar lugares de utilidade nesta causa. Cumpre-nos mostrar confiança em nossos jovens." (Conselhos aos professores, pais e estudantes, 516).
A juventude precisa superar essa névoa pessimista que envolve essa fase da vida. Como reformadores, não podemos aceitar passivamente que a sociedade defina nossos conceitos e valores. Ser missionário deve voltar a ser o sonho de nossas crianças, sonho que pode ser realizado já na juventude. “Ninguém despreze a tua mocidade” (1 Tm 4:12a).
Isaac Malheiros Meira Junior – Pastor do IAESC