sexta-feira, 28 de junho de 2013

III SIMPÓSIO UNIVERSITÁRIO NO IAP


Nos dias 9 e 10 de Agosto, o Instituto Adventista Paranaense realizará seu terceiro simpósio universitário. O tema escolhido nesse ano foi "Criacionismo no século XXI: perspectivas para uma práxis científica compatível com a cosmovisão bíblica". Alguns dos maiores estudiosos brasileiros ligados ao criacionismo estarão presentes.

Os interessados deverão se escrever por meio do site do IAP (clique aqui). As taxas informadas no site dizem respeito à inscrição. Para aqueles que quiserem saber maiores informações sobre hospedagem e refeições nos dias do simpósio, devem se informar ligando para (44) 3236-8000. Atenção: as vagas são limitadas! Aconselha-se que as inscrições sejam feitas com o máximo de antecedência.

A seguir, um vídeo com a chamada para o simpósio.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A FÉ CRISTÃ ENTRE OUTRAS FÉS


Eu não imagina que meu comentário despertaria aquela reação. O pai da menina estava visivelmente exasperado. Enquanto eu o ouvia, ele gesticulava, bastante ofendido. Seu volume de voz era alto, o que me incomodava bastante. Principalmente por estarmos em um lugar público – a sala dos professores. Tudo porque, durante uma aula para o oitava ano, resolvi dar um exemplo concreto. Casualmente, falávamos sobre gnosticismo, uma heresia cristã do segundo século. Para explicar o dualismo gnóstico entre alma e corpo, citei uma música popular: “Estou fazendo amor/ com outra pessoa/ mas o que o corpo faz/ a alma perdoa.”

Isso foi suficiente para aquele homem vir à escola e reclamar comigo. Para ele, o exemplo não correspondia à sua crença. Ele era gnóstico, e não adiantava argumentar que o gnosticismo que ele seguia provavelmente não era exatamente igual ao do período pós-apostólico. Ele estava indignado por crer que representei mal sua crença (ou então, ele tinha algo contra Alexandre Pires!).

Mundo plural

Eu também passei por conflitos religiosos na escola. Nasci em um lar cristão, mas comecei a estudar a Bíblia e seguir outra denominação durante a adolescência. No Ensino Médio, os professores de áreas exatas adotavam o evolucionismo como modelo teórico. Em geral, tentavam separar as coisas. Uma jovem corpulenta e falante que lecionava Biologia, usou um tom conciliador na primeira aula: “Vamos separar o que diz a religião do que diz a ciência.”

O mundo em que vivemos é bastante plural. Isso implica na valorização da diversidade. A diversidade é notada em modelos familiares diferentes. Minha esposa possui uma amiga de infância que mora com sua namorada, por exemplo. A diversidade aparece no estilo de vida das pessoas. As chamadas tribos urbanas seguem tendências de comportamento peculiares, além de se vestirem fora do padrão social geralmente aceito.

A diversidade possui muitas vantagens. Seus aspectos positivos são bastante valorizados pela mídia. Porém, há um risco muito forte: acharmos que todas as escolhas possuam o mesmo valor. Anorexia, por exemplo, não é apenas “questão de escolha”. Embora seja a tendência dizer que “cada um faz com o corpo o que quiser”, é óbvio que se trata de uma doença altamente destrutiva. A pessoa anoréxica precisa contar com o auxílio de amigos e familiares para reconhecer sua condição e buscar tratamento. Outro exemplo: não teria cabimento afirmar que a pedofilia é somente uma “opção sexual”!

Administrar conflitos religiosos

No que diz respeito à diversidade religiosa, temos de refletir sobre as consequências dos diversos modelos existentes. Uma coisa é conviver com opções diferentes e respeitar as escolhas alheias – o que é dever de todos. Outra, bem diferente, é afirmar que, em matéria de fé, tanto faz.

Em geral, os conflitos religiosos surgem da falta de comunicação entre pessoas com crenças diferentes. Uma opção é o diálogo religioso aberto. Desde seus primórdios, o cristianismo manteve dinâmico equilíbrio entre a defesa do direito de crer individual e o proselitismo (transmitir sua fé aos outros pela persuasão). Assim, cada diálogo religioso é uma oportunidade para o cristão testemunhar, ao mesmo tempo em que conhece em que os outros creem. Saber sobre a crença dos outros pode ser um ponto de partida para a evangelização praticada com respeito. E respeito é fundamental.  

sexta-feira, 14 de junho de 2013

FAZ DIFERENÇA SER RELIGIOSO?



Ramona[1] senta-se na cadeira, em frente à minha mesa. Antes de abrirmos a Bíblia, ela fala sobre seus dezesseis anos loucamente vividos. Seus amores perdidos, seus complexos, a conturbada relação com o pai – tudo passa diante de mim num atropelo eloquente e doloroso. Mas ela precisa contar para descarregar o peso de tantas dúvidas e cicatrizes.

Estudar a Bíblia com Ramona, uma adolescente inteligente e sem qualquer cultura religiosa, é sempre desafiador, porque ela faz perguntas que parecem inocentes, porém demandam reflexão cuidadosa – embora em geral, sua atenção se fixe de um ponto a outro com velocidade tal que, na metade da resposta, ela já tem outra pergunta. Uma das preocupações de Ramona: qual a diferença de se crer ou não em Deus? Por que temos de ter fé?

A fé sobrevive?

Se pretendemos falar sobre crença, esse é um bom ponto de partida: para que serve uma fé?

O papel diminuído da religião deve ser bem entendido. Por um lado, há a perda de sentido religioso, fruto da modernidade. A confiança na estrutura social, dentro de uma mentalidade capitalista e no contexto do racionalismo, leva à visão de que Deus seja um conceito desnecessário, fantasioso e até nocivo.

Vários países são estados laicos declarados. Até mesmo pessoas religiosas temem a imposição religiosa. Logo, o medo “de imposição de visões religiosas frequentemente evoca medidas por uma supressão de vozes religiosas da praça pública.”[2]

O outro lado da moeda da perda de sentido religioso chama-se pós-modernidade. No pensamento pós-moderno, as religiões se equivalem. As crenças são despidas de seu formalismo e da ligação com instituições tradicionais. Cada comunidade pode selecionar aspectos religiosos de diversas crenças e reorganizá-los para expressar uma crença própria. Nesse jogo, vale tudo, até reformular indefinidamente as próprias crenças.

O experimentalismo pós-moderno reaproxima as crenças, enfatizando aspectos comuns de forma mais superficial. Vivemos em “zonas de fronteiras”, onde não há limites, mas tudo se mistura; “linhas [divisórias] são traçadas sobre a areia movediça apenas para se apagar e ser traçadas no dia seguinte.”[3]

Apesar de tudo o que dissemos, cada vez mais pessoas creem em Deus ou assumem uma religião. Por quê?

Motivos para ser religioso

Há um paradoxo entre a perda de sentido religioso e um sensível aumento de toda sorte de crentes. Talvez isso se explique pelo entendimento geral da religião. As pessoas são religiosas, contudo as crenças são relegadas a uma subcategoria, abaixo de questões mais práticas do dia a dia. Deus não faz parte do processo decisório de muitos que alegam crer nEle. Urge que retomemos a questão formulada no início: para que serve uma religião?

Há muitas respostas, mas quero propor dois pontos:

(1) A religião ideal provê o fundamento metafísico, o qual confere um senso de origem e propósito. Céticos tentam estabelecer a possibilidade do próprio homem criar seu destino, sem que uma divindade o referencie. Eles opinam que o homem se tornaria um fantoche nas mãos da divindade, perdendo sua liberdade. Vale mencionar que a visão racionalista não conseguiu produzir um substituto à altura da cosmogonia religiosa. O pensamento secular é insuficiente para equilibrar a tensão entre interesses pessoais e coletivos, ainda mais tendo em vista a perda do senso de propósito maior, fundamento da ética, em todos os âmbitos.

(2) Uma religião provê a necessidade de conhecer e se relacionar com a divindade. O cristianismo, em especial, é uma religião de revelação, apresentando um Deus que Se interessa tanto pela humanidade que criou a ponto de tomar a iniciativa. Sim, Ele não esperou que tentássemos conhece-Lo (até porque nossa razão tem seus limites); Deus veio mostrar quem é, para todos desfrutarmos de Sua presença. Inclusive eu, Ramona e você.



[1] Para preservar a identidade, o nome foi trocado.

[2] Miroslav Volf, A public Faith, A public Faith: how followers of Christ should serve the common good (Grand Rapids, MI: Brazos Press, 2011), p. X.

[3] Zygmunt Bauman, Ensaio sobre o conceito de cultura (trad.: Carlos Alberto Medeiros; Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 2012), p. 75-ss.