sexta-feira, 21 de março de 2014

A VERDADE AZUL EM MEIO À AQUARELA SECULAR


A Verdade é azul. Não o é de fato, contudo, para efeito de exemplo, vamos dizer que o seja. Isso significa que tudo o que for preto ou cinza ou vermelho difere da verdade. Como agir com quem ama, defende e acredita nas demais cores, tanto (ou mais) quanto amamos, defendemos e acreditamos no azul? Vamos respeitá-los com a mais alta consideração. Ao nos aproximarmos de tais pessoas, ouviremos com atenção, e, munidos de intenções calorosas, mostraremos amizade e amor em gestos desinteressados. Oraremos por elas e, se possível, com elas. Aproveitaremos as oportunidades para usar de persuasão educada e lúcida. Exploraremos os melhores argumentos em prol do azul, com lógica e sensibilidade, sem ofender ou agredir.
Pelo fato de a Verdade ser azul, isso nos fará mais cautelosos. Há muitos tons de azul. Talvez a perspectiva cultural, personalidade e experiência nos façam acreditar que o azul claro seja mais distinto do que os demais tons. E o azul claro nos fará bem durante anos. Entretanto, disso pode nascer uma confusão, quase inocente, mas perigosa: confundir o azul revelado com o azul de nossa preferência. Se forçarmos os demais crentes no azul a crer em um azul particular, aquele que nos agrada, isso será despótico e pretensioso. Deus não nos pediu que promovêssemos divisões entre azuis, ignorando o parecer e interpretação dos outros. Afinal, há espaço para todo tipo de azul.
Sempre haverá pontos cuja tonalidade não poderemos distinguir com clareza – mesmo que continuem sendo todos azuis. Nisso reside o exercício de humildade, afeição pelo próximo e disposição de dar ao outro a mesma liberdade que nos apraz usufruir. Os azuis não precisam aceitar o mesmo tom para se reconhecerem como irmãos e seguirem com objetivos comuns.
Uma outra realidade: é provável que surjam elementos híbridos, como verde (azul acrescido de amarelo) ou roxo (azul miscigenado com vermelho). É igualmente possível que surja um laranja (cor complementar do azul). Por quê? Alguns alegaram que se requer adaptação à contemporaneidade; ou que o azul de antes seja o roxo de hoje; que a intenção seja mais relevante do que a cor propriamente. Entretanto, com a máxima consideração pelas opiniões divergentes, aqueles que desejam obedecer a Deus permanecerão com o azul.
De fato, não importa que em outro país as pessoas tenham se acostumado ao verde, misturando doses de amarelo com o passar do tempo. Tampouco fará diferença que algum líder proeminente seja visto defendendo o roxo. Deus dirige um povo e, simultaneamente, cada um dará conta de si. O ensino do azul continuará sendo sustentado sob toda pressão cultural de um mundo que não encara com bons olhos a intransigência e inflexibilidade de princípios. Porém, nós, azuis, sabemos qual a fonte de nossa crença.
Às vezes, é fácil justificar racionalmente a escolha pelo azul, explorando dados da ciência ou apelando à experiência ordinária. Nem sempre se dá assim. Ser azul é desafiar paradigmas e se ver contra a maré. É suportar a impopularidade. Surgirão situações em que não fará sentido crer no azul. Não haverá estudos que comprovem a supremacia da nossa cor; ela parecerá estranha à cultura ou desagradável aos costumes populares. O que fazer? Se Deus disse, isso tem de servir para sustentar a nossa confiança. Sobre Ele repousa toda certeza e Sua Palavra suplanta a experiência humana. Em um mundo de tantas cores, falta reconhecer a cor necessária. Aqueles que a têm, precisam comunica-la com sinceridade e comprometimento. Sem medo de ser diferentes ou parecer arrogantes.
A fome da verdade azul tem tornado tudo mais sombrio e pálido. Façamos nossa parte.

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terça-feira, 18 de março de 2014

O DEVER DE REPREENDER OS CRISTÃOS EQUIVOCADOS



Não consideramos que nossos perigos não são nada inferiores aos dos hebreus, antes maiores. Haverá tentações para ciúmes e murmurações, e haverá franca rebelião, tais como se acham registrados acerca do antigo Israel. Sempre haverá o espírito de insurgir-se contra a reprovação de pecados e ofensas. Silenciará, porém, a voz da repreensão por causa disto? Se assim for, não nos encontramos em melhores condições do que as várias denominações de nossa terra, as quais temem tocar nos erros e nos pecados dominantes entre o povo.

Aqueles que Deus separou como pregadores da justiça têm sobre si solenes responsabilidades quanto a reprovar os pecados do povo.

Ellen G. White, Testemunhos Seletos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), vol. 1, 358.


domingo, 9 de março de 2014

ADVENTISTAS: O POVO DA DESCONSTRUÇÃO


Converse com dez adventistas. Pergunte-lhes se veem coisas erradas na igreja – dirão que sim, os dez, sem dúvida! Pergunte-lhes o que está errado. O problema começa aí. As respostas não seriam concordes. Muitas, seriam quase banais, relacionadas a questões locais, congregacionais. Temas como relacionamentos, incoerência, críticas a líderes, etc. Outras assumiriam uma dimensão mais ampla, afetando erros administrativos, estratégicos ou deficiências espirituais. O que há por trás de tudo isso?
Duas igrejas. Uma jovem, com pouco entendimento da história da igreja, querendo mudanças e imbuída do espírito deste tempo. Esta parcela de adventistas é formada por indivíduos cansados de crítica, sequiosos por mais ação. Acham que falta amor, justiça social e cultos mais dinâmicos. Querem uma igreja com a cara deles: jovem e descolada. Se pudessem, rapariam a barba de James White e fariam John Andrews usar penteado moicano.
A outra igreja, que está morrendo, abomina as mudanças. Refere-se aos “bons e velhos tempos”, quando a igreja “era outra”. Detestam as músicas barulhentas e a falta de sermões doutrinários. Reclamam dos rumos que o movimento adventista está tomando e chegam, em alguns casos, a falar de apostasia. Tenho a impressão que essa segunda parcela de adventistas se vê sem rumo, com pouco apoio e confusa diante de tudo que vê acontecer.
Quem está certo nessa discussão? Todos. Ninguém.
As mudanças devem acontecer. Os adventistas surgiram com uma proposta de mudança radical. Uma mudança que se inicia com a interpretação da Bíblia (hermenêutica), atinge as doutrinas comuns à cristandade e chega a uma abordagem diferenciada sobre estilo de vida. Contudo, engana-se quem creia que a ênfase esteja na mudança pela mudança. A mudança visa a um objetivo – desconstruir a tradição evangélica. Não se trata de uma desconstrução derridiana, porque me parece que Derrida propunha uma desconstrução visceral e nunca finalizada, uma mutação que se perde em um jogo de interpretação, sem a possibilidade de alcançar uma verdade palpável. A desconstrução adventista é do tipo que retira o entulho para reconstruir sobre o alicerce correto, os escritos inspirados.
Alguns querem mudar para acompanhar as tendências da cultura. Péssimo motivo. A cultura não é parâmetro para o cristão. A Verdade que recebemos na Bíblia tem aspectos tremendamente contra-culturais! Nesse caso, vale o dito segundo o qual “não se pode servir a dois senhores” – ou Deus, ou a cultura. As mudanças são mecanismos para nos aproximar da Palavra de Deus, cujo estudo deve ser renovado pela atuação do Espírito Santo.
Muitas das explicações doutrinárias que dávamos há trinta anos devem ser abandonadas, não porque a cultura mudou, mas porque estavam equivocadas e há explicações melhores do ponto de vista exegético. O avanço na pesquisa bíblica proporciona uma melhor fundamentação doutrinária – mas é impossível notar isso ouvindo (pela milésima vez) o mesmo sermão sobre o cego Bartimeu!
E para quê mudar a liturgia? Se for possível elencar boas razões bíblicas, eu apoio! Se for apenas para copiar o modelo de outras denominações ou congregações, isso é mera distração, quando não, algo nocivo, vindo da cultura secular. Já notou como se gasta tempo discutindo música, quando o Novo Testamento dá pouco espaço ao tema e Ellen G. White enfatiza o canto congregacional em sua simplicidade? Estudar a Bíblia, o ponto essencial do culto cristão, parece um caso perdido; deixe que o pregador leia alguns versos, conte trezentas histórias interessantes e voltemos para casa, porque é hora do almoço…

Em suma: nem como antes, nem com o tipo de mudança que se pede. Nem pela tradição dos anciões, nem pelo modismo do “viva sem criticar”. Os problemas existem porque a Bíblia está empoeirada e nós queremos diversão ou resgatar “a igreja da infância”. A solução? Como disse o profeta, no contexto da infidelidade do reino do norte, “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor.” (Os 6:3).

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sexta-feira, 7 de março de 2014

UMA BREVE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DA VERDADE


A Verdade não é apenas impopular, como responsável pelos maiores conflitos na Terra e no Céu. Não é de estranhar que os melhores subterfúgios e as desculpas mais escorregadias sejam empregados para atenuar suas exigências. Amar a Verdade deveria ser a prioridade de todo cristão. Na prática, achamos mais útil exaltar tradições, gostos e opiniões, devidamente arquivadas sobre o rótulo de “eu acho que”, sob a proteção de “não me julgue”.
A Verdade levou um terço dos santos às cadeias e torturas, outro terço à perseguição e desmercimento e o último ao martírio e esquecimento. Por séculos, a disputa pela Verdade mobilizou as mentes mais inteligentes e os cidadãos mais nobres. Muitos viam o dever, e resistiam, pensado em sua posição social. Quantas conquistas humanas teriam de ser olvidadas? Quantos aplausos relegados ao ostracismo? A Verdade cobrou tributo dos corações sensíveis e corajosos, dos intelectos penetrantes e sinceros, dos homens práticos e habilidosos.
De repente, a Verdade sumiu da vista. Era o artigo em falta. A mercadoria que demandava uma busca minuciosa. Poucos podiam ler suas reivindicações encerradas na língua de Cícero. Todavia, os mosteiros não puderam conter sua luz. Ela irrompeu as trevas e foi levada ao povo, na pena de homens que ainda balbuciavam em seu caminho. Da luz, conheciam o mais tênue facho. E com isso foram capazes de reconstruir a História.
A Verdade continuou a ser embaralhada nas mãos daquele que lutava contra ela. Concílios, bulas, tribunais e ameaças ergueram-se com fúria. Depois, o interesse geral diminui, as pessoas se apegaram ao que conheciam – partes da Verdade, distorcidas como reflexos em um espelho quebrado. Deus planejou o tempo da restauração.
Um fazendeiro que a Guerra fez ver o cuidado divino estudou as profecias – a Verdade insinuava seu retorno. Foram décadas de esforços, pregações, desapontamentos, oração e estudo dedicado. A Verdade voltava ao palco livre da lama dos costumes. Contudo, havia um longo (e estreito) caminho a ser desbravado.
E novamente, a confusão e embaralhamento. As costas de muitos se virando à Verdade que os pode salvar. Ainda controvérsias e disputas. E o descrédito lançado às descobertas daqueles que amavam a Verdade por seus descentes céticos e afetados pela cultura (outra inimiga antiga da Verdade).
Nada disso conteve o poder germinador da verdade, por que ela jamais foi uma teoria morta, mas está associada ao Deus Vivo. Ele é o Deus da Verdade, que a fará triunfar junto com aqueles que se apegam a ela. Deixe que digam que são preconceituosos, mesquinhos, estreitos, fanáticos, irrazoáveis, antiquados – nada mudará o desejo humilde e servidão completa deles à Verdade. Para eles, ela importa mais do que julgamentos de um mundo passageiro.
Onde estão aqueles que sofrerão pela verdade? Que defenderão a doutrina correta? Aonde se clama pelo batismo diário do Espírito com humildade e confissão de pecados? Em que casa vivem os homens e mulheres fiéis ao dever como a bússola o é ao polo? Em que ponto da cidade podemos achar essas pessoas que fazem parte do remanescente de Deus e realmente se preparam para ser a igreja triunfante? Eles estão entre nós, são pessoas reais, com fraquezas e pecados, que choram, lutam e enfrentam seus problemas. E o que os anima? O amor pela Verdade. E isso basta.
A Verdade não pertence a eles (nem poderia, porque ela é autônoma e soberana). Mas em certo sentido é deles, por que Jesus, a Verdade, Se entregou por eles e lhes confiou a Verdade. Eles, por seu turno, pertence à Verdade. Cada dia mais. Sem medo do que ocorrerá. São livres. Possuem esperança. Nada os impedirá, porque o Reino lhes será entregue – o reino da Verdade.