sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
terça-feira, 21 de novembro de 2017
PROMOÇÃO DE LIVROS
Verdade absoluta (Nancy Pearcey, CPAD), em bom estado, mais Restauração do papel da revelação (Douglas Reis et al., IAP), por apenas R$ 42,90!
Atenção: oferta única - assim que for adquirido, o link para compras será retirado.
domingo, 23 de julho de 2017
O LAR CRISTÃO E OS MODELOS DIVERGENTES
Os desafios conjugais se refletem na vida espiritual
do casal e de seus futuros filhos. Por vezes, boas intenções e mesmo princípios
cristãos não são suficientes para contornar as crises, porque muitos sequer estão
maduros para admitir a possibilidade de que elas surjam. E elas surgirão,
inevitavelmente.
A cultura popular dá uma ênfase exagerada ao
namoro, destacando-o como época da paixão. Os filmes relatam relacionamentos
casuais, crises e a resolução por meios de discursos espontâneos e românticos. Na
vida concreta, namoros são oportunidades para conhecimento mútuo. E as crises
(sempre no plural, é preciso frisar) não são atenuadas por palavras
sentimentais.
É preciso reconhecer que todo o amor do mundo
não fará duas pessoas concordarem em absolutamente todos os assuntos. Em uma
classe de escola sabatina, ouvi um participante opinar de forma que me
intrigou. A pergunta proposta pelo moderador da discussão era: “dentro de um
casamento, marido e mulher sempre pensarão do mesmo modo?” O rapaz respondeu
que se ambos tivessem o Espírito Santo seriam concordes em todos os assuntos. Não
me contive e cochichei com o professor: “tenho certeza de que ele é solteiro!”
A unidade no casamento não é sinônimo de
uniformidade. Somente existirá uniformidade em uma relação quando uma parte se
anula perante a outra, o que, obviamente, não constitui um modelo saudável de
matrimônio. Lidar com os conflitos no casamento implica no reconhecimento de
que duas pessoas possuem bagagens diferentes.
Por bagagens me refiro à criação, educação e
experiências de vida, que junto com o temperamento, influenciam o modelo de
pensamento de alguém. Uma simples discussão sobre quem deve realizar as compras
do mês ou a maneira de se temperar o feijão é suficiente para revelar
substratos culturais, valores e modelos estabelecidos. Uma discussão dessa
natureza, em geral, esconde abaixo da superfície os seus reais motivos. Gasta-se
esforço e argumentação discutindo de quem é a responsabilidade pela limpeza da
casa sem discutir os modelos pré-estabelecidos. Marido e mulher ganhariam se
conversassem sobre o que aprenderam de seus pais, explicando cada qual ao
parceiro o porquê de pensar como pensa.
Quando se reconhece que, para além dos
modelos vistos nos pais ou simplesmente idealizado, existem outros modelos, é
possível reconhecer que há outras maneiras de se fazer as coisas. Cobra-se
menos, porque se passa a entender melhor o outro. As cobranças surgem quando um
cônjuge quer encaixar o outro no padrão que possui, sem levar em conta que seus
padrões não os únicos que existem.
Relações maduras são aquelas em que os
cônjuges repensam juntos os modelos herdados e os reconstroem com o tempo,
ajustam-se por meio do diálogo. Se as crises não somem totalmente nesse
processo, ao menos elas se tornam menos frequentes e menos graves. E isso dá
espaço para que o casamento se torne o ambiente ideal para cultivar o
ingrediente que os filmes restringem (erroneamente) ao período do namoro: o
amor. Quando o amor frutifica, a vida espiritual agradece.
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quinta-feira, 20 de julho de 2017
A IGREJA DEVERIA MUDAR PARA ATRAIR OS JOVENS?
Em
seu e-book, Present Truth revisited, Reinder Bruinsma, administrador jubilado,
teólogo e escritor adventista reivindica mudanças. Em geral, a tendência é que
os europeus tenham uma visão mais liberal do cristianismo. Bruinsma se destaca
por se preocupar com o papel do movimento adventista no mundo contemporâneo.
Sua tese de doutorado – Seventh-day
Adventist Attitudes Toward Roman Catholicism, 1844-1965 – já tinha certas
doses de revisionismo e polêmica. Não foi muito diferente com seu livro The Body of Christ: A Biblical Understanding
of the Church, que, entre outras coisas, defendia a controversa ordenação
de mulheres ao ministério. Ele mesmo admite no prefácio de Present Truth que editoras adventistas recusaram-se a publicar o
material e lamenta que a denominação esteja hoje mais preocupada em manter a
identidade do que adaptar aos novos tempos.
Que
tipo de adaptação seria necessária? E por quê? Bruisnma trata, de maneira
intencionalmente não-técnica, do advento da pós-modernidade. Sua apresentação é
concisa e didática. Todavia, à semelhança de muitos teólogos e
administradortes, o autor sugere que o zeigeist
pós-moderno seja uma mudança cultural quase moralmente neutra, apenas uma
outra mentalidade. Assim, as novas gerações são o que são e a igreja adventista
necessita ser o tipo de igreja que atinja essa mentalidade.
O
perigo com esse tipo de raciocínio é a subversão da ordem das coisas: por
melhores que sejam as intenções (e não duvido sequer por um segundo das
intenções de Bruinsma e seus pares), o movimento adventista não foi chamado
para se adaptar a cada nova geração. A tática de se adaptar à cultura, de se
misturar com outras tradições como meio de exercer influência soa como prática
católica – os jesuítas são mestres na arte de parecer o que não são para
conquistar território. Colocar a cultura como referência ao invés das Escrituras
é sempre uma estratégia perigosa, porque desloca o verdadeiro fundamento da
igreja de seu lugar.
Além
disso, sendo a cultura pós-moderna fluida, alheia a rótulos, em constante
mutação e multiforme, seria um contrassenso estabelecer um modelo de igreja
pós-moderna, simplesmente porque não existe um modelo de pessoas pós-modernas! Dizer
“os pós-modernos pensam assim” ou “os pós-modernos gostam de tal coisa” é
desconhecer que na pós-modernidade a regra do jogo é “não há regras fixas”. Logo,
uma igreja para pós-modernos teria de ser mutável e adaptar-se constantemente. Ora,
o processo de adaptação do pensamento cristão à sociedade não-cristã (que, em
suma, me parece o que Bruinsma e tantos outros propõem irrefletidamente)
chama-se secularização.
Uma
igreja secularizada pode ser até um sucesso em atrair pessoas (há denominações
que crescem espantosamente, muito além do que os adventistas vêm crescendo);
entretanto, falhará em formar, instruir e manter em sua comunhão cristãos com
uma experiência espiritual impulsionada pelo Espírito e pelas Escrituras. Geralmente,
igrejas secularizadas são como bolhas: inflam assustadoramente, estouram
repentinamente.
A
igreja deveria mudar para atrair os jovens? Ou os pós-modernos? Ou os ricos? Ou
qualquer etnia, tribo urbana ou grupo humano? Sim, a igreja deve mudar! Deve ser
mais bíblica, mais espiritual, mais cheia do Espírito, mais semelhante a Jesus.
Se mudar da maneira certa, atrairá mais pessoas. Cumprirá a obra com poder e do
modo como Deus intenciona.
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quarta-feira, 14 de junho de 2017
O POLITICAMENTE INCORRETO JESUS
A
crítica de cinema Isabela Boscov, ao tratar do filme Z – a cidade proibida, reagiu contra a caracterização de sua
personagem principal. O explorador Percy Fawcett, que, na vida real, procurou
pela lendária El Dorado, estaria retratado na trama muito diferente da pessoa
que realmente foi. Nas palavras de Boscov: “É uma representação politicamente
correta do personagem real, agudamente preocupada com os ditames do que hoje se
considera ser de bom tom.”
Se
isso é um fator de frustração em um filme, imagine quando a personagem
histórica é Jesus, alguém cuja importância e papel na construção do Ocidente
transcende não só a figura de Fawcett, como a de qualquer outra personalidade.
No dizer do historiador George Knight, o Jesus dos cristãos contemporâneos
aparece como um cavalheiro do século XXI, em uma tentativa politicamente
correta de reconstruí-lo à imagem e semelhança da cultura pós-moderna.
Há
muito o fundador do cristianismo é tratado como um símbolo vazio (tomando a
expressão de Schaffer), encarnando os valores de cada época. Atualmente, Ele é
associado às minorias, como seu defensor, uma espécie de Robin Hood ou Che
Guevara da Palestina. Jesus é associado à aceitação irrestrita, alguém incapaz
de fazer julgamentos, sensível e totalmente aberto a outros.
Como
na fábula dos cegos que tateiam o elefante, é fácil que a miopia de perspectivas
culturalmente condicionadas enxerguem somente os traços da personalidade de Cristo
que lhe sejam convenientes. Todavia, uma representação apropriada de quem Jesus
foi de fato não pode negligenciar a principal fonte de testemunhos oculares
sobre ele: os evangelhos.
Uma
simples análise do Jesus retratado nos evangelhos mostra o quão firme Ele era
em suas convicções, a ponto de não se preocupar em perder simpatizantes em nome
de uma mensagem impopular (Mt 15:12-14; Lc 4:24-30; 8:19-21; 18:22-29; Jo 6:60-64).
Jesus podia sentir ira, verdadeira indignação diante de injustiças (Mc 3:5,
onde ocorre a palavra ὀργῆς,
geralmente usada para se referir à ira de Deus, em contexto de julgamento; cf.:
Rm 2:5; 9:22; 1 Ts 1:10; Ap 6:16-17; 14:10; 16:19; 19:15). Jesus não se omitia
diante de injustiças, não tolerava o erro ou aceitava visões religiosas que
induzissem à uma concepção incorreta sobre Deus (Mt 15:3-9; Jo 2:13-17; 3:10). Ele
pronunciou julgamentos severos (Mt 12:21-24, 36-37, 40-42; 23:34-36). É comum que
Jesus usasse linguagem forte para denunciar a hipocrisia religiosa de seus dias
(Mt 12:33-35, 39; 23:13-27; Jo 8:38-44).
Definitivamente,
a personalidade de Jesus possuía traços controversos. Ele conseguia viver de
forma autêntica, mas sem aquela autenticidade autoproclamada de quem deseja
apenas chocar as pessoas. Ele agia com um senso de justiça que desafiava
convenções sociais. Não temia levantar a voz contra o erro, embora isso o
tornasse impopular em alguns ciclos. Era firme e proferia discursos enérgicos,
exigentes – os séculos de distância e as mudanças culturais obliteram muito da
ironia, sagacidade e provocação das parábolas de Jesus. Além disso, a
familiaridade com o texto bíblico impede mesmo a muitos cristãos atuais de
perceberem a condenação e exclusivismo próprios do Mestre em mensagens como a
que se acha em João 14:6.
Nenhum
desses traços enfraquece a bondade de Jesus, mas a complementam, impedindo que
sua mensagem de amor seja alvo de uma releitura que o transforme em uma espécie
de hippie ou pregador ingênuo. Nele
aparece um tipo de amor sem conivência, uma misericórdia que funciona em
conexão com o julgamento, nunca à parte ou contra ele. Jesus não era
politicamente correto. Isso não o torna um sujeito boçal, mal-humorado ou um
político da ultra-direita. Avaliado com justiça, Ele não pode ser usado
apropriadamente como símbolo de nenhuma ideologia atual – e, me arrisco a
dizer, em muitas situações, pouca compatibilidade há entre Jesus e a postura de
muitos de seus professos seguidores, moldados mais pela cultura consumista e
entretenimento midiático do que pelo seu suposto compromisso religioso. O Jesus
bíblico representa um lado: o lado dele, o lado da verdade (Jo 8:32, 36). Como é
mais fácil trazê-lo violentamente para o nosso lado do que nos submeter pacificamente ao lado dele!…
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quinta-feira, 1 de junho de 2017
AS VEZES
DES FOIS
Encontro em Jesus sempre uma expressão de afeto
Não limitada ao meu momento mais tranqüilo,
Quando a fé dobra a dúvida; há, quando vacilo,
A mesma aceitação como quando sou reto.
Meu Deus cumpriu na cruz o primordial decreto
De estender a mão para o pária. O amparo, o asilo
Recende a vaporoso hortelã. Descobri-lo
É ter presente no redil líder concreto.
Minha entrega de amor, morte temida do erro,
É flor de submissão deixando o chão do enterro,
É grão que morre para aparecer o trigo.
As vezes em que por avidez de glória ouço
Desbotado argumento e volto ao calabouço,
Nem por isto Jesus recolhe a mão de amigo.
1ª São José do Rio Preto
(SP), 18 de Julho de 2002, às 10:35h.
2ª Guarulhos, 22 de
Outubro de 2004, às 24:40h.
Últimas alterações: Guarulhos, 3 de
Novembro de 2004.
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segunda-feira, 15 de maio de 2017
REPORTAGEM SOBRE DESING INTELIGENTE NA RECORD
Nota: a reportagem é instrutiva e muita
útil. Mas a parte da ligação entre informações genéticas e o nome de Deus me
pareceu um pouco forçada e mais dependente da numerologia hebraica do que da
própria revelação bíblica. Quanto à declaração final do Dr. Eberling, vale
lembrar que “especular sobre a revelação científica” é o que toda a ciência
sempre fez, independente do viés filosófico ao qual se adere.
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sexta-feira, 5 de maio de 2017
O OLHAR DO CÉU
Sendo a
insolência de um rei abusiva,
Um Deus
Insone aciona o seu profeta:
Parte o
homem de Ramá. Nas mãos, a meta
De tocar
o hálito que o Céu motiva.
A
compleição de Eliabe, orvalho em gotas!
Deus
quer o odor de ovelhas junto às mãos,
E há
perfumes demais nos sete irmãos
– Qual
filho de Jessé traz vestes rotas?
Em
criança, ouvira Deus sem discernir;
Falta-lhe
outra vez discernimento.
Samuel
vê reis à mesa. Deus, Atento,
Não tem
entre eles a quem possa ungir.
Do campo
um salmo se ouve: e bem ali
Deus
pousa o olhar e a alma – Ele quer Davi.
São
Paulo, 30 de Setembro de 2005, às 11:10h.
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segunda-feira, 1 de maio de 2017
JOSÉ E A TENTAÇÃO
José, vendido pelos irmãos, é adquirido por Potifar
“oficial de Faraó e capitão da guarda” (Gn 39:1). Provavelmente, a intenção era
que José desempenhasse funções domésticas. Apesar da condição cruel, por duas
vezes é afirmado que o Senhor estava com José (Gn 39:2, 3). Como resultado, o
jovem hebreu obteve a simpatia de Potifar (Gn 39:4), que reconheceu as
habilidades do novo serviçal. Assim, José recebe a incumbência de administrar
(Gn 39:4). Na sequência, outra característica de José é
enfatizada: sua beleza física (Gn 39:6). Outros homens nas Escrituras são
igualmente louvados por seus atributos estéticos, como Saul, Davi e Absalão. No
relato sobre José, esse elemento serve para introduzir uma mudança de foco: é a
beleza de José que desperta a atenção da esposa de Potifar. Como consequência,
José foi tentado em pelo menos três diferentes formas.
Em primeiro lugar, José sofreu a tentação de forma
direta e pontual. “‘Venha, deite-se comigo!’” (Gn 39:7), disse a mulher sem
muita sutileza. A seguir, a situação passou a se repetir. O convite ousado
agora ressoava pelo cotidiano (Gn 39:10). Por último, surgiu a tentação se
apresentou de modo extraordinário:
Um dia ele entrou na casa para fazer suas tarefas,
e nenhum dos empregados ali se encontrava. Ela o agarrou pelo manto e voltou a
convidá-lo: "Vamos, deite-se comigo! " Mas ele fugiu da casa,
deixando o manto na mão dela. (Gn 39: 11-12).
A trama dos acontecimentos colocou José diante de
um problema capaz de vencer a vontade dos mais extraordinários homens.
Comumente, vemos políticos renunciando a cargos devido a escândalos
extraconjugais. Recentemente, um ator famoso teve afastamento decretado por uma
emissora de televisão após ser acusado de assédio. Jogadores de futebol são
constantemente forçados a realizar exames de paternidade ou envoltos em
divórcios milionários. A maioria dos homens enfrenta grandes dificuldades em
lidar com tentações sexuais. Quando se examina a história de José, além dos
tipos de tentação que ele sofreu, pode se verificar sua reação a elas, o que é
extremamente útil para os cristãos da atualidade. Se José foi capaz de vencer a
tentação mais apelativa e insistente, a vitória se acha à disposição para
aqueles que seguirem seu exemplo.
Quando a tentação veio de modo direto e pontual,
José respondeu afirmando audivelmente seus princípios:
Mas ele se recusou e lhe disse: "Meu senhor
não se preocupa com coisa alguma de sua casa, e tudo o que tem deixou aos meus
cuidados. Ninguém desta casa está acima de mim. Ele nada me negou, a não ser a
senhora, porque é a mulher dele. Como poderia eu, então, cometer algo tão
perverso e pecar contra Deus?" (Gn 39:8-9)
O texto apresenta que José era fiel em seu serviço
porque ele sabia a quem prestava contas. Momentaneamente, ele servia a Potifar.
Mas sua lealdade última era voltada a Deus, a quem era responsável por todo seu
procedimento. Justamente o senso de estar na presença divina motivava José a um
procedimento reto. A vida cotidiana, com suas demandas instantâneas veiculadas
à conexão virtual, rouba o tempo para quase todo tipo de introspecção, reflexão
e meditação na Palavra de Deus. A prática da oração, confiança no poder
invisível, fica obliterada pelos atrativos exteriores. Entretanto, é o cultivo
da presença do Senhor – pelo exercício diário da oração, do estudo fervoroso
das Escrituras, pela decisão de permitir ao Espírito que influencie a mente a
obedecer e prática consciente das verdades reveladas (pelo poder de Deus em sua
vida) – que torna um cristão disposto a abdicar de prazeres para manter seus
princípios.
Quando a tentação se tornou cotidiana, frequente,
José estava preparado para enfrenta-la. Ele sabiamente evitava o objeto de sua
tentação (Gn 39:10). Isso caracteriza a prudência que acompanha a quem teme a
Deus. José não insistiu em seus argumentos e, se o tivesse feito, por certo
teria tido pouco resultado. O tempo de argumentos já passara: era a hora de
afugentamento.
Finalmente, José se viu em uma cilada: a tentação
lhe sobreveio de modo extraordinário. Toda uma cena foi elaborada para que ele
e sua senhora estivessem sós. Ninguém os veria. E, seguindo seu perfil, a
esposa de Potifar tomou a iniciativa, agarrando seu manto (Gn 39:12). José
certamente não poderia recorrer às estratégias já usadas: ele não poderia
simplesmente evitar a mulher ou ignorar sua presença e provavelmente seria
totalmente despido antes de terminar qualquer discurso! Mas o filho de Jacó
tinha outro recurso: ele tomou a decisão radical de se afastar da tentação. Ele
literalmente fugiu, deixando nas mãos de uma mulher furiosa o seu manto. Uma
decisão corajosa, a qual lhe cobrou um alto preço.
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sexta-feira, 28 de abril de 2017
GRATA PELOS ANJOS
Por Noribel Reis
“Porque a Seus
anjos Ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus
caminhos”. Salmo 91:11.
Aquele era o momento mais emocionante e
pleno de toda a minha vida. Estava com minha filha em meus braços. Eu havia
acabado de recebê-la, após 15 horas de trabalho de parto. Deus havia me
concedido um lindo parto e esse momento era inexplicável. Estar com ela em meus
braços, sentido seu aconchego em meu peito, enquanto mamava, era a mais pura
emoção.
Em meio a muitos sentimentos que inundavam
minha mente, tive uma impressão marcante. Não sei precisar quanto tempo após o
parto. Mas, uma certeza inundou meu coração: Deus havia enviado um anjo para
guardar minha filha do mal. Lembrei-me da promessa - "O anjo do Senhor
acampa-se ao redor dos que O temem, e os livra." Sl 34:7
Sim! Eu creio nos anjos e nas suas ações
para nos guardar e proteger. Tenho um apreço muito grande por histórias de
pessoas que são salvas por anjos. Agora, sentir que minha filha tinha um anjo
enviado do céu para protegê-la foi algo incrível.
A Bíblia dá algumas informações sobre os
anjos. Ela fala que aqueles que servem a Deus, amam a Jesus e guardam seus
mandamentos possuem proteção especial.
Em Mateus 18:10 temos um texto específico dito
pelo próprio Salvador sobre os anjos e os que creem no Senhor: “Cuidado para
não desprezarem um só destes pequeninos! Pois eu lhes digo que os anjos deles
nos céus estão sempre vendo a face de meu Pai celeste”.
Os anjos são enviados para protegem os
justos do poder maligno. Essa proteção acontece nos lares cristãos, na vida
familiar; ao saírem de casa e pedirem a proteção de Deus; ao tomarem decisões
importantes e estarem em contato com outras pessoas. Veja o que diz no texto de
Parábolas de Jesus, p. 341-342: “Quando inconscientemente estivermos em perigo
de exercer influência má, os anjos estarão ao nosso lado, orientando-nos para
um melhor procedimento, escolhendo-nos as palavras, e influenciando-nos as
ações.” Mesmo quando não estamos vendo, os anjos de Deus estão nos protegendo e
nos guardando.
“Os anjos de Deus, milhares de milhares, [...]
nos guardam do mal, e repelem os poderes das trevas que nos estão procurando
destruir. Não temos nós motivos de ser a todo momento agradecidos, mesmo quando
existem aparentes dificuldades em nosso caminho?” (A Ciência do Bom Viver, p.
253-254)
Você já agradeceu a Deus por tanto cuidado
e amor? Lembre-se que em nossa vida sempre haverá dificuldades, pois vivemos em
um mundo de pecados; porém, Deus enviará anjos para estarem ao seu lado,
ajudando-a a passar por todas as provações.
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terça-feira, 25 de abril de 2017
DESCOBRINDO O QUE IMPORTA (QUANDO HÁ TANTA FUTILIDADE ONLINE)
A
cultura pop, expandida a partir do
advento dos meios de comunicação em massa, surgiu com a função básica de
entreter, seguindo algumas premissas comerciais. O foco dessa cultura é
claramente o público mais jovem, havendo uma supervalorização da adolescência. É
comum que se diga que enquanto o cinema europeu trata seu expectador como
adulto, o americano se dirija a adolescentes. A observação vale para músicas,
quadrinhos, entre outros produtos da cultura pop.
Essa
infantilização é vista por diversas características: a ênfase na espontaneidade
(observe que todo julgamento em um tribunal nos blockbusters são interrompidos de alguma forma); o rompimento com
convenções sociais (Hollywood é a
terra das noivas que desistem do casamento praticamente diante do altar para
correr para os braços do amor verdadeiro); quebra de convenções sociais (sempre
há uma personagem que obedece às regras e aprende a se “soltar”); isso além de diálogos
rasos, roteiros ilógicos e ações inconsequentes.
Os
conceitos da cultura pop influenciaram
valores sociais ao longo de décadas, diluindo a herança protestante – do trabalho
duro, da economia quase estoica, do propósito maior da vida consistir em servir
a Deus, etc –, legado comum tanto aos Estados Unidos, quanto aos diversos
países europeus. O ethos
contemporâneo reflete muito mais características do hedonismo do que a
mentalidade dos pais pioneiros.
Zygmunt
Bauman sempre apontou a insegurança, volatilidade e infantilismo do capitalismo
ocidental. A sociedade de consumo muitas vezes se parece com um passeio que as
crianças de uma creche fizessem à seção de brinquedos de uma loja de departamentos.
Claro
que quando se pensa na Web 2.0, a segunda fase da virtualização que se
caracteriza pelo advento das mídias sociais, a mesma superficialidade,
vulgaridade, boataria, humor raso e mensagens pseudo-espirituais marca forte
presença. Seria injusto dizer que todo material compartilhado entraria nessas
características, mas é inegável que isso se aplica à grande maioria do que se
vê. Há muito que poderia ser dito sobre a depressão associada ao Facebook ou à ansiedade gerada pelos
comunicadores instantâneos. Especialmente a pesquisa de Nicholas Carr é digna
de nota, por revelar como o uso excessivo da internet desfavorece o aprofundamento intelectual necessário para a
leitura de um livro, por exemplo.
Nessa
época de superficialidade, cristãos podem tomar algumas atitudes para evitar de
se tornarem igualmente superficiais:
(a) Estudar a Bíblia:
o estudo exaustivo da Palavra, além de representar um poderoso tonificar
espiritual, contribui para uma percepção acurada da realidade, provendo uma
moldura para interpretar os acontecimentos. Essa estrutura é o tema do embate
cósmico entre Cristo e Satanás. A Bíblia ainda fortalece o intelecto, ao exigir
que a mente humana sistematize as informações que ela fornece de forma
propositadamente esparsa;
(b) Ler livros cristãos profundos: tanto alguns clássicos cristãos, quanto livros que
realizam estudos de temas bíblicos de forma séria são importantes para a
formação espiritual e para conhecer melhor diversos aspectos e implicações da
própria fé cristã. Evidentemente, há muito material descartável publicado por
editoras cristãs e isso precisa ser evitado;
(c) Cultivar hábitos saudáveis: a mensagem cristã pressupõe uma antropologia
holística, admitindo que o homem não possui uma alma separada do corpo, como
ensina a filosofia grega. Por isso, cuidado com a saúde faz parte de uma vida
cristã equilibrada. Considerações sobre hábitos alimentares, separar tempo para
exercícios físicos, tomar a quantidade ideal de água, dormir de forma adequada,
entre outros tópicos igualmente fundamentais, são ações que evitam que a vida seja
gasta de forma passiva, sedentária e vitimada pelo apego excessivo às mídias
(como as famosas “maratonas de séries”, para ficar com um exemplo);
(d) Interagir com pessoas reais: a ficção domina muitas mídias e até nas redes
sociais pode-se criar uma existência fictícia; falta encarar a vida como ele é,
cheia de perdas e dores, marcada pelos fracassos e sonhos. Sobretudo, falta uma
perspectiva de realismo bíblico – que consiste em enxergar a vida não como um
parque de diversão, mas um campo da batalha espiritual, no qual somos chamados
a atuar como agentes do Reino do Senhor Jesus Cristo;
(e) Cultivar a experiência espiritual comunitária: aprofundamento de pessoas, desenvolvimento de
talentos e crescimento espiritual são elementos que interagem entre si dentro
da comunidade da fé. Daí a importância da frequência e participação em uma
congregação local. Firmar-se na fé e no ensino também são outros dos benefícios
providos por essa experiência coletiva.
Seria
muito bom que os cristãos se destacassem como pessoas equilibradas, bondosas,
inteligentes e diferenciadas em um mundo quase que completamente submerso na
superficialidade…
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sexta-feira, 21 de abril de 2017
A CRISE DA RELIGIÃO NA ERA DA INFORMAÇÃO INSTANTÂNEA
Se
é verdade que as mudanças trazidas pela liquidez dessa época afetam a questão
da identidade individual, não é menos verdadeiro dizer que grupos religiosos
sofrem com a perda de identidade. Como se adaptar a uma sociedade diversificada
e em constante mudança? Como oferecer um contrapondo sólido, quando aquilo que
é sólido soa como resquício da modernidade? Como alimentar convicções
tradicionais entre os adeptos de uma comunidade, quando o mundo virtual os
reloca para um oceano de outras convicções, de outras comunidades?
O
cristianismo certamente viveu diversos períodos de adaptação, como lembra o
teólogo Stanley Grenz, autor de diversas obras sobre a necessidade de se
adaptar à presente época. Obviamente, não seria justo afirmar que todas as
mudanças pelas quais o cristianismo passou foram no mesmo nível. Ou que foram
realmente necessárias ou benéficas.
Muitas
igrejas, endossando o cristianismo liberal das primeiras décadas do século XX,
passaram simplesmente a atuar como agências humanitárias. A igreja alemã, por
volta da segunda guerra, foi incorporada pelo partido nazista, dando origem a
uma simbiose descaradamente pouco cristã em seu produto final. Nesse aspecto,
vale lembrar que, se o assunto é viver o cristianismo, a melhor resposta se
encontra no exemplo dos anabatistas. A princípio surgidos de um pequeno grupo
de estudos da Bíblia, incentivado e liderado por Ulrich Zwínglio, aqueles que
viriam a ser chamados de anabatistas não tardaram em romper com o reformador. Achavam
que Zwínglio não estava disposto a reformar o suficiente a igreja. Aliás, nem
ele ou Lutero, ou mesmo Calvino estavam, pois mantiveram muitos dos paradigmas
da escolástica medieval. Os anabatistas, não. Ambicionavam reformar tudo à luz
das Escrituras. Viver o cristianismo consistia em refletir a vontade de Deus em
todos os aspectos, conforme a Palavra expressava.
Em
um mundo acelerado, com mídias de alcance global, que possibilitam a milhões
expressarem suas opiniões em canais de grande alcance, sem a mediação de
conglomerados de comunicação, muitas vozes disputam um lugar ao sol. A saturação
da informação chega a intoxicar! O que se tornou um verdadeiro banquete para o
pluralismo religioso, também trouxe a necessidade de diluir a religião, de apresenta-la
em uma moldura não agressiva. Alguém comentava de uma declaração feita por
alunos de determinada universidade cristã, na qual constava a luta pelo direito
de todos, inclusive de casais homossexuais.
Novas
propostas surgem para renovar o conceito de igreja, como a igreja líquida –
constituída de grupos afins que se reuniriam esporadicamente e, em certas
ocasiões, haveria a reuniam desses diversos grupos. Eis um dentre muitos
exemplos de como cristãos sentem a necessidade de se adaptar à pós-modernidade,
de reinventar a roda. Não se pode jogar a água da banheira com o bebê;
certamente, há boas contribuições que merecem ser analisadas. Entretanto,
quanto dessas novas propostas partem da Bíblia, não da experiência ou
necessidade? Mais do que reinventar a roda, é hora de fazê-la girar, porque
para isso ela serve; a igreja foi concebida por Deus para ser igreja, com uma
função específica no mundo. A igreja viva é a que se apoia no fundamento
redescoberto pelos anabatistas. Fora disso, o cristianismo se colocaria em uma
posição delicada e pouco confortável: fazer girar um quadrilátero.
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segunda-feira, 17 de abril de 2017
A ACELERAÇÃO DO COTIDIANO
O cotidiano é muito mais do que a
rotina estabelecida, o número de atividades que cabe em um dia: trata-se,
principalmente, de como se percebe o tempo. A vida cotidiana na contemporaneidade
é marcada pela dispersão. Dispersão de propósitos, em meio a tantas opções de
modelos de vocação; dispersão de identidade, em meio à possibilidade de se
reconfigurar e assumir diversos papéis; dispersão do próprio tempo, com a
valorização engajante do momento presente – a vida, entendida como um processo,
uma série de etapas, fica reduzida ao momento presente, ao agora. Isso é o que
importa.
Em contrapartida, pela ótica bíblica, até as atividades cotidianas fazem parte da providência divina (Ec
3:12-13), porque cada atividade humana encontra, na forma ilustrativa do sábio
dizer, um tempo determinado (Ec 3:1-8). Todas as atividades elencadas são
realizadas dentro do tempo; aliás, são mencionados recortes, momentos da
existência humana, os quais são vislumbrados da perspectiva finita – deve-se notar a
expressão “debaixo do céu”, um marcador usado no livro de Eclesiastes quando se fala do ponto
de vista secular, para formar um contraste com a vontade de Deus, geralmente
apresentada em seguida.
As atividades humanas são logo
confrontadas com as atividades divinas, insondáveis e misteriosas (Ec
3:11), eternas e perfeitas (Ec 3:14). Em Eclesiastes, embora a vida pareça
cíclica (Ec 1:4-11; 2:12; 3:15), ou, ao menos, aborrecidamente repetitiva, é preciso dizer que o foco do livro não é a apresentação de uma filosofia da história. O
que se pretende é discutir o propósito da vida (Ec 1:3, 14; 2:11; 12:1-7); a
solução final do livro constitui um retorno à sabedoria bíblica (Ec 2:26; 7:12,
19; 8:1; 9:18; 10:10) – portanto, o que se vê em Eclesiastes é um modo não convencional
de apresentar o ensino tradicional. A sabedoria ganha expressão no fim do livro
diante do horizonte desenhado por Deus – preparar-se para o julgamento divino
por meio de uma vida de obediência (Ec 12:13-14). Diante de realidades
inexoráveis como a morte (Ec 12:1-7) e o julgamento, nada melhor do que uma
vida sábia e comprometida com os mandamentos.
No Novo Testamento, Jesus também
trata da adoção da perspectiva correta para o cotidiano. Se a vida gravitar
essencialmente na aquisição de roupas ou provisão de alimentos (Mt 6:25), isso
não seria evidência de que o dinheiro ocupa o lugar de Deus (Mt 6:24)? Os dois
versos são ligados pela preposição grega Διὰ, que, entre vários
significados, pode ser traduzida como “através de”, “devido a”, “de outra feita”,
“eficazmente”, “de forma adequada”, “por causa de”, etc. Assim, Mateus 6:25-33
seria uma continuação de Mateus 6:19-24. A impossibilidade de “servir a dois
senhores” (Mt 6:24) seria uma conclusão inicial da atitude de ajuntar riquezas
(Mt 6:19), ecoando na observação de que a vida é mais do que o que se têm (Mt
6:25) e na instrução de tornar o Reino de Deus uma prioridade (Mt 6:33) – o que
implica em escolher servir a um só Senhor de forma integral e comprometida.
A excessiva preocupação em
conseguir as coisas básicas da vida, resumindo o cotidiano ao imediatismo, é
assinalada como maneira de viver pagã (Mt 6:32, ou, literalmente, dos gentios).
Uma vida sem Deus leva a um cotidiano ordinário, sem a devida confiança na
providência. Não é possível reconhecer o cuidado divino sobre os seres mais
simples, o extraordinário sustentando invisivelmente o ordinário; ao contrário, Jesus apresenta o cuidado detalhista de Deus sobre as aves
do céu (Mt 6:26) e os lírios do campo (Mt 6:28-30). Jesus termina Seu
ensinamento afirmando que Seus discípulos não deveriam se preocupar “com o
amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu
próprio mal.” (Mt 6:34). Evidentemente, deve-se ter cuidado para não
interpretar isso como total falta de planejamento ou descaso contra o futuro.
Preocupar-se aqui (greg.: μεριμνάω) significa estar dividido, mostrar-se
distraído ou, diríamos, sem foco. Isso apresenta uma interessante ligação com o
coração divido entre dois senhores (Mt 6:24). As preocupações quanto ao futuro
não podem levar à dependência de recursos próprios, enquanto se olvida o
foco espiritual e se deixa de enxergar a providência divina.
Seja no Antigo ou no Novo Testamento, o cristão encontrará
incentivo para entender que a vida é mais do que o agora. A vida não é usufruto
constante de prazeres imediatos, sem responsabilidade. O que os sentidos humanos
percebem não esgota a existência. As Escrituras conclamam a todos a gastarem
seu tempo com responsabilidade, enquanto confiam na providência e se preparam
para o julgamento. O cotidiano humano não é algo isolado da esfera em que Deus
atua. Ele Se faz presente no tempo e atua em favor de todos, o que é
efetivamente aproveitado por aqueles que reconhecem Seu cuidado e correspondem
com Seus planos.
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sexta-feira, 14 de abril de 2017
A MAIOR NECESSIDADE DE UMA GERAÇÃO CONECTADA
É
comum se referir à necessidade de contextualização da pregação bíblica no contexto do
século XXI. Eu concordo: ao me tornar pai, isso ficou ainda mais claro. A cada
fase, um bebê tem necessidades distintas. Agora, ver minha filha começar a
juntar as mãos para orar ou prestando atenção nas músicas do culto é algo
gratificante. O que se aplica a ela, em certa maneira, diz respeito a cada ser
humano: as necessidades advindas da faixa etária, cultura, educação e classe
social, para mencionar alguns fatores, não podem ser desconsideradas.
Entretanto,
não se pode perder de vista que contextualização implica em uma ponte. Quem constrói
pontes se preocupa com os dois lados da estrutura. As pontes existem para serem
transitadas. Quem está de um lado, precisa atravessar com segurança para o
outro. Há um elo, uma ligação, nesse caso,
entre a mensagem do cristianismo com a situação presente das pessoas. Quando se
aplica isso a missões, sejam em locais estrangeiros ou às missões urbanas –
entre pessoas que possuem um ethos
pós-cristão –, o desafio é maior.
O risco mais desafiador é quando adaptações circunstanciais dão lugar a mudanças mais
profundas, caracterizando identificação total ou parcial com aspectos da
cultura que se oponham francamente ao evangelho. Quando isso acontece, estamos
diante do sincretismo, a mistura da religião bíblica com qualquer outro
elemento, filosofia ou ideologia externos. O catolicismo surgiu justamente
dessa tendência de se adaptar acriticamente ao ambiente cultural, dando origem
a um cristianismo com forte influência da filosofia greco-romano e com traços pagãos evidentes.
No
contexto urbano contemporâneo, adaptar completamente a mensagem do evangelho
implicaria em um tipo de cristianismo secularizado, racionalista, travestido de
cultura pop, existencialista,
ecumênico, marcadamente identificado com uma vocação mais social do que
missionária no sentido bíblico. Aliás, alguns missiólogos expandiram o termo missional (originalmente cunhado para representar o desafio da missão em sociedades pós-cristãs) para se referir à participação social, política e até ecológica dos cristãos,
tornando o uso do termo incompatível com a noção bíblica de missão e
evangelização.
A
contextualização precisa ser norteada por parâmetros bíblicos. É necessário
estudar como o apóstolo Paulo evangelizou o mundo greco-romano, como Daniel
viveu sua fé na Babilônia, como Jonas anunciou sua mensagem, para mencionar
alguns casos. Apenas o cânon bíblico, analisado com seriedade, pode fornecer as
diretrizes para que a contextualização respeite a essência da mensagem bíblica.
Afinal, contextualização não deve cair no pragmatismo teológico…
Ainda
sobre evangelismo urbano, especialmente no que se refere a novas gerações,
talvez o mais prejudicial seja assumir a premissa de que, para alcança-los, devemos
oferecer o que eles já têm. Essa geração midiática, plural, comunitária, que
gosta de engajamento, toma as dores das minorias históricas e vive de
experimentar novas sensações, ao mesmo tempo que se acostumou com objetos e
relacionamentos descartáveis, não precisa de uma igreja que simplesmente
reforce esses valores. Eles precisam de algo que vá além.
Precisam
de uma mensagem que lhes dê solidez em um mundo cada vez mais incerto; precisam
de bases eternas que desafiem e substituam o relativismo com o qual se
acostumaram; precisam recuperar a ideia de um Deus acima da própria cultura,
não nivelado pela mundanidade que perpassa as representações de sagrado em Hollywood. Por incrível que pareça, eles necessitam de
conexão – mas de um tipo específico. Precisam, fundamentalmente, de uma
mensagem que destrua a estrutura viciada do pensamento pós-moderno, e que seja transmitida de forma simples. Fazer isso não exige treinamento ou altos
investimentos em programas e recursos. Falta gente que, com sabedoria e humildade,
tenha experimentado o evangelho a ponto de sentir o desejo de compartilha-lo
com esta geração.
O contato pessoal será decisivo para alcançar as pessoas desse
tempo, porque é disso que mais se sente falta: gente que, verdadeiramente,
amem e vivam a verdade. A conexão com Deus será possível para tantos jovens adultos suburbanos quando conhecerem crentes conectados com a mensagem de um Salvador morto, ressurreto, assunto ao Céu, atuante em Seu santuário e prestes a retornar.
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segunda-feira, 10 de abril de 2017
RELIGIÃO NO CONTEXTO DIGITAL
Os
críticos da religião costumam denunciar sua hierarquia rígida, piramidal, o que
para alguns chega a cair na esfera da manipulação em benefício de quem ocupa o
poder. Todavia, na era digital a religiosidade apresenta uma difusão dessa hierarquia.
Na terra-de-ninguém online, que é o
mundo virtual, as patentes e títulos do mundo off-line nem sempre são reconhecidos. Desse modo, há a emergência
de novos líderes e referenciais para a espiritualidade. Na prática, isso
implica em (a) expressão para grupos minoritários; (b) expressões heterodoxas
de movimentos tradicionais; (c) possibilidade de sincretismo religioso, uma vez
que os participantes de uma determinada fé não são apenas apascentados por seus
líderes religiosos constituídos, mas igualmente abertos aos pastores online.
Existem
tours virtuais em lugares santos e cerimônias
online (assim como cultos). As principais comunidades religiosas dispõem de ao
menos um site para efeito de se
fazerem presente. Isso sem mencionar sites pessoais de líderes religiosos e
canais no youtube. As novas mídias se
tornaram não apenas ferramentas para divulgação, mas também formas para interação
entre adeptos religiosos das mais diversas comunidades. A virtualização
fomentou a globalização da religião. Com isso, perde poder a instituição
religiosa e ganha destaque a espiritualidade, cada vez mais entendida como a
forma do indivíduo experimentar sua fé – às vezes, reciclando o que gosta em
outras crenças e criando algo muito particular.
Sai
o triângulo da hierarquia rígida para dar lugar ao poliedro com seus espelhos
multifacetados de possibilidades infinitas. A religião deixou de ser monolítica
e rígida para ser caleidoscópica, multicolor e disposta a se reinventar. Isso significa
que as tradições são úteis apenas como repositórios que inspirem novos
movimentos e não como moldes que restrinjam a abertura dos novos tempos. Criatividade
e experimentação são elementos cruciais para um movimento religioso atrair
jovens e passar a viralizar.
Inegavelmente,
a fé bíblica segue na contramão. Não que sua preocupação esteja em manter o
tradicionalismo, porque ela propõe uma constante evolução. Contudo, não se
trata de uma perspectiva que siga de modo parelho as revoluções culturais. A cultura
humana é fruto de diversas atividades humanas, que refletem comportamentos,
ações, pensamentos e valores. A cultura é a colheita da semente chamada
cosmovisão. Não se pode esperar que ela seja neutra. Imitá-la sem reconhecer
suas bases e avalia-las pela cosmovisão cristã é como se o trigo resolvesse
imitar o joio!
Se
a fé cristã vive de revolução, isso é resultado de seu próprio plantio. Como os
ramos de uma videira, os cristãos têm de ser podados para dar fruto. Suas perspectivas
precisam ser confrontadas com a vontade divina expressa nas Escrituras. Não estamos
à sombra da cultura secular, nem ela nos serve como espelho ou modelo. Estamos à
margem, buscando outro tipo de experiência, uma interação verticalizada pelo
convívio com o Espírito, sem deixar o relacionamento horizontal com aqueles que
precisam de nossa mensagem.
Em
um contexto dinâmico e sincretista, manter a pureza da fé é mais do que mera
questão de sobrevivência: trata-se de cumprimento de uma missão profética. Se a
fé deve se atualizar, isso não se dá por questão de o mundo ter mudado, mas em
virtude da necessidade de crescer ajustada às Escrituras. Precisamos constantemente
moldar quem somos e o que cremos em função da verdade revelada por Deus. Quer
online, quer off-line, nossa pergunta não deve ser: “o que mundo quer ouvir?”,
mas: “o que Deus quer que falemos?”
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